Beleza Hollywoodiana

Charme e profissionalismo marcaram carreira de Ellen

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19 de agosto de 2011, 12h19

Sempre bonita, bem arrumada, educada, inteligente, foi chamando a atenção dos outros logo no começo, quando se apresentou, moçoila ainda, às provas do concurso para procuradora do Ministério Público Federal, em Porto Alegre.

E nem era gaúcha.

O Humberto, Humberto Gomes de Barros, presidente do STJ depois de mim, que a examinou numa das provas para juiza federal, me disse que em meio aos outros candidatos ela parecia uma estrela de Hollywood.

A Ellen chamava, ainda chama, a atenção mesmo.

Cargo de juiza, naqueles tempos, quase sempre, era algo assim para as feias inteligentes ou para as megeras autoritárias. Não parecia o melhor lugar para mulher bonita, sensível, bem educada, como a Ellen.

Foi o Humberto quem me apresentou a Ellen há uns 20 anos numa reunião de juizes federais em Santa Catarina. Ele é um grande cordelista e eu, vez por outra, me meto a poeta. Fiz uma poesia para aquela juiza elegante que parecia muito ocupada com a ideia de escolas para a magistratura.

Mostrei a poesia ao Humberto, ela a chamou, eu amarelei de encabulado, mas não mostrei a poesia, que para ela vai continuar inédita. Aquela apresentação começou nossa amizade extensiva à Euridice, minha mulher e ao Isaac, o amigão gaúcho da Ellen, com quem me dou muito bem ainda hoje.

A Ellen seguia vitoriosa a carreira chegando a presidente do tribunal e depois cumprido o mandato, apenas desembargadora federal, quando virou consenso no país a ideia de que estava na hora de uma mulher ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal.

O Nelson, Nelson Jobim, me contou os detalhes da operação. Ele era o ministro da justiça do Fernando Henrique e a Dona Ruth, esposa do presidente, era quem mais discursava em particular em favor de uma mulher no STF.

Foi o Nelson quem levou a Ellen numa noite ao Palácio do Alvorada apresentando-a formalmente ao Fernando Henrique, que se encantou com ela. A Ellen estudou nos Estados Unidos, foi bolsista da Fulbraight, e o Fernando, como o chama o Nelson, nunca escondeu seu entusiasmo por curriculuns com lastros acadêmicos.

Cabe lembrar que foi o curriculum do Brindeiro, Geraldo Brindeiro, lembram, pós graduado em Yale, por exemplo, que levou FHC a recuar na decisão de nomear procurador geral da república o José Arnaldo, o sub procurador Geral José Arnaldo da Fonseca, depois de ter prometido ao Senador ACM, que o faria.

Em seguida, abriu-se uma vaga no STJ para onde foi o José Arnaldo, onde realizou trabalho intenso de grande ministro, juiz humanista.

Mas voltando à Ellen, o Fernando fêz assim com o polegar para cima em aceno positivo ao Nelson. Dona Ruth adorou a moça e ultrapassados os prolegômenos e seus rituais, lá estava no Supremo Tribunal Federal a primeira mulher, uma juiza federal, que também fora procuradora federal, uma professora de direito, a Ellen Gracie Norfield, uma típica cariúcha, nascida carioca e criada gaúcha.

Não sou contra a PEC da Bengala, a que eleva a aposentadoria dos magistrados para 75 anos, e quando a defendi na Câmara e no Senado não o fazia em causa própria, eis que pedi para sair do STJ quando teria pouco mais de 9 anos ainda a vencer no cargo.

Tenho aconselhado a todos a quem encontro que saiam antes. Assim, terão algum tempo de vida util para a liberdade de viver. Quanto a mim, me sentindo livre para escrever o que penso e viver como sempre gostei, trabalhando sempre, mas dono das minhas horas e opções, cada dia me convenço que fiz o certo.

A Ellen já vinha ensaiando sair há algum tempo. Seu sentimento era de missão cumprida. Avisou antes do ultimo recesso que não mais voltaria à sua bancada no plenário e que, dessa vez, era para valer. Esquivou-se das homenagens regimentais dos formatos das despedidas, naqueles rituais renascentistas.

Lembrando o apóstolo Paulo, ela combateu no que lhe foi possivel o seu bom combate. E não conspurcou a sua fé.

Deve ser muito chato ser ministro do Supremo queimando em ementas, relatórios e votos, à exaustão, as melhores energias do espírito e tendo que ainda manter distância das melhores alegrias da vida.

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