Vaidade e ambição

Ayres Britto pede à PGR apuração sobre seu genro

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1 de outubro de 2010, 13h06

A Procuradoria-Geral da República vai apurar as circunstâncias da tentativa de impedir o voto do ministro Ayres Britto no julgamento da candidatura de Joaquim Roriz ao governo do Distrito Federal. O impedimento seria obtido artificialmente com a contratação do genro do ministro, o advogado Adriano Borges.

A iniciativa do pedido ao Ministério Público Federal foi do próprio ministro Ayres Britto. Ele consultou o procurador-geral Roberto Gurgel logo pela manhã e em seguida combinou com o presidente do STF, Cezar Peluso, de o pedido formal de “rigorosa apuração” ser encaminhado pela Corte.

Joaquim Roriz tentou forçar o impedimento de Ayres Britto na votação da lei da "ficha suja" no STF contratando o genro do ministro. A notícia já fora publicada há duas semanas. Mas o assunto incendiou-se, nesta quinta-feira (30/9), com a divulgação das imagens do diálogo entre o advogado e o ex-governador do DF na internet. A forte repercussão das imagens levou o presidente do STF, Cezar Peluso a convocar uma reunião informal dos ministros para tratar do assunto.

"É evidente que o ministro foi vítima de uma trama", afirmou seu colega, Gilmar Mendes. "Ele não pode ser prejudicado pelas decisões legítimas que adotou." Mendes manifestou solidariedade a Britto enfatizando sua "dedicação e envolvimento com a causa pública".

A sensação entre os ministros é a de que Joaquim Roriz, vitimado por duas decisões de Ayres Britto contra sua candidatura resolveu vingar-se do ministro e do tribunal. Embora Roriz não tenha chegado a contratar o advogado trapalhão, as imagens gravadas pelo ex-governador são suficientemente comprometedoras. A divulgação das imagens depois do julgamento, quando o impedimento de Britto já não interfere em nada, reforça a tese da vingança.

Desde que os primeiros boatos surgiram o ministro mostrou sua irritação com o fato de Adriano Borges ter considerado atuar em matéria que os pudesse colocar em conflito. O que houve de concreto foi apenas uma negociação frustrada. Mas Adriano chega claramente a ofertar o impedimento do sogro com a sua presença no processo.

“Quando vaidade e ambição se misturam o resultado é sempre nefasto”, afirmou Ayres Britto pouco antes de pedir a investigação à Procuradoria-Geral da República. O inquérito deve apurar não só as responsabilidades do ministro e seu genro, mas também da equipe de Joaquim Roriz.

Entre os advogados que acompanham mais intensamente a rotina do Tribunal Superior Eleitoral, o conceito de Adriano Borges não é dos melhores. Mas entende-se que ele foi alvo de armadilha exatamente por sua “esperteza”.

Os jornalistas Andrei Meirelles e Marcelo Rocha da revista Época revelaram que Adriano já havia se atirado sobre uma armadilha antes. Ele próprio cita o fato de ter atuado em favor de outro “ficha suja”, o candidato ao governo de Rondônia, Expedito Júnior. Britto se deu por impedido e o genro teria recebido pela tarefa ao menos 1 milhão de reais.

Leia a nota de encaminhamento do pedido de Britto divulgada pelo STF:

Nota à Imprensa
Atendendo a requerimento do Exmo. Sr. Min. CARLOS AUGUSTO AYRES DE FREITAS BRITTO, o Exmo. Sr. Min. Presidente do Supremo Tribunal Federal, CEZAR PELUSO, encaminhou ofício ao Exmo. Sr. Procurador-Geral da República, ROBERTO MONTEIRO GURGEL SANTOS, solicitando imediatas providências para rigorosa apuração dos fatos que, noticiados pelos órgãos de imprensa, nesta data (1/10), dizem respeito ao Sr. Adriano Borges Silva e processos desta Corte.

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