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A queda do muro que dividiu o mundo na Guerra Fria

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12 de novembro de 2009, 6h24

Débora Pinho - SpaccaSpacca" data-GUID="debora-pinho.png">

9 de novembro de 1989. Era noite, há 20 anos, quando uma multidão começou a se reunir próximo ao Muro de Berlim, que durante quase três décadas separou a cidade em um lado comunista e outro capitalista. Os gritos do lado da Alemanha Oriental, comunista, eram: “Abram! Abram!”. E no lado da Alemanha Ocidental, capitalista, a multidão respondia: “Venham! Venham!”. Os soldados que cuidavam da fronteira mandaram escancarar os portões, por volta das 23h. Começava a cair, fisicamente, o muro construído na madrugada de 13 de agosto de 1961, com 66,5 km de grade metálica e 127 redes metálicas eletrificadas com alarme para evitar a emigração em massa de alemães orientais. Não mais existia, a partir daquele momento, o muro que ficou conhecido como o da vergonha e que provocou a morte de mais de 100 pessoas, sem falar em feridos e aprisionados que tentavam atravessar da Alemanha Oriental para a Alemanha Ocidental. Os detalhes daquela noite que marcou o fim da Guerra Fria e do comunismo na Alemanha Oriental são relatados por Michael Meyer, autor do livro 1989 — O ano que mudou o Mundo.

As mudanças, comemoradas no mundo todo, não foram só políticas. O advogado constitucionalista Luís Roberto Barroso observou atentamente essas transformações até porque, em novembro de 1989, estava estudando nos Estados Unidos e uma de suas melhores amigas era russa. “Linda moça: culta, refinada, inteligente, conhecia música, artes, falava línguas. Eu acabara de fazer meu mestrado em Yale e ela em Harvard, e trabalhávamos no mesmo escritório em Washington. Ela era o exemplo vivo do sucesso do socialismo. E, no entanto, ela tinha horror da União Soviética, para onde voltaria pouco à frente. Quando soubemos da queda do muro, estávamos voltando do almoço e ela vibrou como se fosse um gol. Uma libertação. Ela me contava que apesar da propaganda, faltava de tudo lá, de xampu a absorvente, e gastava uma fatia relevante da vida fazendo filas”, relata.

No campo dos direitos, uma nova fase estava por vir. Os alemães do lado oriental teriam de aprender mais sobre o novo modo de vida. Reportagem desta semana do Correio Braziliense mostrou que a advogada alemã Reinhilde Schreiter-Forte foi contratada, à época, pela Agência Federal de Emprego para dar aulas de direito aos alemães que eram do lado oriental. Segundo a advogada, era necessário que “eles aprendessem seus novos direitos".

Barroso explica que, no modelo soviético de Constituição, estava o Partido Comunista e não os direitos fundamentais. Ele lembra que neste modelo socialista “não existe dois grandes pressupostos do mundo ocidental – que é o direito de liberdade de contratar e o de propriedade”.

Na semana passada, o advogado constitucionalista esteve na Polônia, onde fez quatro conferências. “Hoje, a Polônia vive uma fase de ascensão, após a reconstitucionalização em 1997 e a criação de um Tribunal Constitucional. Embora tenha começado atrasada, é um dos melhores casos de conversão institucional no leste europeu”, diz.

Ele avalia que a queda do muro de Berlim trouxe duas conseqüências relevantes ao mundo. “A boa é que ajudou a superar uma visão autoritária do mundo, na qual, por trás do discurso da igualdade, aniquilava-se a liberdade e florescia uma burocracia parasitária e corrupta”, afirma. Barroso diz que viveu na geração que fez parte do sonho socialista. “Vi com grande frustração o modelo se perverter em autoritarismo, corrupção e pobreza”.

Para Barroso, “o mundo se libertou das doutrinas abrangentes e unitárias e tornou-se mais plural, tolerante e diversificado”. Mas há o outro lado da moeda. “A parte ruim é que o capitalismo, liberto da disputa com o socialismo, descurou das políticas sociais e inclusivas, das redes de proteção aos desfavorecidos e se desumanizou em muitas partes do mundo. Exige conhecimento, eficiência e produtividade daqueles que não são competitivos porque não podem ser”. De acordo com o constitucionalista, neste cenário, “o Brasil pode ser um bom exemplo para o mundo de criação de um setor privado forte com a presença do Estado em áreas essenciais para o mínimo existencial das pessoas”.

Esta semana, a chamada Festa da Liberdade, marcou os 20 anos da queda do muro, em Berlim, com autoridades do mundo todo. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, divulgou no site de relacionamentos Facebook, pela primeira vez, uma foto para mostrar que fez parte desta história. Ele aparece, na foto, tirando lascas do muro Berlim, no dia 9 de novembro de 1989. Naquela época, ele tinha 34 anos e era prefeito de Neuilly. 



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