LIVRO ABERTO

Os livros da vida do advogado Roberto Podval

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25 de agosto de 2010, 16h42

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Roberto Podval - Spacca - Spacca

“O livro toca no momento de vida de cada um”. É o que afirma o advogado criminalista Roberto Podval. O seu mais recente desafio foi defender o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Os dois foram condenados pela morte de Isabella Nardoni, filha de Alexandre. Ao longo de uma semana de julgamento, em meio ao clamor popular, o advogado foi agredido e xingado quando entrava no Fórum de Santana, em São Paulo. Tudo isso porque estava no papel de garantir aos réus um direito básico: o de ampla defesa. E um livro o ajudou a superar esse desafio — Paixão e Crime, de Carlos Lacerda.

“Na ocasião do Júri, eu ganhei o livro que me chamou muita atenção porque tinha tudo a ver com o que eu estava vivendo naquele momento”, comenta. A obra conta uma história que aconteceu na Suíça — um advogado foi acusado pelo homicídio de uma senhora com quem ele teria tido um caso. “Ele foi acusado, processado e condenado sem que existissem efetivamente provas contra ele”, explica. Podval ressalta que o debate das provas entre os peritos é um dos pontos mais interessantes da obra.

Podval afirma que a advocacia criminal é um trabalho árduo e penoso. Isso porque se despende muito tempo estudando o caso, mas sob pressão fica pior a situação. “Antes, você tinha os jornais e a televisão como meios de comunicação fortes, mas com a internet ficou muito mais amplo. No caso Nardoni, eu não podia pedir o desaforamento do Júri porque não existia uma cidade onde o clamor não tivesse alcançado”, lamenta.

De acordo com o advogado, o alcance da internet também tem seus pontos positivos e pode ajudar na formação. “Hoje, podemos procurar na internet um livro, comprar e ainda pedir para entregar. Antes, não se sabia nem se o livro que você precisava existia”, afirma. No início de sua carreira, seu mentor — o advogado criminalista Alberto Silva Franco — dizia que livros ele deveria ler. Os dois viajam para fora do país onde aproveitavam para buscar o que havia de melhor.

“No Brasil, a produção acadêmica ainda é pouco aprofundada porque não existe estímulo. O advogado é professor nas horas vagas. Ele não tem o cargo de professor para poder preparar uma aula ou escrever um livro”, ressalta. “E os que lecionam e escrevem livros são heróis porque o fazem nos finais de semana”, elogia.

Os livros preferidos de Podval ficam em uma prateleira atrás de sua mesa em seu escritório. O hábito da leitura nasceu tarde, como ele mesmo conta, mas sua infância não foi menos aproveitada por isso. “Eu morava na Granja Viana, e na época, eu brincava muito, andava de bicicleta na rua”, lembra. Atualmente, ele explica que lê de tudo. E tem até uma mania para ler todos os livros que ganha e compra. “Eu tenho uma pilha de livros não lidos em casa. Sempre que ganho algum coloco embaixo da pilha. Assim, me obrigo a ler os que chegaram primeiro para ler aquele que realmente tenho vontade”, enfatiza.

Nas férias julho, ele viajou com a família. Sua filha tinha como lição ler um livro. “Nós combinamos que todo dia de manhã íamos ler algumas páginas. E ela acordava 7h da manhã. Ela lia e eu ia corrigindo”. Com sorriso no rosto, conta que foi uma das melhores experiências de sua vida. “O que era uma obrigação chata passou a ser uma diversão para ela, que depois contava a história do livro para os amigos”, observa. Ela gostou tanto que já quer programar as leituras novamente, comenta o pai.


Primeiro Livro

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A Ilha perdida - Coleção Vaga Lume - DivulgaçãoPodval conta que brincou bastante na rua e que quando era criança chegou a ter um cavalo em casa. Segundo ele, o estímulo para ler veio no período escolar com as coleções de livros infantis: Para gostar de Ler e Coleção Vaga-Lume. “Eu lia as crônicas que eram divertidíssimas. E também o livro A Ilha perdida”, lembra. As coleções de livros infantis sempre fizeram sucesso com histórias que agradam todos os gostos, de suspense a contos passando por poesias. Ele também lembra de ter lido a coleção de Monteiro Lobato.


Literatura

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Os Irmãos Karamazov - Fiódor Dostoiévski - DivulgaçãoFoi na adolescência que apurou seu gosto para literatura com os clássicos russos e norte americanos. Podval leu Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoiévski. Também leu alguns títulos Liev Tolstói e ainda os americanos como o mestre Ernest Miller Hemingway.
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O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde - Divulgação Mas um outro clássico chamou a atenção do advogado recentemente: O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde. Ele diz que releu a obra enquanto estava de férias.


Livro Jurídico
Desde que começou a cursar Direito, Podval já tinha definido que iria seguir sua trajetória na área penal. Dentre os advogados que ele destaca, figuram Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, Márcio Thomaz Bastos, Arnaldo Malheiros, Tales Castelo Branco e Alberto Silva Franco. O último foi com quem aprendeu a escolher os livros. “Ele ia na livraria e punha os livros abaixo. Revirava tudo e me dava meia dúzia de livros dizia ‘leia isso’”, conta.

Dentre os clássicos do Direito Penal, ele indica Direito e Razão de Luigi Ferrajoli, como referência de “garantismo”. Ponto que levou Podval a questionar seu papel no Júri dos Nardoni. “Eu fiquei um pouco desiludido. É triste porque tudo que você aprendeu não é aplicado. Fui sabendo o que ia acontecer”, comenta. 

Sobre as agressões que sofreu de populares, ele diz apenas que um dia eles vão bater na porta de seu escritório pedindo para que sejam defendidos. E ressalta que o clamor foi inflado pela imprensa e por declarações de pessoas consideradas formadoras de opinião. “Na sociedade, devem haver núcleos de resistência pelo direito de defesa”, assevera. 


Li e gostei

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O menino do pijama listrado - John Boyne - DivulgaçãoPodval recomenda O menino do pijama listrado, de John Boyne. Ele nem quis assitir ao filme. "Aquele livro me tocou tanto que não tive vontade de ver o filme", diz. O livro conta a história de um menino chamado Bruno, de 9 anos, que não sabe nada sobre o Holocausto. O livro fala sobre amizade em tempos de guerra.

Outra obra que ele recomenda é O velho e o mar de Ernest Hemingway. "É a história de um velho que sai com seu barco para pescar. E o livro conta a briga dele com um peixe enorme, descreve a luta. Quando ele consegue, precisa até amarrar o peixe do lado de fora do barco. Mas, no caminho, os tubarões atacam e devoram o peixe". É uma história bem bonita.

Podval afirma não ter um gênero preferido, mas diz que lê o que estiver de acordo com o seu momento. A única coisa que não faz nunca é deixar um livro pela metade.

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