Escritório fantasma

Banca desconhecida intriga advocacia de Nova York

Autor

21 de abril de 2011, 11h31

Desde o início do mês de abril, a advocacia norte-americana tem sido assombrada por um mistério: a aparição instantânea de uma "renomada" banca que ninguém conhece. A imprensa especializada se apressa em declarar categoricamente que se trata de uma fraude, já que todas as evidências levam a crer que seja uma empresa de fachada.

Em um mercado onde a reputação das bancas e o desempenho dos profissionais sustentam uma ampla rede de informações, em que as notícias e os boatos correm de um lado para outro quase que instantaneamente, o surgimento ou melhor, a materialização do dia para a noite, de um suposto "tradicional e respeitado" escritório de advocacia criou uma charada que, até agora, ninguém conseguiu responder ou simplesmente desmascarar por completo.

Quem está por trás da autodenominada banca nova-iorquina Cromwell & Goodwin? A origem misteriosa do escritório não deixou até agora muitas pistas além de informações desencontradas e de um endereço fantasma.

O bem projetado website da empresa, que entrou no ar no final de março, define o escritório como uma banca de advocacia sediada em Nova York, com 30 anos de experiência em consultoria jurídica na área de negócios e finanças. Contudo, ninguém no ramo conhece a Cromwell & Goodwin ou ouviu falar qualquer coisa a seu respeito.

Esta semana foi a vez da Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido (FSA, na sigla em inglês) emitir um alerta sobre a misteriosa Cromwell & Goodwin. Na quarta-feira (20/04), a FSA, que é a principal agência reguladora financeira da Grã-Bretanha, divulgou um comunicado desaconselhando investidores de dispor dos serviços de consultoria jurídica para operações financeiras oferecidos pelo site da banca. A FSA observou, em seu alerta, que o escritório não é certificado pelo Financial Services and Markets Act 2000 (FMSA 2000), o que o desabilita a exercer qualquer atividade de cunho financeiro no Reino Unido.

A FSA já havia adicionado a Cromwell & Goodwin, no dia 13 de abril, à sua lista de empresas estrangeiras não-autorizadas a operar no país.

Fraude amadora
A conceituada publicação mensal The American Lawyer vem acompanhando o caso desde o início do mês e têm publicado atualizações em seu site sobre o caso, embora ainda não tenha conseguido desvendar totalmente a charada. Em seu website, a The American Lawyer reitera que ninguém contatado pela reportagem da revista ouviu falar sobre a Cromwell & Goodwin e que o endereço informado na página da suposta banca, de fato, não existe.

Contudo, a página ainda está no ar (www.cromwellgoodwin.com/), e leitores da The American Lawyer têm entrando em contato com a redação da revista, informando que o escritório os procurou para oferecer consultoria na compra de ações abaixo do preço de mercado.

Repórteres da publicação têm telefonado para o número informado no website da empresa. Das vezes em que conseguiram vencer a barreira de mensagens eletrônicas, foram atendidos por uma mulher que se identificou apenas como Sonya. Falando em inglês, com um forte sotaque estrangeiro, Sonya informou à reportagem que os sócios Edward Cromwell e Liberty Goodwin não estão disponíveis para conversas via telefone e não têm previsão de agendar encontros pessoalmente. Embora o site da empresa se refira à Liberty como sendo uma mulher, Sonya deu entender que se tratava de "um sócio".

A dúvida sobre a existência da empresa começou no início do mês de abril após a divulgação de um press release que noticiava a participação dos sócios da Cromwell & Goodwin em uma importante conferência no Qatar. O comunicado anunciava que sócios e advogados da banca iriam participar de um painel e dividiriam a bancada com representantes dos bancos de investimento Goldman Sachs, JP Mogan Chase, Credit Suisse e Cliford Chance. O comunicado era falso. A data do encontro que ocorreria em um hotel no Qatar estava prevista para 26 e 27 de abril.

O excesso de cautela em afirmar que se trata de uma fraude ocorre porque, nesse caso, os sinais são confusos. Geralmente, fraudes sustentadas por escritórios de fachada não informam endereços e números de telefone que possam ser facilmente desmacarados. De acordo com especialistas ouvidos pela The American Lawyer, embora tudo indique que pareça ser um escritório fictício, é difícil entender qual é a vantagem e a motivação de quem montou a farsa.

Tudo indica que a suposta banca está atrás de empresas e investidores de pequeno porte. Porém, sem um endereço e números telefônicos, qual seria a razão de ser do esquema fraudulento? Nenhum dos advogados listados como sendo da equipe da empresa está registrado na Associação de Advogados de Nova York. E esse é um erro considerado demasiado elementar no complexo universo de fraudes que assolam o mercado financeiro nos EUA.

Os especialistas consultados pela The American Lawyer chegaram a cogitar tratar-se de uma empresa de fachada montada por autoridades policiais federais norte-americanas, como parte de uma investigação para auxiliar na coleta de informações. Mas, geralmente, operações desse tipo não divulgam dados sobre profissionais como o website da misteriosa Cromwell & Goodwin faz.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!