Propriedade intelectual

África se esforça para garantir registros de marcas

Autor

10 de outubro de 2009, 9h10

Países africanos têm se esforçado para oferecer garantias às empresas estrangeiras interessadas em investir no continente. Um das garantias fundamentas é o registro de marcas. Na área de propriedade intelectual, há leis em quase todos os 60 países do continente que garantem os registros de marcas e patentes. Catorze deles são signatários do Protocolo de Madrid. Existem duas entidades regionais especializadas em propriedade intelectual. Ainda assim, o registro é bastante precário, mas funciona.

Nos últimos seis anos, de acordo com a advogada sul-africana Rina Gunter, do escritório também sul-africano Spoor & Fisher, empresas investem não só nas áreas em que tradicionalmente a África costuma ser procurada, como farmacêutica, de petróleo ou mineração. Novas marcas e produtos têm chegado aos países e, com isso, a discussão sobre registros de marcas, patentes e design ganha relevância.

Segundo ela, a desorganização e a falta de tecnologia ainda complicam os registros. Na Nigéria, por exemplo, o registro de patentes é feito a mão, em um livro de anotações. A classificação é difícil de entender e a pesquisa sobre o status do pedido de registro se dá página por página. O registro de marcas é um pouco melhor, de acordo com a advogada. Há arquivos informatizados, mas ainda não é possível fazer pesquisa, pois não há um banco de dados.

No Zimbábue, cada empresa tem de enviar à instituição responsável pelo registro um papel com o desenho da marca. A ilustração receberá um número, escrito a mão em qualquer parte branca do desenho, e será colada no caderno de folhas sem pauta onde estão centralizados todos os registros. “Mesmo parecendo uma bagunça, o registro funciona bem”, diz Rina Gunter. O escritório Spoor & Fisher, do qual faz parte, foi criado em 1920 na África do Sul e atua em 19 países do continente. Rina esteve no Brasil nesta semana a convite do escritório brasileiro Velloza, Girotto e Lindenbojm Advogados Associados para dar uma visão geral sobre a legislação de propriedade intelectual na África.

Em Angola, segundo relatos da advogada, existem dois computadores no escritório de registros: um para patentes e um para marcas. Não há servidor e nenhum deles tem backup, mas é possível usá-los para pesquisar registros feitos a partir de maio de 2005. A Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi) deu apoio à Organização Africana de Propriedade Intelectual (Oapi) para criar um banco de dados das patentes. No entanto, só constam aquelas registradas nos 16 países que integram a entidade.

Na África inteira, 14 países assinaram o Protocolo de Madrid, acordo internacional que permite que o registro de marca feito em um dos 84 países membros, somados aos da União Europeia que também o integra, valha para todos os membros (o Brasil não é signatário ainda). Ainda assim, na África, para que a proteção seja eficaz, a advogada Rina aconselha a empresa a fazer um registro da marca em cada um dos países em que estiver presente. Há países que assinaram o Protocolo de Madrid, mas a legislação nacional diz que os tratados internacionais não têm efeito sobre o território nacional quando não estão de acordo com as leis locais.

A maior parte dos países africanos tem legislação própria sobre propriedade intelectual, baseada nas leis dos seus colonizadores, como Reino Unido, França, Portugal e Espanha. De acordo com a advogada, a obtenção de cópias das leis em vigor no país não é fácil. Elas não estão disponíveis na internet. Portanto, o seu escritório precisa viajar até o país quando descobre que houve alguma alteração na lei.

Brasil e África
Mesmo com todas essas dificuldades, os investimentos nos africanos crescem. O mercado está se expandindo. Segundo a advogada do escritório Spoor & Fisher, nos últimos anos, o continente africano tem recebido empresas de alta tecnologia, telecomunicações, infraestrutura como um todo e de plantas transgênicas.

Segundo o advogado Emile Myburgh, do escritório sul-africano Emile Myburgh Attorneys, contribuíram para uma maior confiança nos países a edição de novas leis que dão proteção aos investimentos, garantem a propriedade industrial e os direitos de importação. Ele afirma que a economia de Angola, por exemplo, cresceu 92% de 1992 a 2007. “No ano passado, com a queda no valor do petróleo, houve uma desaceleração na economia”, observa, mas nada que vá comprometer a guinada do país. O número de contas bancárias, de financiamentos de casas e de empréstimos para a abertura de negócios, segundo o advogado, está cada vez maior.

Nos primeiros quatro meses de 2009, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, as exportações brasileiras para o continente africano somaram US$ 2,77 bilhões, enquanto o movimento inverso, de importações de produtos brasileiros pela África (continente), totalizou US$ 1,826 bilhão.

África do Sul e Angola são os principais alvos dos brasileiros. Dos produtos exportados pelo Brasil para a África do Sul em 2009, 78,6% foram produtos manufaturados, 18,4%, produtos básicos e 2,9%, produtos semimanufaturados. A África do Sul é dependente de importações industriais, como bens de capital e matérias primas, que perfazem 80% das importações.

As vendas para Angola, em 2008, alcançaram quase US$ 2 bilhões em 2008, sendo mais de 80% em produtos industrializados. Com isso, Angola passou a ocupar a 24ª posição entre os destinos das exportações brasileiras, à frente de países como Canadá, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Austrália e Índia, segundo dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!