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Os livros da vida do professor Francisco Jucá

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23 de junho de 2010, 18h20

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De forma dinâmica, o juiz da 14ª Vara do Trabalho de São Paulo e professor do Mackenzie, Francisco Jucá, fala sobre sua paixão por livros e preferências musicais. Sua aproximação com os livros começou cedo, através de sua avó materna. Com uma "prazerosa" caminhada pela literatura francesa, alemã e brasileira, ele mostra que nem só de decisões vive um juiz. Jucá também é autor de três livros sobre Direito do Trabalho.

Nasceu no Rio de Janeiro, mas morou décadas em Belém do Pará com a família. Em decorrência disso, sua formação acadêmica em Direito e iniciação da carreira aconteceram lá. Só em 1999 mudou-se para são Paulo, e a partir de 2000 passou a ser professor de Direito no Mackenzie.

Aos cinco anos, o juiz teve seu primeiro contato com um livro. Nada muito convencional. Ao contrário de outras crianças, Francisco Jucá começou a ler contos infantis em francês e alemão. Os irmão Wilhelm e Jacob Grimm, Andersen, Julio Verne, e também Monteiro Lobato marcaram sua infância.

"Por eu ser filho único e não haver nenhuma criança na família, além de mim, minha avó sempre foi muito preocupada comigo. Por esses motivos a minha leitura sempre foi muito defasada em relação a livros infantis. Desde muito cedo li livros de adulto", frisa o professor.

"O Pequeno Polegar dos irmãos Grimm marcou minha infância. Acho que por eu ter crescido em um ambiente católico e o livro ter algumas semelhanças com as histórias bíblicas. Não sei bem."

Em seguida, entre os 10 e 11 anos, leu bastante Dostoiévski, como os Irmãos Karamazov. "Estou lendo-a novamente, mas sem dúvida, esta é uma obra aclamada pela crítica e trata-se de uma narração muito pormenorizada dos fatos de uma cidade russa." A narrativa não só conversa com o leitor, mas é onipresente e também indica ou infere os pensamentos dos incontáveis personagens, explica.

Na adolescência se voltou para a literatura brasileira. Enveredou pelo ciclo nordestino brasileiro de Lins do Rego, Raquel de Queiróz, e o regionalismo de Guimarães Rosa e Jorge Amado.

Depois de anos entre os livros, sua leitura foi se direcionando. Aos 20 anos Jucá tem contato com os títulos de Albert Camus e Jean Paul Sartre. O juiz ficou fascinado com a obra em que Sartre relata sua experiência como prisioneiro na Segunda Guerra. "Essa experiência e os fatos da Segunda Guerra na história francesa me fascinam, me encantam e, foi a partir daí que enveredei por toda a obra sartreana", relata. Ele despertou para o existêncialismo francês. Em paralelo, ainda por influência sartreana, começou a investigar O Capital, de Karl Marx.

No decorrer de sua vida literária, ele nunca perdeu o contato com a literatura teológica. "Sou católico praticante. Além da herança familiar tenho muita coisa dos jesuítas. Afinal de contas, ninguém passa pela vida impunimente", afirma.

"Na minha vida jurídica e metodológica, não me desligo do Sartre nem do Antonio Grasmci, que foram e ainda são importantes para a minha formação." Pela paixão à ciência política, "é uma herança de infância", seu fascínio pelo direito alemão é notório.

Segundo ele, o Brasil viveu uma ameaça quanto à existência de escritores jurídicos, "que ainda bem não seguiu em frente. A nova geração do Direito Constitucional no Brasil está muito rica, profunda e interessante. Dentre os autores que mais importam para mim cito Gilmar Mendes e André Ramos Tavares".

Seu contato precoce com os livros, o influenciaram a, além de ler, escrever. Francisco Jucá tem três livros publicados pela LTr, Direito Constitucional do Trabalho, Modernização do Direito do Trabalho e Parlamento do Mercosul, além de ter contribuído em mais de dez obras coletivas, inclusive três que estão saindo este ano, uma delas em Portugal.

Além de apreciar a literatura em geral, especialmente a francesa do final do século XX, o juiz é um amante da música popular brasileira e clássica e de canções americanas da primeira metade do século XX, na voz de Sinatra, Tony Bennet, e na canção francesa Aznavour, Montand, Mathieu. "Algumas vezes adoro as Big Bands do anos 40, Dorsey por exemplo e o jazz clássico de Elington, Short, Armstrong", completa.

Para o professor, a leitura é muito importante em todos os âmbitos da vida e quando se trata de leitura nada é desperdiçado. "Acho que tudo faz o caldo de cultura na formação da gente. Tudo o que eu li deixou marcas interessantes, até as discordâncias. Não existe obra sem utilidade, mesmo aquelas que não são tão substanciosas, tão cheias de conteúdo, em um dado momento ela terá sua utilidade", finaliza.


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O Pequeno Polegar - Irmãos Grimm - Divulgação

Primeiro livro
"Sempre tive uma leitura defasada, mas minha avó se preocupou em relação à literatura infantil." Os livros dos Irmãos Grimm e de Monteiro Lobato marcaram a infância do professor. Sobre O Pequeno Polegar, um dos livros que mais gostou, ele conta que especula-se ter tenha sido inspirado na história hebraica do pastor Davi, que depois virou rei dos hebreus. Na obra, Davi era o filho caçula dentre os sete pastores hebreus. Mas, "talvez esta seja uma simples suposição em função da semelhança entre as histórias".

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O Poço do Visconde - Monteiro Lobato - Divulgação

O Poço do Visconde, de Monteiro Lobato, também faz parte da história do professor. O livro conta a descoberta, entre os livros de Dona Benta, de um tratado de Geologia pelo Visconde de Sabugosa e pôs-se a estudar essa ciência — a história da terra, não da terra-mundo, mas a terra-terra, da terra-chão. Mesmo sendo um livro infantil abordou um tema significante nos dias atuais. Pois, na época, pessoal do Sítio do Picapau Amarelo queria escavar um poço de petróleo. Sua publicação sofreu críticas, visto que o livro afirma que havia petróleo no Brasil enquanto que os técnicos do governo diziam que o Brasil não tinha nem poderia ter petróleo. "As afirmativas de Visconde não passavam de heresia."


Livros de literatura

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Os Irmãos Karamazov - Fiódor Doistoiévski - Divulgação"Gosto de romance, mas nada exagerado. No momento estou lendo o Itinerário Teológico de Ratzinger, e, ao mesmo tempo relendo Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoiévski." O livro retrata o embate entre pai e filho. Além de conversar com o leitor, a narrativa é onipresente e também indica ou infere os pensamentos dos incontáveis personagens.

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Os Mandarins - Simone de Beauvoir - Divulgação

Os Mandarins, de Simone de Beauvoir, está entre os seus prediletos. "Este livro é bom porque explora a vida pessoal dos outros de uma forma interessante, sem invadir o pessoal." O título se refere aos altos funcionários públicos da China Imperial. Os personagens por vezes se veem como "mandarins" ineficientes ao tentar discernir qual papel caberá aos intelectuais na influência do cenário político após a Segunda Guerra.

Assim como em outras obras de Simone de Beauvoir, temas como feminismo, existencialismo e moralidade pessoal são explorados enquanto os personagens navegam não apenas pelo cenário intelectual e político, mas também através de seus relacionamentos instáveis entre si. "Este livro me fez entender um pouco mais do universo das mulheres", brinca.


Livros didáticos

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Visão do Paraíso - Sérgio Buarque de Holanda - DivulgaçãoNa sua formação, influenciaram Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado, Celso Furtado e Darcy Ribeiro, "que me ajudaram a entender o Brasil e suas contradições". Na formação jurídica cita como "básico" Hans Kelsen, Pierre Marie Nicolas Léon Duguit, Friedrich Carl von Savigny, Gaston Jèze, Maurice Duverger, Jean-Luc Picard, Giuseppe Chiovenda, Hermes Lima, Reale, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Raul Machado Horta, Temístocles Cavalcanti e Artur Machado Paupério.

O livro Visão do Paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda, aborda e analisa os mitos edênicos acerca do descobrimento e colonização da América. "Além de falar de política, economia da época também compara com a bíblia", conta.


Livros jurídicos
Não deixo de ler sempre alguns autores, aprendendo com eles desde sempre: Miguel Reale, Goffredo Telles, Pontes de Miranda, Pinto Ferreira, Manoel Gonçalves, Franco Montoro.

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