Livro Aberto

Os livros que marcaram a vida de Solano Camargo

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28 de dezembro de 2011, 6h38

Spacca
O advogado Solano Camargo, do escritório Dantas, Lee, Brock & Camargo Advogados, escolheu a advocacia “quase que por acaso”, já que a família toda optou e tem talento para carreiras na área de ciências exatas. Mas, foi na biblioteca do tio, um físico nuclear, que Solano descobriu o mundo da literatura.

“A biblioteca ficava na casa a minha avó, onde eu explorava os livros. E assim começou. Eu fui alfabetizado com Agatha Christie. Adoro e leio até hoje.” Solano destaca as obras da autora que marcou suas primeiras leituras: Assassinato no Expresso do Oriente, E Não Sobrou Nenhum e Cai o Pano. Este conta a última aventura do detetive Hercule Poirot. Na biblioteca do tio não faltou também obras de Sir Arthur Conan Doyle. Afinal, fã que se preze da romancista britânica também lê os livros do criador de Sherlock Holmes, como  Um Estudo em Vermelho, O Cão dos Baskervilles e O Vale do Terror. “Eu adoro um bom mistério”, ressalta o advogado.

O clube da juventude


“Na minha cidade não tinha livraria, mas tinha o Circulo do Livro”. Por intermédio do clube de assinantes da editora que  ficou popular nos anos 80, Solano conta que trocava livros com amigos e aumentava sua coleção de histórias. Já na adolescência, ele descobriu Érico Veríssimo e sua obra-prima O Tempo e o Vento. “Eu considero a grande saga brasileira, tem romance e história”.

O inglês William Blake é o poeta preferido do advogado. “Ele é mais espiritualista e com uma postura social bem definida. Até hoje Blake é meu poeta de cabeceira. Muitos trabalhos dele marcaram por seus ideais libertários, principalmente  Songs of Innocence e Songs of Experience, onde ele apontava a igreja e a alta sociedade como exploradores dos fracos. Solano destaca ainda que não deixou passar  nessa época obras do estilo gótico como Os Crimes da Rua Morgue e o clássico O Corvo, de Edgar Allan Poe.

Já no ambiente acadêmico, o advogado se encantou com Edmund Wilson e sua obra-prima, Rumo à Estação Finlândia, que conta a história do pensamento revolucionário e do socialimo deade a Revolução Francesa, até a chegada de Lenin à Estação Finlândia passando pelo encontro de Marx e Engels. “Eu fui a Moscou e conheci o trajeto, por influência desse livro”.

Guias jurídicos
No entanto, as obras não servem apenas de inspiração para a vida pessoal do advogado. Especializado em Direito de Empresas, Solano cursou Administração de Serviços Jurídicos na FGV e está concluindo a pós-graduação em Direito Internacional pela PUC-SP. Como atua no contencioso e gosta muito de teoria, ele recomenda Da Guerra, de Carl Von Clausewitz, como “manual indispensável para qualquer advogado”. 

“General e estrategista militar, Clausewitz foi o principal teórico da guerra da era moderna. A obra é enorme, mas pode (e deve) ser lida como um livro de consulta. O autor destaca que é fundamental que a guerra sempre seja submetida aos objetivos políticos. Qualquer tática ou estratégia vai além da ação militar e deve conter reflexões de guerra e de paz”. Solano conta ainda que considera essencial, como o autor, não perder de vista durante qualquer batalha ou luta, outros canais como a diplomacia e a própria comunicação. “Não podemos deixar de lado isso, embora agir com certa brutalidade também faça parte do ofício do advogado.”

Já em A Instrumentalidade do Processo, Solano destaca Cândido Rangel Dinamarco como um dos grandes nomes do Direito que mudou a concepção do processo, “que precisa servir para alguma coisa. Ele cria a concepção do direito processual moderno, como raiz social”.

Na universidade, Solano teve aula com Eros Grau e conta que a obra do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, O Direito posto e o direito pressuposto, mostra bem a necessidade de transcender a lei para encontrar a realidade do direito. Em Participação e Processo, Ada Pellegrini Grinover, Cândido Dinamarco e Kazuo Watanebe mostram como a pobreza se tornou um impedimento para o acesso à Justiça. “Em uma sociedade como a brasileira, o juiz também deve contribuir para a igualdade social. Além das técnicas que evidenciam o desempenho do processo, há uma ênfase no aspecto ético da profissionalização”.  Solano conta que a obra é importante para se entender onde está e para onde vai o Direito.

O Manual for Complex Litigation, publicado pelo Centro Federal de Justiça, dos Estados Unicos,é um guia prático de direito para juízes e advogados contendo processos complexos julgados pela Justiça federal americana. A obra descreve as mudanças importantes que afetam a gestão de casos de direito material e processual em conflitos de massa. “Já Linda Mullenix é autora de interessantes contenciosos de massa que se tornaram notórios, como o caso do amianto, dos implantes mamários contaminados, do tabaco, entre outros. É uma leitura agradável”. 

Leio e recomendo
O Matrimônio do Céu e do Inferno é o livro de cabeceira de Solano. Criado por Blake em 1790, a obra tem diálogos travados entre criaturas angelicais e demoníacas. “Sempre leio Provérbios do Inferno em períodos diferentes da minha vida, pois muda a minha percepção desses provérbios. O que eu entendo hoje é diferente da leitura que fiz aos 14 anos, lógico, mas observar e perceber como o conteúdo pode mudar para a gente é o interessante”, conclui.

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