LIVRO ABERTO

Os livros da vida do advogado Antonio Corrêa Meyer

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11 de agosto de 2010, 14h08

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"Eu gostava de jogar futebol, mas sempre encontrava um tempinho para ler. Naquela época, tínhamos tempo pra isso, até porque não existia celular, internet, essas modernidades que existem hoje." É assim que o advogado Antonio Corrêa Meyer, de 64 anos e sócio-fundador do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, começa a falar da sua paixão por livros, música e esporte. Meyer sempre esteve entre os advogados mais admirados no país nas área de Direito Societário, Contratos Comerciais, Comércio Internacional e Infra-Estrutura.

Nascido na cidade de São Paulo e diplomado em Direito em 1969 pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Meyer é o caçula de cinco filhos e iniciou-se na leitura com o incentivo de seu pai, que sempre leu muito e era dicionarista. "Ele lia bastante o dicionário, gostava não apenas de saber o que a palavra significava, mas descobrir a sua origem etimológica", lembra.

"Engraçado, sou o quinto e último filho e sou advogado, sendo que o meu irmão mais velho também foi advogado, mas já está aposentado. Meus outros irmãos seguiram carreiras distintas. E agora a história por pouco não se repete: tenho cinco filhos. O mais velho, Fábio, é advogado e a minha penúltima filha, Tereza, vai fazer o vestibular pra Direito este ano. Espero que passe", reflete, e torce pelo sucesso de sua filha, ao falar da trajetória da família.

O primeiro livro que leu não é bem uma narrativa, mas uma espécie de conto, um poema, como explica o advogado, que já foi secretário de Justiça de São Paulo. Juca e Chico, de William Busch com tradução de Olavo Bilac, "é um livro para criança, mas com uma tradução bem feita torna-se um poema engraçado e curioso que conta as travessuras de dois meninos chamados de Juca e de Chico", explica.

Busch é um crítico social, "mas ele criticava a sociedade através de contos de crianças, adolescentes — histórias aparentemente inocentes — e isso é bem interessante, pois, criticar de uma maneira simples e objetiva é importante. E olha que estamos falando do início do século XX". Um livro que marcou a juventude do advogado foi Sidarta, de Hermann Hesse. "Marcou porque eu vivia um momento de sonhos, e o livro é isso: desejos, sonhos e realizações espirituais", lembra-se.

A obra de Jorge Amado também teve grande influência na formação de Meyer, que acredita ter lido toda a sua obra. "Lembro de Capitães de Areia, um livro moderno para a época, que retrata a vida de meninos de rua, os capitães da areia, como eram conhecidos na cidade de Salvador dos anos 30. Gabriela Cravo e Canela é um retorno ao chamado ciclo do cacau, que cita o universo de coronéis, jagunços, prostitutas e trambiqueiros de calibre variado, que desenham o horizonte da sociedade cacaueira. O drama se desenrola na década de 20, na então rica e pacata Ilhéus, ansiando progressos, com intensa vida noturna litorânea, entre bares e bordéis, e acaba em uma explosão de folia e luz, cor, som, sexo e riso", conta como se tivesse vivido aquela época.

Meyer gosta de romances, mas que prefere contos. "Adoro contos policiais. De todos os que, li o meu contista favorito é Dalton Trevisan. Ele é um exímio contista, uma de suas habilidades é falar muito em uma frase curta. Descrever toda uma situação em uma frase. Isso é magnífico", diz.

Recentemente, leu o romance O Túnel do autor argentino Ernesto Sabato e também A Humilhação, de Philip Roth. O livro do autor argentino foi lançado em 1948, "e é uma das obras-primas de Ernesto Sabato". O protagonista é um pintor cuja crise metafísica se transforma em uma história de sexo, ciúme e crime. O título de Philip Roth, diz o advogado, é um livro breve, conciso e resumido, que algumas vezes deixa a impressão de parecer mais um conto que um romance.

Quanto aos livros jurídicos, Meyer diz que a lista de nomes é vasta. Mas na área do Direito Tributário, que foi a que o iniciou no Direito, gostava de ler os livros do Rubens Gomes de Sousa e os títulos de Guiomar Malheiros, que foi do STF. "Alfredo Augusto Becker teve uma influência muito grande na minha vida profissional, o li bastante. Geraldo Ataliba sempre foi uma fonte importantíssima de doutrina para minha formação. E do Direito Administrativo Celso Antônio Bandeira de Melo", fala o advogado ao lembrar das influências na sua carreira.

O advogado diz que deixou de atuar na área tributária e agora está atuando na área comercial e nessa área "leio os livros de Flávio Comparato, um título importante é o Poder de Controle da Sociedade Anônima. Além de Comparato, na área comercial leio os livros de Modesto Carvalhosa", afirma.

Fugindo do mundo jurídico e dos livros, Meyer diz que adora música. "Sou apreciador da Música Popular Brasileira. Minhas cantoras prediletas são Gal Costa, Rosa Passos, entre outras. Além de MPB gosto de Jazz e música clássica. Sempre que posso vou a apresentações", comenta. "Só pra não esquecer, os cantores de MPB Tom Jobim, Vinicius de Morais e Chico Buarque de Holanda, são extraordinários, fora de sério. Gosto de uma porção de gente, são tantos nomes que nem lembro. É importante destacar que a música brasileira é uma das melhores do mundo e devemos isso a nossa mistura de raça. Devemos muito à cultura africana", declara.

História de vida
Depois de três anos formado, em junho de 1972, tornou-se sócio da Barros e Freire Advogados, sociedade essa que, ao longo do tempo, com a alteração do seu quadro societário, passou a denominar-se Barros, Machado e Meyer Advogados e, em seguida, Machado, Meyer, Sendacz e Ópice Advogados. De 1984 a 1992, Meyer participou como membro do Conselho Diretor da Associação dos Advogados de São Paulo (Aasp), atuando em todos os cargos da diretoria até o exercício da presidência da entidade nos anos de 1991 e 1992. É membro do Inter-American Bar Association, USA, desde 1985.

É sócio fundador do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (Cesa) e presidente da entidade de 2006 a 2009. Na área política, o advogado ocupou a Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania de São Paulo e também a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo em 1994. Em junho de 2002 foi homenageado com o "Colar do Mérito Judiciário", pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.


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Juca e Chico de William Busch - Divulgação

Primeiro Livro
Nunca a literatura tinha conhecido duas figuras tão rebeldes. Max und Moritz são dois meninos que, numa pequena aldeia, infernizam a vida de seus principais moradores. Numa sucessão de sete travessuras, conhecem um final que seria trágico, não fosse dedicado ao humor e ao cruel modo germânico de apresentar lições de moral. "Com o título de Juca e Chico – história de dois meninos em sete travessuras, foi traduzido no Brasil pelo poeta Olavo Bilac", esclarece Meyer.

"William Busch enriqueceu a narrativa com hilárias figuras, o que servia para cativar a atenção das crianças. Publicada originalmente em 1865, a obra é considerada como precursora dos quadrinhos", diz.


Literatura

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Crimes de Paixão de Dalton Trevisan - DivulgaçãoDalton Trevisan tornou os textos de seus livros cada vez mais curtos, tendo escrito contos exemplares de apenas uma linha nos quais aborda as tragicomédias do mundo pequeno-burguês. Privilegiando, como já foi observado, o "intenso sobre o extenso", seu realismo conciso expõe as feridas e entranhas da vida de forma cruel, mergulhando sem pudores nas misérias da alma humana. Seus personagens se compõem pelas ruínas do afeto e da moralidade. "Em Crimes de Paixão não é diferente. Com escrita concisa, ele conta as mazelas do amor humano", diz o advogado.

Com ouvidos bem abertos aos diálogos escutados em qualquer bar ou esquina de rua, esse mestre do momentâneo lancinante explora como poucos a perversidade dos desejos humanos. "Ele faz seus leitores observarem o latente que pulsa nas frases mais cotidianas, por detrás das quais se expõem as vidas anônimas de qualquer cidade contemporânea", completa.

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Gabriela Cravo e Canela de Jorge Amado - Divulgação

Grabriela, Cravo e Canela foi concluído em Petrópolis, Rio de Janeiro, no mês de maio de 1958. Sua 1ª edição foi lançada pela Livraria Martins Editora, com 453 páginas, capa de Clóvis Graciano e ilustrações de Di Cavalcanti. Tamanho foi o sucesso que em dezembro do mesmo ano foi lançada a 6ª edição, que passou a integrar a coleção Obras Ilustradas de Jorge Amado como tomo décimo quarto, volume XIX em seguidas e sucessivas edições chegou até a 50ª edição em 1975. Atualmente os direitos pertencem à editora Companhia das Letras, que está relançando todos os livros do autor.

Publicado em Portugal, é o romance de Jorge Amado com o maior número de traduções, tendo sido editado em alemão, árabe, búlgaro, catalão, chinês, coreano, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, estoniano, finlandês, francês, georgiano, grego, hebraico, holandês, húngaro, inglês, italiano, lituano, macedônio, moldávio, norueguês, persa, polonês, romeno, russo, sueco, tcheco, turco e ucraniano.

Foi adaptado para televisão, telenovela produzida pela extinta TV Tupi em 1960, com adaptação de Zora Seljan, e Janete Vollu no papel principal, além de Paulo Autran como Mundinho Falcão. E na Rede Globo, em 1975, com adaptação de Walter George Durst e com Sônia Braga no papel principal. Fez grande sucesso no Brasil e em Portugal.

Também foi adaptado para o cinema, filme dirigido por Bruno Barreto, de 1983, com Sônia Braga no papel principal. Para a dança, espetáculo apresentado pelo corpo de balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, além de adaptações nacionais e estrangeiras. Em fotonovela, publicada na Revista Amiga, Rio de Janeiro, outubro de 1975 – Editora Globo. E, em HQ pela Editora Brasil-América, Rio de Janeiro, e revista Klik, Ebal, Rio de Janeiro, 1975.


Livro Jurídico

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Poder de Controle da Sociedade Anônima de Flávio Comparato - DivulgaçãoO Poder de Controle na Sociedade Anônima, originalmente editado em 1976, está entre aquelas poucas obras que podem ser consideradas trabalhos clássicos na literatura jurídica brasileira. A nova edição ganhou adicionais pelo coautor (destacadas em notas de texto) com complementos e críticas ao trabalho original do autor. O resultado final é a existência de duas obras em uma só, que permite ao público comparação e crítica das ideias expostas.


Li e gostei

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O Túnel de Ernesto Sabato - DivulgaçãoO Túnel foi lançado em 1948 e "é considerado a obra prima de Sabato. Mas não é propriamente um livro sobre ciúmes. É um livro sobre a solidão, sobre essa nossa incapacidade inerente de estendermos uma ‘ponte’ ao outro, para que, a partir desse contato, fiquemos livres de nós mesmos", explica.

Narrado em primeira pessoa, o livro toma forma de desabafo. Juan Pablo Castel é um reconhecido pintor que, preso pelo assassinato de Maria Iribarne, procura reconstruir os fatos e os sentimentos que o levaram a cometer o crime. De início, é possível pensar que Juan Pablo escreve em busca de perdão; mas ele se apressa em esclarecer que busca apenas fazer com que alguém, "ainda que uma só pessoa", o entenda. O trágico é que Pablo matou a "única pessoa" que o poderia entender. É esse toque trágico que dá o tom da narrativa.

Segundo Meyer, é possível perceber que é uma história de incomunicabilidade, de isolamento, de incapacidade e impotência. Os ciúmes de Juan Pablo do marido de Maria (que é cego), de seus parentes e de todas as outras pessoas traduz a sua raiva por não saber se comunicar. É no seu desgaste, pelas ruas portenhas, que Juan Pablo deixa claro que não somos nunca o todo de nós mesmos.

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