Grampos ilegais

Jornal britânico imprime última edição no domingo

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7 de julho de 2011, 15h02

A News International anunciou que vai fechar o jornal News of the World. A publicação britânica, que existe já há quase 170 anos, será impressa pela última vez no próximo domingo (10/7). A decisão de acabar com o jornal acontece dias depois de voltarem aos holofotes da mídia mundial acusações de que o tablóide grampeou telefones de políticos, celebridades e familiares das vítimas do ataque terrorista de 2005, em Londres.

O escândalo dos grampos feitos por jornalistas começou em 2006. Esta semana, revelação feita pelo jornal britânico The Guardian gerou revolta no Reino Unido. De acordo com a publicação, um jornalista do News of The World grampeou a caixa postal da menina Milly Dowler, morta em 2002. O jornalista teria descoberto que a caixa postal do celular de Milly estava cheia e resolvido apagar algumas mensagens. A Polícia, que também grampeava o telefone atrás de pistas sobre o paradeiro da garota, concluiu que Milly ainda estava viva. Na verdade, ela já tinha sido morta.

O escândalo também respingou gravemente na Polícia de Londres, a Metropolitan Police Service. Policiais estão sendo acusados de receber dinheiro para colaborar com jornalistas. Nesta quinta-feira (7/7), a comissão independente para reclamações contra a polícia (IPCC na sigla em inglês) anunciou que vai investigar o envolvimento de policiais, a pedido da própria Metropolitan Police Service. De acordo com a lei de prevenção a corrupção britânica, oferecer dinheiro para policias é crime, assim como viola a lei o policial que aceita a oferta.

Ainda nesta quinta, o Conselho da Europa se manifestou sobre o episódio, pedindo que seja aumentado o respeito ao direito à privacidade do cidadão. O secretário-geral do órgão, Thorbjorn Jagland, lembrou que grampo de telefone é crime. "Em tempos de competição na mídia, jornalistas e escritores devem agir responsavelmente, fortalecendo a autorregulamentação da imprensa e respeitando o direito à privacidade”, disse.

Na quarta-feira (6/7), a House of Commons, a Câmara dos Deputados britânica, debateu a possibilidade de abrir inquérito público para apurar as acusações. Os deputados ainda precisam definir os poderes de uma comissão para investigar e quando os trabalhos começariam. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, prometeu apoiar a abertura do inqúerito público, mas afirmou que antes é preciso aguardar a conclusão das investigações pela Polícia.

Fim de uma era

Antes de anunciar o fim do News of the World, o magnata James Murdoch, presidente da News International, lamentou em nota os escândalos envolvendo a publicação e afirmou que seriam tomadas medidas para que os fatos "ïnaceitáveis e deploráveis" não se repetissem. Rebekah Brooks, editora do tabloide na época do caso Milly e hoje CEO da News International, também divulgou uma nota se dizendo chocada com as acusações. Ela contou que havia enviado uma carta aos pais de Milly prometendo apurar vigorosamente o ocorrido e colaborar com a Polícia. Também negou que soubesse ou que tivesse compactuado com os grampos. 

O News of the World foi publicado a primeira vez no Reino Unido na década de 1840. É o jornal com maior circulação da Inglaterra — sua tiragem chega a 2,7 milhões de exemplares. O tabloide é famoso por sempre trazer informações exclusivas sobre casos policiais, políticos e sobre infidelidades de celebridades. É um dos títulos da conglomerado News Corp que, na Inglaterra, também publica o The Times. Nos Estados Unidos, o maior jornal do grupo é o The Wall Street Journal.

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