Livro aberto

A biblioteca básica de Luiz Flávio Borges D`Urso

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14 de abril de 2010, 13h25

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Estimulado pelo pai, que lia diariamente e costumava presenteá-lo com livros, o presidente da seccional paulista da OAB, Luiz Flávio Borges D´Urso, sempre teve contato com grandes obras da literatura. Lia trechos e folheava os exemplares do acervo familiar, mas só escolheu seus títulos favoritos depois de ingressar na universidade, momento que foi de grande dúvida na vida do advogado.

Ele queria ser artista, se dedicar ao artesanato, à pintura, e com mais intensidade, ao teatro. Prestou vestibular para o curso de Direito para agradar o pai, mas não deixou de se inscrever para Educação Artística. Passou nos dois. Na dúvida, fez as duas matrículas sem o conhecimento da família. “Fiquei com vergonha de dizer que tinha feito inscrição para artes e decidi ingressar no curso de Direito também”, conta. No fim do primeiro ano, ele teve de escolher e o Direito falou mais alto. A vivência em áreas diversas despertou seu interesse pelos livros. “Era uma compulsão pela leitura. Eu lia revistas, livros, enciclopédias. Até livro de receita se passasse por mim era lido”, lembra.

D’Urso se formou em 1982 pela Faculdade de Direito da FMU. Durante os anos de estudo, foi diretor social e cultural do Diretório Acadêmico 23 de Setembro e chegou a fundar o PDA — Partido Democrático Acadêmico. Especialista em Direito Criminal, o advogado dedicou o seu mestrado ao estudo sobre privatização de presídios. Por conta da dedicação ao Direito Criminal, presidiu a Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas de São Paulo) de 1991 a 1992.

No término da sua gestão, começou a se aproximar da Ordem dos Advogados do Brasil. Passou a atuar como conselheiro estadual da OAB-SP na gestão de Guido Andrade, de 1995 a 1997. Primeiro, participou da Comissão de Exame de Ordem. Depois, foi membro do Tribunal de Ética da entidade. Permaneceu no Conselho nas gestões seguintes, de Rubens Approbato Machado e de Carlos Miguel Aidar. Para concorrer à presidência da OAB paulista, D’Urso teve de deixar as aulas de Direito Penal na Faculdade de Direito da USP. Ele tomou posse no fim de março no seu terceiro mandato como presidente da OAB-SP.


Primeiro Livro

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A Casa do Bode - Divulgação

A Casa do Bode, do J. Carlos Lisboa, foi o primeiro livro da vida de D’Urso, por indicação da professora no período escolar. A tarefa era montar uma peça de teatro com a história. Ele que sempre lia trechos de diversos livros, com este teve de ir a fundo para retratá-lo no teatro da escola. “Éramos muito pequenos, não lembro do conteúdo do livro, mas tenho flashes da nossa encenação”, conta.


Os preferidos

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O Poder do Mito - Divulgação
No período em que devorou obras de diferentes temas, marcou a vida do presidente da OAB-SP, O Poder do Mito, de Joseph Campbell. O autor dedicou a vida ao estudo das religiões e fez um cruzamento do eixo ideológico e do simbolismos das crenças. “A conclusão de Campbell é que independentemente do momento histórico da vida do homem ou do local do planeta em que ele se desenvolveu, as manifestações com a divindade são semelhantes”, conta. O livro mostra casos de grupos que não têm qualquer contato entre si, mas que têm cultos totalmente semelhantes. O conceito católico da santíssima trindade também é visto na maioria das crenças. “Essa é a prova de que a manifestação do homem para com o plano superior é algo que vem de dentro para fora, algo de sobrenatural que o homem traz dentro de si. Talvez uma fagulha do criador dentro de nós”, afirma D’Urso.

Outro livro que fez o criminalista rever alguns conceitos na sua vida foi O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, que trata do beabá da filosofia. “Foi esse livro que me fez ficar interessado pelo assunto e é mais uma obra que leva à conclusão da existência de Deus”, afirma.


Livro Jurídico
Quando estudante, seus livros de cabeceira eram a Constituição, o Código Penal e Código de Processo Penal. Outras obras, o inspiram até hoje. Uma delas é Grandes advogados, grandes julgamentos, do Pedro Paulo Filho. O autor resgata a história do Tribunal do Júri e de seus grandes oradores como Evandro Lins e Silva, Waldir Troncoso Peres e J.B. Viana de Moraes. “É um livro gostoso de se ler, rico e dá muitas dicas. Merece estar na lista de qualquer estudante.”

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Grandes Advogados - Divulgação

No salão dos passos perdidos, de Evandro Lins e Silva, é outra indicação de D’Urso. No tribunal, este salão é a antesala que leva ao plenário do Júri. Na maçonaria, a antesala em que se aguarda o início dos trabalhos. “Esse título fala muito da vida do próprio Evandro que teve uma trajetória incrível. A mãe dele viajou grávida em lombo de burro, no agreste nordestino.” A obra também conta dos Júris de Lins e Silva e também retrata como esses “salões” inspiram coisas na vida que parecem perdidas vão ganhando direção. Editado pelo OAB, o livro Advocacia e Democracia, de Rubens Aprobatto, é outra lembrança de D’Urso, por oferecer trechos inspiradores sobre a democracia e sua projeção na cidadania.

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O Salão dos Passos Perdidos - Divulgação

Outra obra que todo estudante de Direito deveria ler, na opinião do advogado, é O caso dos exploradores de caverna, de Lon D. Fuller. O livro conta a história de um grupo que fica em uma caverna e completamente alheio ao mundo exterior. Durante um tempo, eles conseguem comunicação por um rádio e recebem a esperança de serem resgatados em seis dias. “Como não havia provimentos necessários para o período, decide-se optar pela antropofagia”, conta. Os dias passam, o resgate não vem e o rádio fica sem sinal. Sem vínculo com o mundo exterior, a sobrevivência faz com que eles continuem se “autodevorando”. No fim do livro, o último que sobrou é levado à julgamento. “Nesse momento entram uma série de conceitos no julgamento. O fato deles não terem contato com o mundo exterior muda muita coisa. As regras passaram a ser as que eles criaram ali, naquela situação. Quando o resgate se tornou incerto, o lugar se transformou em uma ilha, em que novas regras são criadas”, conta o advogado que incentiva a reflexão.


Música e filme
Eleger a música preferida é fácil para D’Urso. Sem muito pensar, já lembra de Epitáfio, da banda Titãs. “Na correria da vida, a música faz você parar e voltar para o que realmente importa. Essa é a minha música”, conta.

"Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração"

Já para filmes, confessa gravar e rever os policiais que têm Júri para tirar suas conclusões. Mas a última produção que marcou o advogado foi Avatar, de James Cameron. “O filme tem muitas coisas que mexem comigo. As cenas com aquele culto em volta da árvore são muito tocantes”, lembra.

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Avatar - Divulgação

Uma obra que incomoda D’Urso é o Advogado do Diabo, que para ele cria uma imagem distorcida do profissional do Direito. “Começa pelo nome do filme. Essa expressão é utilizada para aqueles que atuam no tribunal do vaticano.” O advogado do diabo é aquele que contesta a prova de santidade em um processo em que o papa reconhece ou não alguém como santo. “Há testemunhos, depoimentos, provas. O advogado do diabo faz o contraditório, levando objeções, coloca o material à prova, ou seja, relacionar a expressão ao advogado que desvia do caminho é incômodo.”

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