Livro Aberto

Os livros da vida de Vladimir Passos de Freitas

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17 de novembro de 2010, 15h40

Vladimir Passos de Freitas 2 - SpaccaSpacca" data-GUID="vladimir_passos_freitas1.jpeg">“Há livros pequenos que são considerados vulgares, mas que dão grandes lições de vida”. Foi que fez questão de registrar o desembargador aposentado, Vladimir Passos de Freitas, em uma conversa com a reportagem da revista Consultor Jurídico. Ele integra a equipe da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça e participa do mutirão Justiça em Dia que irá até começo de 2011. Apaixonado pela administração do Poder Judiciário, promete lançar um livro contando suas experiências.

Uma das maiores vivências de Freitas foi lecionar. Para ele, os livros práticos podem auxiliar na vida profissional dos operadores de Direito. “Eu sempre recomendo o livro Vá direto ao assunto, do Stuart Levine, para os advogados novos quando eles começam a falar e levam meia hora para dizer aonde vão, ou ainda, quando escrevem petições de cem páginas que nenhum juiz do mundo irá ler”, aponta. Freitas prefere textos de ideias claras e escrita elegante.

O desembargador aposentado conta que seu pai não chegou a se formar no primeiro grau. Porém, preservava em sua casa uma ótima biblioteca. “Na minha juventude, eu li vários livros que foram muito importantes para minha vida. Não me lembro do primeiro livro, mas que os do Erico Veríssimo me impressionaram muito”, afirmou. Freitas explica que entre os clássicos que leu é marcante perceber que as dúvidas do ser humano são as mesmas em todos os tempos.

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Os Sermões do Padre Vieira - Divulgação

O período em que o desembargador aposentado diz que se dedicou intensamente a leitura foi quando se mudou para Caraguatatuba, no litoral de São Paulo. “Quando passei no concurso para me tornar promotor, li muito. Fui fazer carreira em uma cidade pequena. Li os quatro volumes do Nova Floresta, do Padre Manuel Bernardes. Também li Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, Padre Vieira e fez uma diferença muito grande na escrita”, recorda.

Ele conta também que sempre leu jornais e revistas. Uma de suas primeiras atitudes quando foi presidente do TRF-4, foi observar mais uma revista de comportamento empresarial. “Li que a presidente de uma grande empresa nacional de cosméticos percorria todas as dependências da empresa para ouvir os funcionários”. Quando assumiu, começou a visitar as salas. A portaria do tribunal foi o local escolhido para a primeira visita.

Assustados, os servidores acharam que o presidente foi pessoalmente dar uma bronca, mas se surpreenderam quando a palavra foi de agradecimento. Freitas aproveitou para incentivá-los e pedir a colaboração deles para os próximos anos. “Eles se dedicaram cinco vezes mais”, considera. A cada semana o desembargador comparecia em um lugar diferente para ouvir os que trabalhavam no tribunal.

Mesmo aposentado, Freitas manteve sua atividade profissional. Para ele, depois da aposentadoria seu volume de trabalho só aumentou. “Comecei a receber mais convites para palestra, aulas, pareceres, e foram surgindo mais e mais convites. Agora que estou na corregedoria nacional tem dado para equilibrar. É bom um desafio que motiva”. A maior geradora de sua força é a neta, para quem ele afirma que quer deixar um Brasil melhor.

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O ócio criativo - Domenico de Masi - Divulgação

“Enquanto eu tiver força para lutar por isso vale a pena viver. Se um dia eu não tiver, estará tudo acabado.”

Outro autor que recomenda é o sociólogo Domenico de Masi, com O ócio criativo. Freitas é um homem de 65 anos super ativo. Ele considera que tem a "vitalidade da juventude”. Mas destaca que é importante saber dosar a carga de afazeres. A decisão de se aposentar veio da avaliação negativa que fez ao se perceber a distância de sua família, que mora em Curitiba. Ele atuou a maior parte do tempo em Porto Alegre. 


Literatura e História

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Capitães de Areia de Jorge Amado - Divulgação O primeiro contato com os livros foi em casa na biblioteca de seu pai que, segundo ele, lia muito e tinha o domínio da língua portuguesa. Freitas diz que apesar de não se lembrar do primeiro livro, começou com a literatura clássica. O livro Brasil, país do futuro, de Stefan Zweig, foi um dos que mais marcou o período.

“Lembro muito de um livro que hoje é desconhecido, do Erich Maria Remarque, sobre a primeira guerra mundial”, observa. Outro autor que impressionou o desembargador foi Eça de Queiroz. Entre suas obras, ele destaca A Cidade e as Serras. “Nele, o protagonista Jacinto de Tormes não sabe se mora na cidade ou no campo e ele resolve passar seis meses em um e depois seis meses no outro. Uma dúvida que existe até hoje”, explica. Freitas cita também Jorge Amado como um dos clássicos que percorreu.


Livro Jurídico

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Código de Processo Civil - Nelson Nery Jr. - Divulgação De acordo com Vladimir Freitas, a escolha para a carreira do Direito foi uma imitação de seu irmão, que na época cursava a faculdade. “Não existiam tantos cursos diferentes”, lamenta. Além de administração do Poder Judiciário, Freitas é especialista em Direito Ambiental e tem como grandes autores Paulo Afonso Leme Machado, o ministro Herman Benjamin e o desembargador José Renato Nalini.

O desembargador afirma que a clareza nas ideias e elegância na escrita constituem um bom livro, mesmo os técnicos. Para ele, Nelson Nery Junior consegue reunir essas qualidades. A escrita rebuscada não lhe agrada. Ele completa: “No Direito, ela ainda é muito comum”.


Li e recomendo

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1808 - Laurentino Gomes - Divulgação Freitas indica dois livros essenciais para compreender melhor o Brasil. Segundo ele, 1808 de Laurentino Gomes, fornece uma visão da formação do Brasil. E o clássico Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre permite entender também os problemas do nepotismo no Judiciário.

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Casa-Grande e Senzala - Gilberto Freyre - Divulgação

Nas horas livres, ele aproveita para praticar natação e afirma que quando acabar seu período no CNJ irá competir na categoria Master. Além disso, Freitas gosta de ir ao cinema. Quando pode vai três vezes assistir filmes, que não sejam de ficção ou ação. Ele diz também que tem muito apreço pela música gaúcha devido ao tempo em que esteve no Estado. E acrescenta que ouve música francesa, italiana e o período marcado pela Bossa Nova.

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