Coisa de mulher

Repórter da ConJur fala da mulher corintiana

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14 de junho de 2010, 7h43

Geiza Martins, repórter da revista Consultor Jurídico, é uma das raras mulheres capaz de dizer o que é um impedimento num jogo de futebol sem fazer referência às pernas do centroavante ou do zagueiro envolvidos no lance. E é justamente em sua condição de mulher que entende de futebol que ela, em companhia de sua amiga Juliana Francini, se dispôs a contar a história das Mulheres do Parque São Jorge – Histórias de um amor alvinegro.

Quando entrou na parada, Geiza nem corintiana era – ainda –, mas se entregou com paixão ao projeto de contar as emoções e sentimentos dessas mulheres que amam o Corinthians acima de todas as coisas. Ao final do trabalho, depois de frequentar estádios, a quadra da Gaviões da Fiel e entrevistar por horas sem fim as mulheres que se transformaram personagem do livro, ela acabou se rendendo à paixão do timão.

O livro fala mais de paixão do que de esporte. Mostra como, igual a todas as paixões, o amor pelo time do coração nasce da forma mais irracional que se possa imaginar, mas com o tempo costuma criar raízes em racionalismos ou interesses nem sempre conscientes. É o caso de Giselle Galichio, que como já indica seu sobrenome peninsular, só poderia ter nascido numa casa de palmeirenses, mas mesmo assim se esmerou em uma corintiana fanática desde criancinha (e que quando ficou mais crescidinha ainda descobriu  um raro torcedor da Portuguesa para se casar).

Todas nascem corintianas, sem saber por que, mas permanecem corintianas por alguma razão. Marlene Mateus, por exemplo, teve todas as razões políticas do mundo para ser corintiana até depois da morte do marido, o inefável Vicente Mateus, o folclórico presidente do clube que tirou o Corinthians da fila de 23 anos sem título. Pelos seus dois amores – o Vicentão e o Coringão – foi até candidata a presidente do time de Parque São Jorge com o corajoso slogan de campanha “Vote em Marlene e eleja o Mateus”. Por uma impedimento regimental, Mateus não podia se reeleger mais uma vez e claro que Marlene foi eleita no lugar dele.

Tem também o caso de Andrea Pasquini, também corintiana desde criancinha, que quando cresceu, com uma paixão no coração e uma câmara na mão, registrou em filme os delírios da torcida na descida do time ao inferno da segunda divisão. Para fazer Fiel, o documentário que mostra de maneira irretocável a vocação do corintiano para o sofrimento, Andrea se transformou numa autêntica fiel, frequentou arquibancadas e entrou no espírito da galera alvinegra. No fim da obra, também estava mais corintiana do que quando entrou e virou ídolo da torcida, o que não é pouca coisa.

Ao todo são dez personagens, mas nenhuma tem o encanto e a espontaneidade de dona Geni, de 88 anos, que é considerada a torcedora-símbolo do Corinthians, legítima herdeira da Elisa — a histórica torcedora-padrão do time. Quando moça, dona Geni dividia sua paixão alvinegra com o marido Luiz. Quando o companheiro a deixou após um ataque cardíaco, ela caiu na mais profunda depressão. Só voltou a sorrir depois de associar-se à Gaviões da Fiel, a maior torcida organizada de Parque São Jorge, e voltou a frequentar os estádios de futebol e as quadras de samba, sempre vestida de preto e branco, é claro.

Dona Geni só perde o humor quando alguém pisa na bola. Ela não suportava o hábito melífluo do ex-jogador corintiano Marcelinho Carioca de beijar a bola antes de cobrar uma falta ou um pênalti: "Para de beijar a bola e vai beijar mulher, Marcelinho", esbravejava ela quando o jogador chutava a beijada prá fora.

Quem ler o livro não corre o risco de também se tornar corintiana ou corintiano. Mas vai entender um pouco melhor a força de atração que um time ou uma bola pode exercer sobre um ser humano, seja ele homem ou mulher.

Ficha técnica:
Livro: Mulheres do Parque São Jorge
Autoras: Geiza Martins e Juliana Francini
Fotos: Moisés Moraes
Editora: Matrix
Para comprar, clique aqui ou ligue (11) 3873-2062

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