Advocacia na crise

Reflexão sobre as perspectivas da advocacia

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26 de março de 2009, 19h00

Conta a lenda que passado o terremoto de Lisboa de 1755, o Rei de Portugal perguntou ao Marques de Pombal o que devia ser feito. Ele respondeu ao Rei: “Devemos sepultar os mortos e cuidar dos vivos.”

A crise global que assola o mundo, verdadeiro terremoto nas bases institucionais, nos faz refletir sobre as perspectivas futuras dos escritórios de advocacia. Depois de anos de fartura, com fechamento de negócios milionários, quando fusões e IPOs passaram a ser o cardápio do dia-a-dia, será que estaremos diante dos sete anos de fome?

Tudo vai depender das medidas que serão tomadas para aplacar os efeitos do “tremor”. Aplicando a sistemática do visionário político, devemos em primeiro lugar: sepultar os mortos. Traduzindo para o cotidiano dos escritórios de advocacia: combater a ineficiência, o desperdício, a incompetência e os excessos.

Sem dúvida, haverá um aumento de trabalho para os escritórios, mas será que o lucro vai ser proporcional? Sem dúvida, não faltarão ações trabalhistas, rescisões contratuais, ações de cobrança e execução, recuperações judiciais. Mas será que haverá pagamento imediato dessas demandas? Como manter o giro e o caixa de nossos escritórios com a imprevisibilidade e as previsões sombrias do cenário que se aproxima?

Temos de ter em mente que devemos cuidar dos vivos, de nosso patrimônio maior, nossos advogados, estagiários e funcionários. Para preservar esse ativo, devemos promover aumento de produtividade com o estabelecimento de novas metas de horas a serem trabalhadas, alocação de profissionais de setores menos requisitados para outros que tem mais serviço, ao invés de contratar novos. Também devemos aumentar as perspectivas com áreas que deverão ser mais proeminentes nesse momento, como a trabalhista, a cível e a de planejamento sucessório.

Isso sem falar na obviedade da necessidade de cortar de despesas, enxugar custos não funcionais, além de fazer um gerenciamento austero, estruturas mais verticais, racionamento de insumos, enfim, tudo o que for necessário para diminuir despesas.

E, modestamente, complemento a estratégia do Marques de Pombal: “fechar os portos”. Esse é um momento de reflexão, quando devemos repensar nossos modelos, rever nossas estruturas, evitar compromissos que não poderemos cumprir e quebrar paradigmas. É hora de por a mão na consciência, cuidar e salvar o que restou do terremoto e concentrar-se na reconstrução.

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