Livro Aberto

Os livros da vida do advogado Pierre Moreau

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7 de julho de 2010, 14h09

Spacca
Pierre Moreau - SpaccaNem sempre a leitura foi uma paixão na vida do advogado Pierre Moreau. Sócio da Casa do Saber, um centro de debates culturais em São Paulo, com filial no Rio de Janeiro, Moreau confessa que o afeto pelos livros nasceu recentemente em sua vida. Nascido em 1964, há apenas dez anos o advogado se dedica com carinho às obras. "Hoje, eu gosto e vivo leitura." Além de frequentador assíduo da Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), participa da formação da grade de cursos da Casa do Saber e é um dos responsáveis por convidar professores de literatura para palestras.

Um dos seis filhos de uma instrumentadora cirúrgica, Moreau vem de uma família de leitores assíduos. Para lembrar da primeira vez que teve contato com leitura, ele fecha os olhos. A recordação que vem à mente é de folhear a edição de uma revista National Geographics, quando era uma criança ainda não alfabetizada. As fotografias eram o que mais chamava a atenção dele. "Eu olhava as capas, que eram muito bonitas e coloridas. Não entendia o que era aquela escrita, mas as fotografias maravilhosas me atraíam profundamente."

O processo de alfabetização não foi fácil. Um pouco mais crescido, foi matriculado em uma escola pública. A dificuldade veio com a baixa qualidade de ensino. "Na década de 1970, ainda existiam boas escolas, mas eu estudei em uma ruim." O mesmo aconteceu no ginásio. Quando estava na sétima série, foi transferido para o colégio particular Notre Dame, em Campinas (SP). Lá, sofreu para acompanhar a turma que era mais bem preparada do que ele.

No colegial, Moreau tinha uma bolsa de estudo no Colégio Presbiteriano Mackenzie por ser jogador da seleção Paulista de Vôlei. "Meu sonho era ser profissional. Eu era um atleta adotado, que eram os grandes talentos que iam se transformar em grandes jogadores." A sua altura, no entanto, foi um forte adversário na rede. Um dia, um dos responsáveis pela bolsa do programa Adote um Atleta o aconselhou a dar lugar a outro estudante. "Ele disse que eu era baixo e que estava atrapalhando o programa porque havia uns ‘pirulitão’ que, com treinamento, jogariam melhor do que eu."

A decepção com o descarte só passou quando ele foi convidado pelo amigo Ricardo Saad, sócio do Grupo Bandeirantes, a escolher uma área para trabalhar dentro da TV Bandeirantes. "Lembro que fiquei andando dentro da TV e acabei escolhendo o departamento jurídico." Uma de suas primeiras tarefas foi negociar um contrato com a apresentadora Hebe Camargo. "Eu ainda estava no segundo colegial. A ordem era falar com Hebe e voltar com o contrato assinado. Ela disse: "Você é tão criança ainda. Deixa que eu vou tratar desse assunto com o departamento jurídico"."

A experiência o fez escolher a advocacia como profissão. Antes de montar seu próprio escritório, o Moreau Advogados, atual Moreau & Balera Advogados, trabalhou com o tio, Renato Freire, no escritório Amaral Gurgel, Straube e Freire Advogados. "Ele era um advogado muito importante, era sócio lá." Depois, chegou a atuar no Demarest e Almeida Advogados.


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O Jogador - Dostoiévski - Reprodução

Primeiro Livro
Pierre Moreau não lembra exatamente qual foi o primeiro livro que leu. Mas, Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, é uma das obras que marcou sua juventude. "Gostei tanto que depois, quando já tinha me tornado adulto, li novamente. O olhar, daí, foi totalmente diferente." Outra obra é Um Jogador, do russo Fiódor Dostoiésvsky, que fala sobre o vício e paixão pelo jogo. "Me identifiquei porque, na época, viajava muito com a minha família e ia a cassinos."


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Ulisses - James Joyce - Reprodução

O que está lendo
Recentemente, o advogado tomou a decisão de ler obras clássicas que classifica como "mais densas". "Estou no meio do caminho com Ulisses [do irlandês James Joyce]. Não é um livro muito fácil. Também tenho lido muito Machado de Assis, e também uma série de livros que são recomendados por amigos."


Literatura
"Hoje, eu me sinto um homem que tem o prazer de desfrutar o que a literatura fornece." Fora os livros da juventude, um dos que são destaque na lista de favoritos de Pierre Moreau é o clássico Em Busca do Tempo Perdido, do francês Marcel Proust. "Me arrisquei a ler. Me deu um trabalho louco", diz rindo.


Livros jurídicos
O primeiro livro sobre Direito que emocionou Moreau foi Teoria Tridimensional do Direito — Fato, Valor e Norma, de Miguel Reale. "Esse livro abriu minha cabeça. Fiquei espantado, pensei: ‘Como esse homem [Miguel Reale] é inteligente’. Porque é realmente isso: para cada problema humano você tem uma determinada lei aplicada e você vai ter um fato, um valor e uma norma, e naquele processo você vai ter que juntar esse três."


Literatura para Direito
Moreau defende que a literatura é muito importante para a carreira jurídica. De acordo com ele, uma série de livros auxiliam o advogado a ajudar o cliente. "Aprendi com um professor meu de Harvard. Ele citou um ministro da Suprema Corte Americana chamado Cardoso, que fundamentou todas suas decisões judiciais em literatura." Para aprender a lei do comércio internacional, Moreau recomenda O Mercador de Veneza, de William Shakespeare, "que dá uma série de dicas das complexidades que é fazer transporte internacional".


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O Veredito - Reprodução

Música e filme
"Para mim, música está muito ligada à emoção que a gente vive no momento em que a escuta. Espanhola é uma das que gosto muito." A canção é de autoria de Flávio Venturini e Guarabyra. Já o compositor favorito de Pierre Moreau é Vinícius de Moraes. No campo cinematográfico, o longa-metragem preferido é O Veredito, um filme americano de 1982, com Paul Newman. "É a história de um advogado alcoólatra, que advoga contra um grande hospital envolvendo um erro médico."

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