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Defesa do casal Nardoni descarta acareação

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25 de março de 2010, 21h45

Paulo Stocker
Ilustração do Tribunal do Juri do casal Nardoni - Stockel

O advogado Roberto Podval descartou acareação entre a mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, com o casal Nardoni. Ela estava à disposição da Justiça desde o primeiro dia de julgamento e chegou até passar mal nesta quinta-feira (25/3) pela manhã. Esse foi o principal motivo para a sua dispensa. Um psicólogo forense atestou que Ana Oliveira está com o psicológico abalado e não podia fazer a acareação. O julgamento foi interrompido às 20h50. Na saída, diante da fúria dos manifestantes pedindo Justiça, Podval afirmou ter “pena dos manifestantes, pois amanhã vão bater na porta de um advogado para defendê-los da fúria do Estado”.

O pedido de acareação foi motivado depois do depoimento da mãe de Isabella, que, segundo a defesa, mentiu em alguns momentos. O seu depoimento foi colhido logo no primeiro dia do Júri. O tema já tinha sido motivo de discórdia na quarta-feira (23/4). O juiz Maurício Fossen tinha indeferido o pedido da defesa de manter a acareação, mas resolveu voltar atrás no momento de fundamentar o seu despacho.

Fossen percebeu que cercearia o direito de defesa dos réus e levantou a tese da plenitude de defesa, prevista na Constituição, que garante mais direito que a própria ampla defesa. Um dos direitos é que poderão ser usados todos os meios de defesa possíveis para convencer os jurados, inclusive a acareação entre testemunha e réu.

O quarto dia de julgamento também foi marcado pelo depoimento do casal. O depoimento de Anna Carolina Jatobá durou mais de quatro horas. Entre frases confusas e desconexas, ela relata diversos abusos da polícia durante a fase de investigação. Conta que foi pressionada para se declarar culpada desde o início. “Eles [investigadores] me perguntavam se eu tinha noção do que era a cadeia, além de reforçarem que Alexandre tinha curso superior completo e eu não.”

Anna também contou que ficou sabendo da proposta que a polícia fez para o seu marido, na época do crime, para ele assumir a responsabilidade pelo homicídio culposo (aquele que não tem intenção de matar), em troca de sua inocência. Questionada se os seus advogados tomaram providência depois de saber do tal acordo, ela disse que não.

Outro ponto alto do depoimento, foi a declaração de Anna de que a delegada Renata Pontes fez de tudo para ela dizer que Alexandre tinha cometido o crime. “A delegada disse que ele [Alexandre] era um psicopata, que tinha cara de psicopata.” Enquanto isso, Alexandre escutava atentamente o interrogatório da mulher.

Antes de Anna, Alexandre foi interrogado. Na maioria das perguntas, dizia não se recordar do seu depoimento anterior. Nardoni chegou a perguntar para o promotor onde ele queria chegar com tais perguntas. A ousadia foi interrompida pelo juiz Maurício Fossen. O juiz garantiu que se a pergunta fosse impertinente ele mesmo iria interromper.

O casal entrou em contradição em vários momentos. Alexandre disse que não trancou a porta do apartamento depois de ter deixado Isabella. Já Anna disse que ele tirou a chave do bolso para abrir a porta. Alexandre disse que não colocou a cabeça no buraco para ver a filha no terraço. Do outro lado, Anna disse que ele colocou sim a cabeça pelo buraco da janela.

A próxima fase do Júri será de debates. A acusação tem duas horas e meia para falar. Depois vem a réplica (que ficará a critério do promotor). Se ocorrer a réplica, passa-se à tréplica, com a fala da defesa por duas horas.

Após encerrada a fase de debates, o Conselho de sentença reúne-se na sala secreta com o juiz, promotor e advogados, para votação dos quesitos, que determinará o veredicto (absolvição ou condenação). Terminada a votação, o juiz lê a sentença em plenário, com base na decisão dos jurados.

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