Perdas de bilhões

Ex-diretor é inocentado em ação movida pela Sadia

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27 de agosto de 2010, 12h35

O Tribunal de Justiça de São Paulo inocentou o executivo Adriano Ferreira, processado pela Sadia por perdas de R$ 2,48 bilhões em derivativos no auge da crise financeira global. Cabe recurso. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo. Ferreira foi acusado de tomar as decisões que resultaram nos prejuízos bilionários sem conhecimento do Conselho de Administração da companhia. Por dois votos a um, os juízes entenderam que o executivo não agiu sozinho.

Os juízes nem chegaram a votar o mérito da questão. Foi uma decisão baseada em um argumento técnico. No começo de abril de 2009, o Conselho de Administração decidiu processar Ferreira com base num relatório da auditoria BDO Trevisan, que considerou o executivo o único responsável.

No entanto, poucos dias depois, em uma assembleia geral ordinária, a Sadia aprovou as contas de 2008, um procedimento formal. O advogado de Ferreira argumentou que, ao dar esse aval, a empresa também admitia que estava ciente das manobras financeiras.

Durante o julgamento, no entanto, o desembargador Ênio Zulani se pronunciou sobre o caso. Segundo fontes que acompanharam o julgamento, Zulani disse que estudou o tema derivativos. Ele concluiu que, como se tratava de um investimento de alto risco, utilizado pela empresas há muito tempo, não era possível que as pessoas a quem Ferreira se reportava desconhecessem o problema.

A Sadia teve prejuízos que quase a levaram à falência. Os derivativos cambiais são instrumentos usados para proteger as empresas contra as oscilações bruscas do dólar. Mas, antes da crise, as empresas utilizaram os derivativos de uma forma especulativa para alavancar seus lucros.

Procurada, a Sadia não se manifestou. A empresa ainda pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça. Antes da decisão da última quinta-feira (26/8), o juiz de primeira instância havia decidido a favor da Sadia, mas Ferreira recorreu.

Biografia
O baiano Adriano Ferreira, 41 anos, esteve no centro de um terremoto financeiro na Sadia, que quase levou a empresa à falência. Para escapar da bancarrota, a companhia catarinense, que pertencia às famílias Furlan e Fontana, foi obrigada a se fundir com a rival Perdigão. Com a operação, surgiu a Brasil Foods, uma das maiores empresas de alimentos do país.

O conselho de administração demitiu Ferreira logo após os problemas financeiros, alegando que ele tomou as decisões sem o conhecimento dos acionistas da empresa. Até então, o executivo, com apenas 39 anos, era considerado um menino "prodígio" dentro da companhia.

Pessoas próximas a Ferreira dizem que a quinta-feira foi um dia de alívio, embora ele ainda saiba que "ganhou uma batalha, mas não a guerra". Aos amigos, o executivo admite a possibilidade de processar a Sadia depois que o caso chegar ao final.

Ferreira viveu um drama pessoal na época. Quando foi demitido da Sadia, em setembro de 2008, sua mulher estava grávida de gêmeos e teve os bebês prematuros, que passaram semanas no hospital. Ferreira passou quase um ano desempregado, mas desde o segundo semestre de 2009 ocupa o cargo de diretor financeiro da Kasinski. Ele entrou na empresa depois que a fabricante de motos foi comprada pela chinesa Zongshen Industrial Group.

Numa reportagem da Revista Piauí, de novembro de 2009, Ferreira conta que tomou conhecimento da sua demissão no fato relevante que a Sadia divulgou ao mercado, em que o responsabilizava pelos prejuízos. Ele diz que só foi informado oficialmente no dia seguinte.

Foi então que divulgou uma carta aberta, se dizendo "surpreso" com a decisão. Ferreira classificava a cultura financeira da companhia como "atípica", e dizia que a decisão de processá-lo era "uma clara tentativa de isentar os demais administradores da Sadia, que geriram a companhia junto comigo e que compartilharam as mesmas decisões e as consequências positivas delas". Na carta, Ferreira contou que operações de derivativos cambiais sempre fizeram parte das "práticas comerciais e financeiras" da Sadia e que, desde 2003, foram responsáveis por 60% do lucro da companhia.

Economista formado pela Universidade Católica de Salvador, começou a carreira na Odebrecht. Passou uma temporada em Madri, na área financeira da Atento, empresa de callcenter da Telefónica. No fim de 2002, voltou ao Brasil e foi contratado pela Sadia.

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