Carta de demissão

Ministra Erenice Guerra deixa a Casa Civil

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16 de setembro de 2010, 16h04

Wilson Dias/ABr
A ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, fala durante a reunião do Gabinete de Crise, coordenado pela Casa Civil e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, para discutir a ajuda aos estados nordestinos atingidos pela chuva - Wilson Dias/ABr

A ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, pediu demissão do cargo nesta quinta-feira (16/9). A carta de demissão foi lido pelo porta-voz da presidência da República, Marcelo Baumbach, depois que Erenice se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quem assume interinamente o comando da Casa Civil é o atual secretário executivo, Carlos Eduardo Esteves Lima. A coordenadora-geral do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Miriam Belchior, deve ficar com a vaga.

“Preciso agora de paz e tempo para defender a mim e à minha família, fazendo com que a verdade prevaleça, o que se torna incompatível com a carga de trabalho que tenho a honra de desempenhar na Casa Civil”, afirmou Erenice em trecho do texto.

Erenice se sente injustiçada. Na carta, afirma que mesmo com a abertura de seu sigilo telefônico, bancário e fiscal, “a sórdida campanha para desconstituição da minha imagem, do meu trabalho e da minha família continuou implacável”, escreveu, referindo-se à imprensa. Segundo ela, não há qualquer prova de sua participação em qualquer ato ilícito e, ainda assim, diariamente há manchetes “cujo único objetivo é criar e alimentar artificialmente um clima de escândalo. Não conhecem limites”.

De acordo com notícia da Folha de S.Paulo, a chefe da Casa Civil se encontrou pela manhã com o ministro Franklin Martins (Comunicação), emissário de um recado do presidente: de que a situação da ministra havia ficado insustentável e que ela deveria pedir demissão.

Uma empresa de Campinas confirma que um lobby opera dentro da Casa Civil e acusa o filho de Erenice Guerra, Saulo, de cobrar dinheiro para obter liberação de empréstimo no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Erenice também teria atuado, segundo reportagem publicada na revista Veja, para viabilizar negócios nos Correios intermediados por uma empresa de consultoria de propriedade de seu outro filho, Israel.

Miriam Belchior, coordenadora do PAC, é vista como uma "solução caseira", de alguém que já trabalha dentro da Casa Civil e tem perfil discreto, além de contar com a confiança do presidente Lula.

Leia a carta de demissão de Erenice Guerra:

"Senhor presidente,

Nos últimos dias fui surpreendida por uma série de matérias veiculadas por alguns órgãos da imprensa contendo acusações que envolvem familiares meus e ex-servidor lotado nesta Pasta.

Tenho respondido uma a uma, buscando esclarecer o que se publica e, principalmente, a verdade dos fatos, defrontando-me com toda sorte de afirmações, ilações ou mentiras que visam desacreditar meu trabalho e atingir o governo ao qual sirvo.

Não posso não devo e nem quero furtar-me à tarefa de esclarecer todas essas acusações e nem posso deixar qualquer dúvida pairando acerca de minha honradez e da seriedade com a qual me porto no serviço público. Nada fiz ou permiti que se fizesse, ao longo de 30 anos da minha trajetória pública, que não tenha sido no estrito cumprimento de meus deveres.

Prova irrefutável dessa minha postura é que já solicitei à Comissão de Ética a abertura de procedimento para esclarecimento dos fatos aleivosamente contra mim levantados, à Controladoria-Geral da União a auditagem dos atos relativos à ANAC, dos Correios e da contratação de parecer jurídico na EPE, além de solicitar ao Ministério da Justiça a abertura dos procedimentos que se fizerem necessários no âmbito daquela Pasta para esclarecer os citados fatos.

No entanto, mesmo com todas essas medidas por mim adotadas, inclusive com a abertura dos meus sigilos telefônico, bancário e fiscal, a sórdida campanha para desconstituição da minha imagem, do meu trabalho e da minha família continuou implacável. Não apresentam uma única prova sobre minha participação em qualquer dos pretensos atos levianamente questionados, mas mesmo assim estampam diariamente manchetes cujo único objetivo é criar e alimentar artificialmente um clima de escândalo. Não conhecem limites.

Senhor presidente, por ter formação cristã não desejo nem para o pior dos meus inimigos que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que se desencadeou contra mim e minha família. As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo.

Preciso agora de paz e tempo para defender a mim e minha família fazendo com que a verdade prevaleça, o que se torna incompatível com a carga de trabalho que tenho a honra de desempenhar na Casa Civil.

Por isso, agradecendo a confiança de Vossa Excelência ao designar-me para a honrosa função de Ministra-Chefe da Casa Civil da Presidência da República, solicito, em caráter irrevogável, que aceite meu pedido de demissão.

Cabe-me daqui por diante, a missão de lutar para que a verdade dos fatos seja restabelecida.

Brasília, 16 de setembro de 2010.

Erenice Guerra"

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