Os livros da vida do advogado Fábio Ulhoa Coelho
20 de outubro de 2010, 13h30
Responsável por boa parte dos livros publicados atualmente sobre Direito Comercial no país, o advogado Fábio Ulhoa Coelho é, acima de tudo, um amante do conhecimento. Faz questão de dedicar parte do seu tempo às artes e à Filosofia. Um curso de pintura e dois anos na graduação em Filosofia da Universidade de São Paulo são sinais disso.
O parco tempo, dividido entre a advocacia e o magistério na Pontifícia Universidade Católica desde 1982, o impediu de dedicar-se com mais afinco aos hobbies. A leitura se salvou, graças ao vício. Ulhoa compra um livro por semana — sempre pela internet — e, via de regra, lê diversos ao mesmo tempo. Isso explica o porquê de tantos deles não terem sido lidos até o fim. Nas estantes da biblioteca particular, muitos dos três mil exemplares mostram lombadas machucadas apenas até a metade. “Não tenho paciência de acabar se já sei do que se trata”, diz.
Dentre as leituras terminadas mais elogiadas estão as biografias e histórias de guerra. História da Guerra Fria, de John Lewis Gaddis, e os dois volumes de Memórias da Segunda Guerra Mundial, de Winston Churchill, são exemplos lembrados instantaneamente. Chatô, o Rei do Brasil, de Fernando de Morais, e Vale Tudo: Tim Maia, de Nelson Motta, também chamaram a atenção. Mas o jornalista Daniel Piza não mereceu os mesmos elogios por seu Machado de Assis, um Gênio Brasileiro. “Não gostei”, conta.
Durante muito tempo, na juventude, Fábio Ulhoa mergulhou nas teorias comunistas de Engels e Marx, a quem admirava. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, e Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, ambos de Friedrich Engels, foram leituras obrigatórias. Das biografias, uma das favoritas é a do fundador bolchevique do Exército Vermelho e principal rival de Stálin na União Soviética, Leon Trótski, feita por Isaac Deutscher, intitulada Trótski, o Profeta Armado.
Recentemente, terminou de ler The Idea of Justice, do prêmio Nobel de Economia em 1998, Amartya Sen. Na década de 1990, o indiano ganhou relevância ao tratar o desenvolvimento não só como crescimento econômico, mas também como liberdade e Direitos Humanos. The Idea of Justice, mais novo livro de Sen voltado à Filosofia do Direito, questiona até que ponto problemas judiciais podem ser racionalmente solucionados, uma vez que nem todas as questões podem ser respondidas por meio de princípios. “É uma leitura realmente proveitosa, que há tempos não tinha”, diz o advogado.
Irrequieto, Fábio Ulhoa quase optou pelo Jornalismo antes de ir para o Direito, tentado pelo resultado de um teste vocacional. O conselho do pai, que estava mais para uma ordem, o fez mudar de rumo. “Ele disse que apenas três profissões existiam de fato, e que se eu fosse bom em uma delas, fatalmente apareceria nos jornais”, lembra, e ri. As opções se restringiam a Medicina, Engenharia e Direito.
Certo ou errado, o pai acertou na profecia. Ulhoa é um dos mais respeitados especialistas em Direito Comercial e Empresarial em atividade. Mestre, doutor e livre-docente desde 1993, ensina Direito Comercial e Empresarial e Filosofia do Direito na PUC-SP, além de coordenar os programas de mestrado e doutorado em sua área na instituição. É professor honorário da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, depois de ter dado aulas na pós-graduação da entidade, como fez também nas Faculdades Metropolitanas Unidas.
É constantemente consultado sobre temas que já tratou em livros, como desconsideração da personalidade jurídica, concorrência, relações de consumo e recuperação judicial. Foi ele quem tomou a dianteira defendendo as sociedades limitadas da obrigatoriedade de publicar balanços nos jornais. A polêmica começou com a Lei 11.638, de 2007, que colocou as sociedades limitadas que faturavam mais de R$ 300 milhões anuais — como Volkswagen, Honda e General Motors — dentro dos padrões contábeis das sociedades anônimas. Ambiguidades da lei dividiram opiniões sobre a necessidade de que sociedades fechadas publicassem informações como as abertas. Ulhoa foi contra. A Justiça ainda analisa o caso.
Primeiro livro
Livro didático
Livros jurídicos
Literatura
Na galeria dos estrangeiros estão O Nome da Rosa, do italiano Umberto Eco — que Fábio Ulhoa coloca entre os cinco melhores que já leu —, Cem Anos de Solidão, do colombiano Gabriel García Marquez, Pantaleão e as Visitadoras, do Nobel de Literatura em 2010, o peruano Mario Vargas Llosa, O Jogo da Amarelinha, do argentino Julio Cortázar, e O Mundo de Sofia, do norueguês Jostein Gaarder.
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