Fábrica na fronteira

Uruguai vence argentina em disputa na Corte de Haia

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21 de abril de 2010, 9h39

O Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia, na Holanda, decidiu, nesta terça-feira (20/4), contra a transferência de uma fábrica de celulose e papel construída na fronteira do Uruguai com a Argentina, como queria o país vizinho. De acordo com os argentinos, a fábrica construída às margens do Rio Uruguai polui o ambiente e prejudica o turismo na província argentina de Gualeyguachú. A informação é do Portal do Estadão.

Para a Corte, não há provas de que a fábrica contamina o ecossistema do rio compartilhado pelos dois países. Nesse contexto, os juízes avaliaram que "não é adequado" ordenar "a interrupção" das operações ou "o desmantelamento" da fábrica. Contudo, por 13 votos a 1, o tribunal considerou procedente a denúncia da Argentina de que o Uruguai violou o estatuto bilateral que rege a administração do rio fronteiriço.

Os ambientalistas da cidade de Gualeyguachú preparam uma passeata contra a permanência da fábrica para esta quarta-feira. Os manifestantes também afirmaram que vão manter o bloqueio da principal ponte que liga a Argentina e o Uruguai, fechada há mais de três anos. "A decisão do Tribunal é uma trapaça contra o povo de Gualeguaychú", protestaram manifestantes concentrados na localidade de Arroyo Verde, na província de Entre Ríos, do lado argentino, onde assistiram ao veredicto num telão. Muitos choravam.

"Tínhamos expectativas de uma decisão mais firme, que obrigasse a transferência da fábrica porque o que todos tememos é que a fábrica continue aí e que em algum momento vai contaminar nossas águas e nosso meio ambiente", disse o governador da Província de Entre Rios, Sergio Urribarri, ao canal de TV TN. No entanto, o governador afirmou que a sentença vai evitar que novas unidades de celulose e papel sejam construídas às margens do rio.

O chanceler do Uruguai, Luis Almagro, declarou-se "satisfeito" com a decisão e disse que seu país aceitará as determinações do Tribunal.

A polêmica se arrasta desde 2004, quando o então presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, autorizou a construção da fábrica a três quilômetros da pequena cidade uruguaia de Fray Bentos. Do lado argentino está localizada a cidade de Gualeguaychú, que vive do turismo de suas praias sobre o rio e do Carnaval.

Os ambientalistas argentinos iniciaram uma forte campanha contra o projeto, e o antecessor da presidente Cristina Kirchner, seu marido Néstor Kirchner, iniciou uma feroz briga com Vázquez, estremecendo as relações bilaterais. O caso provocou a pior crise diplomática entre os dois países nas últimas décadas.

Em junho de 2006, a Argentina acionou a Corte de Haia, mais alta instância judicial da ONU, pedindo a suspensão das obras da fábrica. Em novembro do mesmo ano, o Uruguai recorreu à Corte, pedindo que fossem levantados os bloqueios impostos pelos ambientalistas argentinos na ponte que liga os dois países.

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