Peçanha Martins

Ele era bom de garfo, sensível e bem humorado

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25 de janeiro de 2011, 12h57

Abro o espaço aqui para um registro sobre o Peçanha, o Ministro Peçanha Martins, meu antigo colega no STJ.

Neste momento estou em Brasília e a notícia que me chega agora sobre ele vem de São Paulo para onde estou indo amanhã. É uma noticia perturbadora, procedente, mas resisto em acreditar.

Baiano, bom de garfo, não muito de copo, um cara sensível, bem humorado, pai amoroso, marido da Clara, sempre carinhoso, Juiz feito de gente, humano, inovador, sem frescuras, sem saltos altos, o Peçanha era isso tudo e mais que isso, muito querido por todos nós — ministros, advogados, procuradores, servidores e nas galerias pelo povo em geral.

Algumas vezes parecia se enraivecer quando discordava, mas era tudo gênero.

Tive certeza disso, uma vez, quando ele me fez passar por um constrangimento internacional em plena regressiva para a chegada do Presidente da República ao STJ.

O Naves era o presidente do tribunal e eu o vice. O Naves me passou, por uma Resolução referendada pelo Plenário, a coordenação da 1ª Reunião de Cortes Ibero Americanas no Brasil, delegação total de poderes, e eu resolvi que a abertura deveria ser no plenário maior, o Plenário do Pleno.

Tudo certo, o Lula quase chegando, quando eu soube da insurreição capitaneada pelo Peçanha, exigindo que os ministros do STJ se apresentassem de toga, aquele traje horrível, medieval, e que os presidentes de cortes internacionais não ocupassem, como estava previsto, as bancadas.

Peçanha, isso não é uma sessão jurisdicional. O STJ está é cedendo seu espaço para uma reunião internacional. A rigor, tirando o Naves que é presidente, todos nós, ministros, somos apenas convidados. Tentei argumentar.

O gordo tinha um gogo de emparedar trio elétrico. Gritou comigo, exigiu que eu mudasse tudo, o Lula quase chegando, os presidentes de cortes de todos os países da ibero américa ali por perto não entendendo nada.

Te segura, Vidiga, não topa briga, segue calmo, tu és o candidato natural a presidente no ano que vem e o gordo está te testando. Quer saber se tens equilíbrio e firmeza para liderar o tribunal. Aconselhou-me o meu Anjo da Guarda.

Fui com jeito, cedi na exigência da toga, que eu achei ridícula, não radicalizei em nada e a abertura da Cumbre aconteceu no plenário com o Lula fazendo, ele também, discurso de abertura. No meio da solenidade o Peçanha já olhava pra mim com aquele riso maroto, típico dele. No final, me abraçou e me deu os parabéns.

Quando um amigo me telefonou me dizendo que o Peçanha morreu agora a pouco, abatido por um câncer, no Sírio Libanês, em São Paulo, me lembrei daquela estorinha do deputado Alckmin ao saber da morte de um velho amigo e correligionário — morreu para ti… para mim, ele continua vivo no meu coração.

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