Imagens de prisões

Autoridades francesas criticam Polícia americana

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1 de julho de 2011, 17h44

Minutos depois que a prisão domiciliar do ex-dirigente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, foi relaxada, porque os próprios promotores encontraram incertezas consideráveis nas acusações da camareira do Sofitel Hotel em Manhattan, as reações internacionais sobre circunstâncias peculiares do sistema judicial americano esquentaram. Um dos costumes mais polêmicos da Polícia americana é o do perp walk — o "desfile do perpetrador" do crime para as câmeras de televisão e dos repórteres fotográficos.

"Não existe presunção de inocência nos Estados Unidos", clamaram indignadas algumas autoridades francesas, como noticiou o Huffpost World logo depois que as imagens de Strauss-Kahn, até então o mais forte candidato à Presidência da França, circularam pelo mundo. "Achei aquela imagem incrivelmente brutal, violenta e cruel", declarou a ex-ministra da Justiça da França, Elisabeth Guigou, segundo o Poynter.

Na mesma reportagem, o premiado repórter investigativo Art Harris, que cobriu dezenas de escândalos de celebridades e julgamentos criminais para a CNN, People Magazine, CBS, ABC, Fox e Washington Post, disse: "Os cínicos podem chamar o perp walk de o tapete vermelho dos repórteres criminais."

A Polícia americana se defende. Diz que a finalidade do perp walk é mostrar que ninguém escapa da Justiça, nem mesmo os perpetradores de crimes do colarinho branco. Em sentença proferida em 2001, publicada pela American Bar Association mais recentemente, tribunal distrital federal de Nova York chegou a uma conclusão diferente: "A única finalidade do perp walk é permitir ao delegado e aos policiais aparecerem na televisão." E citou o fato de que os policiais sempre combinam o perp walk com a imprensa antecipadamente.

O tribunal descartou o argumento de um outro objetivo, o de que a intenção do perp walk é garantir ao público o direito de ser informado. Para o tribunal, o objetivo é usar a mídia para dramatizar e criar sensacionalismo em torno do caso, mas resulta em humilhação da pessoa que, na maioria das vezes, sequer foi condenada e, portanto, não pode ser considerada uma criminosa.

No caso em questão, o tribunal disse que o preso já estava na delegacia a várias horas, quando o delegado soube do interesse da Fox 5 News. Então, o algemou novamente, deu uma volta com ele pelo quarteirão na viatura policial e executou o perp walk para a emissora de TV. O tribunal concluiu que o perp walk violou os direitos do preso previstos na Quarta Emenda da Constituição dos EUA e autorizou o acusado a processar o Departamento de Polícia de Nova York.

Eurofobia e arena romana
Na Inglaterra, o jornal The Telegraph disse que o comportamento da Polícia americana, especialmente o perp walk de Strauss-Kahn, ressalta a "xenofobia americana" e, dada a hostilidade do sistema contra o ex-dirigente do FMI, "uma palavra melhor seria eurofobia — uma percepção de que a França, em particular, tem uma abordagem mais primitiva e agressiva das relações sexuais".

Em Israel, um articulista do Haaretz escreveu que o comportamento da Polícia americana é "uma versão de hoje do Circo Romano", em que se jogava os cristãos aos leões nas arenas, porque a sabedoria anciã dizia que o povo precisa de pão e circo. "As novas vítimas são as pessoas suspeitas de crime; as novas arenas são os jornais, os websites e as emissoras de televisão; os leões foram substituídos pelas câmeras. As câmeras não arruínam o corpo das vítimas como os leões, mas arruínas suas vidas, da mesma forma."

O site News Junkie Post – making sense of the news destaca que, "depois de um perp walk internacional, o fim de uma carreira no FMI, a ruína de uma campanha à Presidência da França e milhões de dólares gastos para cumprir as determinações da corte". Os promotores, seduzidos pela "perspectiva de um caso sensacional e da glória de um julgamento-show", descuidaram de pequenas coisas, como evidência e veracidade do testemunho da suposta vítima.

"As inconsistências do caso eram aparentes desde o início. Um homem de 62 anos aparentemente emergiu de um banheiro, nu, e dominou uma mulher de 32 anos, mais alta e mais forte, impedindo-a de voltar para a porta e gritar por socorro. Então, de alguma forma, o homem conseguiu forçá-la a fazer sexo oral, sem qualquer arma para se defender, a não ser os próprios dentes", escreveu o articulista do News Junkie Post.

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