As costas do ministro

Joaquim Barbosa está sofrendo perseguições pessoais

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14 de agosto de 2010, 8h19

Todas as revistas especializadas, eletrônicas e impressas, indicam há anos o Ministro Joaquim Barbosa como o maior inimigo da advocacia no Supremo Tribunal Federal. Como toda “moda”, essa pegou, e tornou-se lugar comum nas crônicas e noticiários forenses desde sua posse em uma das onze cadeiras da Corte. Fácil saber a origem disso: vindo do Ministério Público Federal, o Ministro Joaquim tem posições menos “garantistas” que as proclamadas por Ministros como Sepúlveda Pertence e Eros Grau, para não se ir tão longe (Evandro Lins e Silva e Victor Nunes Leal são nomes adequados, mas não conhecidos pelos jovens do direito).

O Ministro Joaquim tem, e deve-se respeitá-la, história de sucesso profissional como jamais se viu no macrocosmo do Direito brasileiro, com exceção, talvez, aos antigos rábulas do início do século passado; de faxineiro já na maioridade, à Ministro do Supremo Tribunal Federal, sua história é incomum e respeitável.

Inimigo da advocacia, porém, o Ministro não é. Joaquim Barbosa não é um ditador, nem mesmo funcionário público a jogar sua própria falibilidade técnica nos ombros dos advogados; é, somente, mais um daqueles profissionais do Direito que, com o tempo, e diante das circunstâncias da vida, vai percebendo como os poderes do Estado, oficiais ou não (falo da imprensa) são capazes de, com leves insinuações, destroçar a vida de inocentes, e com pesadas acusações, forjar marcas inapagáveis não apenas aos acusados, mas em familiares e seus círculos sociais. Promotor de Justiça Federal de formação, se perceberá, em sua conduta, afrouxamento de posições mais rígidas. De tanto apanhar da vida se percebe, com o tempo, que o mais fraco na relação estado/cidadão merece paridade de armas e presunções positivas.

E ser o mais fraco (peço licença ao administrativistas) é questão, apenas, de conveniência e oportunidade no mundo político judicial.

Basta ver os antigos promotores de justiça, nos tribunais do Júri, por exemplo: não se verificam berros, insinuações e palavras de ordem destes acusadores; esse privilégio cheio de equívocos é dos mais jovens.

Hoje, o mininistro Joaquim Barbosa encontra-se na situação prevista por Ferreira Gullar: “os fãs de hoje são os linchadores de amanhã”. Sim, aqueles que o louvaram, o estamparam em capas e longas entrevistas, o cantaram em bares (veja que curioso!) hoje insinuam sobre um possível golpe de preguiça de seu antigo herói.

Estarrecido, deparei-me há pouco como satisfações ofertadas pelo Ministro Joaquim à imprensa, tanto sobre sua vida fora STF, e sua cervejinha merecida, como sobre suas costas cronicamente doloridas.

Tudo, pois, o jornal Estado de São Paulo – cerceado de informar sobre certo caso criminal – noticiou que o Ministro, embora afastado dos trabalhos da Corte, tenha tomado, num sábado, cervejinha com amigos, e na sexta-feira, tenha comparecido a uma festa em Brasília com colegas, advogados e políticos (que no mundo de Brasília é idêntico a um compromisso profissional).

Evidente estar o Ministro com problemas de saúde há muito tempo. Nos longos julgamentos do Supremo pouco se via o Ministro sentado, e quando assim, em seu rosto, percebia-se o incomodo vindo de sua coluna. Chegou-se a vê-lo amarrando estranha almofada nas costas para poder se sentar. Mas dirão os hipócritas fiscalizadores da vida alheia (embora a vida de Joaquim Barbosa seja pública e necessariamente ilibada): mas está afastado do trabalho de segunda à sexta-feira, e no sábado vai a botecos?

Por primeiro, necessário saber se ele vai a botecos no meio do tratamento ou, num sábado, passou num para encontrar e papear com amigos, após semana longa de fisioterapia e tratamentos.

Segundo, e mais importante, é se chegou ao boteco, se sentou por alguns minutos, se levantou, se sentou, se levantou e se sentou como faz, diuturnamente, para aliviar as dores estampadas na TV Justiça, ou se dançou salsa e rumba com todas as damas do estabelecimento.

Ora, um juiz sofre acidente de carro, quebra o joelho e no terceiro mês de gesso, afastado do trabalho, não pode passar no bar onde encontra sempre os amigos para um olá? Para uma cervejinha?

Deixemos de ser hipócritas!

O curioso é estar o Ministro há tempos afastado e agora – estando o escândalo lançado, as insinuações ventiladas e os espíritos excitados – se afirmar necessário que o Ministro passe por exames médicos. Ora, permitiu-se que funcionário público receba licença médica sem a comprovação de doença? Quedou-se inerte a presidência da Alta Casa?

Sim, o Ministro Joaquim, que muito já pareceu ter ilusões persecutórias, hoje, com a publicação dessa insinuação, comprova ser real o que pensamos ser ilusão. Alguém, definitivamente muito poderoso, não gosta dele.

Não conheço o Ministro Joaquim, ele não sabe, sequer, que existo como homem, nem como advogado. Escrevo tais palavras, pois, lutando todos os dias contra abusos do poder público contra o cidadão, não posso, também como homem e advogado, deixar de indignar-me ao ver homem honesto e de reputação ilibada ser atacado por insinuação não adjetivável.

Joaquim Barbosa sofre hoje, com aquilo que os advogados tentam tanto convencê-lo que existente e comum: perseguições pessoais e interesses escusos por detrás de acusações.

Sabe ele, hoje, não sermos delirantes. E que está convidado para uma boa cerveja, quando estiver em São Paulo.

Melhoras.

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