Futuro da advocacia

Cotidiano da advocacia e uso de tecnologia em debate

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27 de março de 2010, 11h58

De Chicago, especial para a Consultor Jurídico

Um dos eventos que mais chamaram a atenção entre os profissionais jurídicos e os principais formadores de opinião na área de tecnologia aplicada ao Direito que estiveram no ABA Techshow 2010, em Chicago, foi o Ignite Law. Este evento caracterizou-se por adotar um formato inovador de apresentação. Foram pequenas palestras proferidas pelos principais gurus da tecnologia da informação na área jurídica nos Estados Unidos.

A ideia partiu de uma premissa simples: maximizar ideias e inovação em torno de "o futuro da advocacia", e minimizar os tradicionais longos discursos em apresentações com linguagem objetiva onde cada palestrante tinha 6 minutos e 20 slides para passar suas experiências sobre um determinado tema de destaque na área.

Todo o burburinho prévio do evento ocorreu pelo twitter e em vários blogs, gerando um boca a boca imenso que esgotou em pouco tempo os 150 bilhetes disponíveis.

Podemos dizer que esta técnica de marketing foi muito importante para criar uma grande expectativa preliminar em torno do ABA Techshow.

Os resultados foram surpreendentes:

• O Ignite Law foi dividido em dois atos. Contou com 16 oradores, advogados, um jornalista que atua na área jurídica, prestadores de serviço na área tecnologia jurídica, BigLaw, SmallLaw, consultores, tecnólogos e bloqueios.

• 10 dos 16 apresentadores eram bacharéis, sendo que metade está no regular exercício da praticando advocacia.

• 11 estão ativamente divulgando suas ideias no twitter e possuem cerca de 18.486 seguidores (provavelmente muitos mais após Ignite Law)

• Dos 150 participantes que assistiram o evento sobre o futuro da advocacia, existiam membros de 47 escritórios com o perfil variando de 1 a 3.500 integrantes, dos quais 26 eram advogados com carreira solo.

• 9 representantes da mídia especializada como Legal Practice Management da American Bar Association, Journal, Lei Boletim Publishing, Association of Legal Administrators.

• As sessões Ignite Law variaram dentro do escopo do tema, o co-produtor do evento Matt Homann fez a abordagem inicial mencionando o mantra de "clientes são relevantes de novo" e que os presentes estavam ali para: pensar, aprender, partilhar e executar idéias.

O primeiro ato começou com palestra de Larry Port da empresa que desenvolve software jurídico Rocket Matter que abordou quais são os principais aspectos relevantes para os escritórios de advocacia. Ele detalhou que a primeira atividade diária que desempenha com seus colegas de trabalho é apurar e discutir em reuniões curtas de 30 minutos a partir do monitoramento elaborado pelo sistema as seguintes perguntas "que eu fiz ontem? O que eu fiz hoje? E o que está no meu caminho". Segundo ele, este hábito cotidiano ajuda a solucionar os obstáculos diários e sempre acompanhar o progresso e as metas profissionais.

O editor chefe da American Bar Association, Ed Adams, discutiu o futuro do jornalismo jurídico e compartilhou a experiência da cobertura de uma reportagem publicada na revista ABA Journal, onde um grupo de jornalistas que atuam na área jurídica formaram uma equipe, alugaram uma van e partiram para uma road trip chamada "Legal Rebels", ou seja, os Jurídicos Rebeldes.

Foi uma viagem de 1.000 milhas em busca de reportar para todos os leitores da maior revista jurídica americana, a ABA Journal o perfil de cinquenta homens e mulheres que são considerados grandes inovadores e estão redefinindo os conceitos na prática da advocacia nos Estados Unidos.

Segundo Adams, o jornalismo que cobre o Direito deve ser multimídia, estar presente nas redes sociais e participativo, uma vez que qualquer pessoa pode ser um colaborador. Acho que a revista Consultor Jurídico demonstra que está sintonizada nestas ideias, por ter gerado espaço para divulgação das minhas impressões sobre o ABA Techshow 2010.

Toda a cobertura jornalística foi distribuída em tempo real pelos serviços online twitter, friend feed, facebook, flickr e ustream.

Em seguida, Joy Heath Rush enfatizou a tendência que ora acontece nos Estados Unidos com a criação de escritórios de advocacia virtuais. Segundo ela, a criação de portais na internet, com dispositivos de segurança da informação, para a prestação de serviços jurídicos e fomentar a interação entre clientes e advogados é um caminho sem volta. Por este motivo é necessário criar recursos de acesso online a todo tipo de informação relevante a prática profissional.

A ideia de trabalhar vinculado apenas ao computador desktop está desaparecendo, o conteúdo armazenado pelos escritórios está sendo digitalizado e acessado pela internet. O que importa é manter qualidade dos serviços com respostas rápidas e eficientes. O local de trabalho passou a ser irrelevante.

Tom Mighell demonstrou como as Faculdades de Direito norte-americanas não estão preparadas para capacitar os alunos sobre as técnicas de gestão das atividades profissionais. Segundo ele, os professores de Direito nem sempre têm uma visão prática da carreira jurídica pois, em regra, não estão ativamente exercendo a advocacia. Some-se ainda o fato de que o meio acadêmico não despertou para capacitar os alunos para o uso de tecnologia aplicada a prática diária das atividades profissionais.

No Brasil, este fato ainda é mais preocupante, pois são raras as faculdades que adaptaram a grade curricular para capacitar os alunos sobre as práticas processuais por meio eletrônico, os crimes cibernéticos e outros temas inovadores relacionados com a tecnologia.

Ari Kaplan encerrou o primeiro ato incentivando os advogados a empreenderem técnicas de trabalho colaborativo, mudar sua perspectiva, evitar distrações com o acesso de conteúdo online e não se sentirem frustrados mesmo quando se comete alguns erros estratégicos, pois o aprendizado também se faz a partir dos insucessos.

No próximo artigo abordarei a segunda parte do Ignite Law.

Autores

  • é advogado, sócio do escritório Aristoteles Atheniense Advogados, presidente da Comissão de Tecnologia da Informação do Conselho Federal da OAB, coordenador e professor do Curso de Pós-Graduação de Direito de Informática da Escola Superior de Advocacia da OAB/SP

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