Grande figura

Jornalismo perde Rodolfo Fernandes, seu príncipe

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28 de agosto de 2011, 14h29

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José Sarney entre os jornalistas Bartolomeu Rodrigues (à esquerda) e Teresa Cardoso e Rodolfo Fernandes (à direita)

O pensador Millôr Fernandes tem entre suas grandes frases uma que diz: a pessoa que não tem inimigos não merece os amigos que tem. Hoje, Millôr sabe que uma rara exceção a essa sentença viveu bem perto dele: o seu sobrinho, Rodolfo Fernandes (na foto, o primeiro da direita para a esquerda), filho do também célebre Hélio Fernandes — dono do “Tribuna da Imprensa”, um dos jornais que mais atazanaram o regime militar (1964/1984) brasileiro e as Organizações Globo.

Rodolfo morreu neste sábado (27/8), aos 49 anos, de uma doença degenerativa. Ele fez carreira independente no jornalismo. Foi para Brasília, trabalhou em diversos jornais até começar em O Globo, em 1989. Degrau por degrau, ascendeu na carreira até chegar a diretor de redação do jornal. Sem favor algum, venceu na profissão e transformou O Globo. Sob seu comando, em onze anos, o jornal ganhou 93 prêmios nacionais e internacionais.

Nas dezenas de depoimentos a respeito de Rodolfo publicadas em O Globo (clique aqui para ler), as expressões mais repetidas, depois de “talento”, são as sinonímias de “leveza” e “suavidade”. Rodolfo Fernandes aperfeiçoou no Globo o que há de melhor no jornalismo brasileiro: o humanismo, a solidariedade e, sempre que possível, o bom humor. Não por acaso ele valorizou o trabalho de profissionais como Chico Caruso, Ancelmo Gois e Chico Otávio. Não por acaso ele se fez cercar de pessoas como Ascânio Seleme, José Casado, Aluizio Maranhão e, entre outros, Luiz Antônio Novaes, no comando da redação.

"Morreu um santo da minha profissão no sentido cristão de quem desempenha uma obra admirável em vida", disse o colunista Ancelmo Gois. "Perdi um irmão.Conheci poucos com tão elevado sentimento de amizade e generosidade, que distribuía igualmente para reis e plebeus."

Certa vez, ele se viu na contingência de demitir um amigo, o colunista Ricardo Boechat, que caíra em uma armadilha de empresários torpes. Em um grampo, o colunista fora flagrado falando mal dos patrões algo que, como se sabe, é mais comum que ver televisão antes de dormir. Rodolfo cumpriu a obrigação, mas isso nunca afetou a pelada que, religiosamente, ele e Boechat jogavam na praia todo sábado — enquanto a esclerose lateral amiotrófica que o dominava gradativamente permitiu.

Antes de ir para O Globo, Rodolfo participou de duas experiências especialmente ricas. A de trabalhar no Jornal do Brasil, com Ricardo Noblat,  em sua fase mais criativa, em Brasília e, depois, na Folha de S.Paulo, quando se implantava o projeto de modernização do jornalismo brasileiro, arquitetado por Otávio Frias Filho.

Em sua longa vivência no Distrito Federal, Rodolfo bebeu ainda da experiência de um amigo em particular: Jorge Bastos Moreno, o jornalista mais manhoso da história do país. A perda desse grande ser humano é lamentável por muitos aspectos. Um deles, certamente, é o de se ter interrompido uma carreira ascendente que influiria muito mais do que chegou a influir na evolução do jornalismo brasileiro.

O velório de Rodolfo, no Cemitério Memorial do Carmo, começou às 10h, no Rio de Janeiro. A cremação foi marcada para as 15h. O jornalista deixa a mulher, Maria Silvia Bastos Marques e dois filhos, Felipe e Letícia que teve com a ex-mulher, Sandra Fernandes. Felipe e Letícia serão jornalistas, assim como o pai e o avô.

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