
No conjunto, as 204 páginas da publicação, em seu segundo ano consecutivo, permitem leituras diferenciadas. Por um lado, mostram como o Judiciário fluminense tem atuado em relação aos problemas de natureza jurídica que afetam a população do Rio de Janeiro. Por outro, revelam em que estágio se encontra o tribunal estadual em relação às demais cortes do país, todas também afetadas pela "cultura de respeito à lei" e pela enxurrada de ações.
Presidente da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro, Antonio Siqueira considera "anormal" o índice de litigiosidade atual e diz que a solução para isso não pode ser procurada exclusivamente dentro do sistema judicial brasileiro. O próprio Brasil precisa ser repensado, afirma, ao ressaltar que o maior cliente do Judiciário brasileiro é o Estado e que mesmo no setor privado os grandes demandantes são empresas submetidas ao controle estatal, por meio das agências reguladoras. "E são as mesmas reclamações de sempre", diz.
A série de radiografias, produzidas pela revista eletrônica ConJur, teve início em 2007, com o lançamento da primeira edição do Anuário nacional, com foco na atuação dos 90 ministros que integram a cúpula do Judiciário brasileiro, formada pelo Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça e os tribunais superiores do Trabalho, Militar e Eleitoral. No ano seguinte, foi a fez de o Judiciário paulista ser radiografado. A partir do ano passado, a coleção foi ampliada e passou a incluir também o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
São cinco anos de matéria-prima preciosa, não só para quem lida com o Direito no dia a dia, mas também para pesquisadores e historiadores. Com o distanciamento necessário e analisadas em seu conjunto, as decisões tomadas pelos tribunais representam uma importante base histórica de dados e indicativo valioso de costumes, hábitos e comportamentos dos agentes envolvidos durante um determinada época. E o mosaico formado até agora confirma, pelo menos na essência, o diagnóstico feito pelo presidente da Amaerj e integrante licenciado da 5ª Câmara Cível do Rio.
São temas que continuam chegando em grande quantidade aos tribunais, mesmo com resultados altamente previsíveis e sem a presença de “dúvidas razoáveis quanto à aplicação do direito”. Já foram julgados dezenas ou centenas de vezes antes, sem que nenhum fato novo seja acrescentado ao processo. A rigor, muda apenas o valor da reparação nas ações de natureza indenizatória, mesmo assim sem que exista uma variação expressiva, salvo em ocasiões especiais e que não podem ser entendidas como regra geral.
Os casos apresentados no Anuário, julgados no período de 1º de julho de 2010 a 30 de junho de 2011 pelas 28 Câmaras do Tribunal do Rio e selecionados em função do interesse jurídico e impacto na vida de pessoas, mostram uma grande incidência de processos na área do Direito do Consumidor, com destaque para a inclusão de nomes em cadastros de restrição ao crédito, além de contratos e tarifas bancárias. Reflexo da nova geografia forjada pela violência urbana, questões condominiais também se destacaram, assim como os processos envolvendo a atuação da Polícia, recheados com reclamações de prisões ilegais ou exposição vexatória de acusados — não raras vezes inocentados ao final das investigações.
Novidade relativamente recente no Rio são as ações individuais — e não coletivas — que pedem que a concessionária de serviços públicos ou mesmo o município seja obrigados a reparar ou instalar rede de água ou esgoto. A maioria dos desembargadores tem decidido contra o pedido, mas o tema está longe de ser considerado pacífico no Judiciário fluminense, ao contrário de 185 outras questões transformadas em enunciados — todos publicados no Anuário. Embora sem caráter vinculante, súmulas e enunciados são cada vez mais utilizados pelos desembargadores do Rio na tentativa de acelerar a solução das disputas judiciais — aquelas que são previsíveis antes mesmo de chegarem à porta de um Tribunal de Justiça. Demoram e custam caro ao país.
Serviço:
Título: Anuário da Justiça Rio de Janeiro 2011
Editora: ConJur Editorial
Números de Páginas: 204
Formato: Brochura
Título: Anuário da Justiça Brasil 2011
Editora: ConJur Editorial
Números de Páginas: 308