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O homem que parou o maior exército do mundo

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22 de outubro de 2009, 8h12

Débora Pinho - SpaccaSpacca" data-GUID="debora-pinho.png">

Junho de 1989. Um homem sozinho, franzino e desarmado posta-se diante do comboio de tanques do exército chinês que avança pela Praça Tiananmen — que no idioma mandarim significa paz celestial. O primeiro tanque para e atrás dele, um a um, os demais que formam a coluna. A imagem do homem solitário que parou os tanques do maior exército da terra acabou se transformando no símbolo da rebelião da juventude chinesa contra a falta de liberdade no país e o massacre na Praça da Paz Celestial que encerrou o movimento por reformas democráticas no país. A foto da cena, estampada em jornais de todo o mundo, ganhou o Prêmio Pulitzer, um dos mais importantes prêmios jornalísticos no mundo. Entidades de Direitos Humanos estimam que morreram mais de três mil pessoas quando o Exército Popular de Libertação enfrentou, de forma violenta, a mobilização no dia 4 de junho daquele ano. Houve, ainda, prisões e censura à mídia estrangeira.

A onda de protestos, com caminhadas pelas ruas de Pequim, começou no dia 15 de abril de 1989 com a morte do líder reformista Hu Yaobang, ex-secretário geral do Partido Comunista chinês. Ele era conhecido por ser favorável a uma maior abertura democrática e pela luta contra a corrupção interna do partido. Hu Yaobang, que tinha sido expulso do governo por Deng Xiaoping em 1987, morreu em consequência de um ataque cardíaco. Logo depois de sua morte, chineses ocuparam as ruas de todo o país para protestar.

No dia 13 de maio, estudantes começaram uma greve de fome na praça da Paz Celestial. Dois dias depois, no dia 15 de maio, o presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, visitou a China.  A visita de Gorbachev, que conduzia na URSS um ousado movimento de abertura política e econômica que ficaria conhecido como glassnot e perestroika, era aguardada como um momento para os líderes locais aprenderem lições da abertura política ensaiada pelo líder soviético. O país continuava em clima tenso. No dia 20 do mesmo mês, o governo decretou a lei marcial — que restringiu os direitos de locomoção, de reunião e de opinião.

Os protestos nasceram de forma espontânea nas universidades chinesas e ganharam as ruas, mas careciam de causa ou de liderança definidas. Os manifestantes ocuparam a Praça Tiananmen como seu quartel-general mas manifestações ocorreram em todo o país. Estimativas indicam que 1 milhão de pessoas chegaram a se reunir na praça. 

Temendo a queda do regime, o governo preferiu endurecer a repressão. Fechadas as portas para qualquer tipo de diálogo, lançou mão dos tanques para reprimir a manifestação popular. No dia 4 e junho, o Exército invadiu a praça ocupada pelos protestantes. A partir daí, manifestantes foram presos, as manifestações reprimidas e jornalistas estrangeiros expulsos. O próprio Partido Comunista sofreu um expurgo que atingiu o secretário-geral do partido Zhao Ziyang, mantido sob prisão domiciliar em casa até a sua morte. O movimento cedeu.

O balanço do massacre é um misto de mistério e de decepção, como a própria imagem do Homem do Tanque, como ficou conhecido. A  revista Time, dos Estados Unidos, elegeu o personagem, que jamais chegou a ser devidamente identificado, como um dos 100 homens mais influentes do Século XX. Algumas versões dão conta de que ele foi executado dias depois de sua manifestação. Outras sustentam que ele continua vivo, em algum ponto perdido do território chinês. Em entrevista à jornalista americana Barbara Walters em 1990, o então secretário-geral do PC chinês e futuro presidente da China Jiang Zemin garantiu que o Tank Man não fora executado.

Vinte anos depois, a China cotinua a mesma. Em novembro do ano passado, o Comitê de Combate à Tortura da ONU instou o governo chinês a pedir desculpas pelos incidentes, libertar os dissidentes ainda presos e fazer uma investigação sobre os acontecimentos na praça.

Em 2006 ocorreu um  fato surpreendente que nem mesmo os antigos manifestantes poderiam imaginar: o governo chinês decidiu indenizar com US$ 10 mil a mãe de um garoto de 15 anos morto nos conflitos da Praça da Paz Celestial em 1989.

Em fevereiro deste ano, 127 mães de vítimas do massacre resolveram enviar uma carta aberta ao governo chinês. O grupo pediu investigação sobre a atuação do Exército, a divulgação da lista dos mortos e a indenização aos parentes das vítimas. O documento foi escrito pelas Mães da Praça da Paz Celestial e endereçado ao Congresso Nacional do Povo da China.
 


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