Privada e familiar

Ao fotografar Nélio, Protógenes fotografou sua mulher

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10 de março de 2009, 18h05

 A loira que aparece nas fotos feitas pelo delegado Protógenes Queiroz do famigerado jantar em 11 de junho provavelmente é a mulher de Protógenes, Heloísa Alfonso Garcia. A informação faz parte do Relatório de Análise de Mídias feito pela Polícia Federal a partir do material encontrado num notebook e num pen drive apreendidos na casa do delegado.

Protógenes foi identificado como o autor das fotos, que teriam sido feitas pelo seu celular. As imagens registram um encontro ocorrido em 11 de junho no restaurante Original Shundi, em Brasília, com a participação de Nélio Machado, que então era advogado do banqueiro Daniel Dantas.

A versão apresentada por Protógenes na época foi de que o encontro reuniu a defesa de Dantas e assessores do ministro Gilmar Mendes, que tinha em suas mãos pedido de Habeas Corpus preventivo do banqueiro.

A Procuradoria da República no Distrito Federal chegou a abrir investigação para apurar o que ocorreu no suposto jantar entre assessores do presidente do Supremo e advogados de Daniel Dantas. A Procuradoria tomou conhecimento das fotografias tiradas por Protógenes onde aparecia uma mulher loira. O MPF pediu informações sobre o gerente que trabalhou no local até agosto do ano passado e requisitou as imagens do circuito interno.

As fotos tiradas pelo delegado aparecem no relatório no arquivo do delegado nomeado Satiagraha — Dados para vigilância e foram identificadas como Restaurante – Nélio Machado. As informações sobre as fotografias e a reunião foram apresentadas no Relint Original Shundi.doc, que relata o jantar. O documento ressalta que naquela semana corria nos tribunais pedido de Habeas Corpus preventivo a favor de Daniel Dantas.

“No período de permanência no referido restaurante adentrou ao recinto os advogados Nélio Machado, [Alberto] Pavie [Ribeiro] e Rodrigo, acompanhados de pessoas não identificadas e sentaram-se a mesa a uma certa distância do DPF Queiroz e passaram a se comportar em atitudes suspeitas, o que por dever de ofício obrigou o DPF Queiroz a sacar o celular e fazer o registro fotográfico das pessoas que ali se encontravam”, diz o relatório, que registra depoimento de Protógenes.

Quando aconteceu o jantar, a defesa de Daniel Dantas já sabia pela imprensa que seu cliente era investigado pela Polícia Federal. No Grupo Opportunity, corria a informação de que a prisão temporária do banqueiro e de seus sócios poderia ser requisitada pelo delegado Protógenes ao juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara da Justiça Federal em São Paulo.

De sobreaviso, os advogados de Dantas entraram com o pedido de Habeas Corpus preventivo no Supremo. O relator do pedido, ministro Eros Grau, não se pronunciou sobre o pedido até 8 de julho, quando Dantas foi preso. Como o STF estava em recesso, a questão foi apreciada pelo presidente, ministro Gilmar Mendes, no dia seguinte ao da prisão.

Logo depois disso, Gilmar Mendes recebeu da desembargadora Suzana Camargo, do Tribunal Regional Federal 3ª Região (São Paulo), a informação de que havia escuta no gabinete do presidente do Supremo. O ministro recorreu ao procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza. Questionou se estava em poder da Procuradoria alguma fita gravada pelos agentes da Abin no restaurante e se estava em curso alguma investigação de que ele ou seus assessores fossem alvo.

O procurador negou a existência da fita e também qualquer tipo de investigação. Disse que tinha controle total sob a Procuradoria e que nenhuma apuração envolvendo autoridades era feita sem passar pelo crivo legal do STF. O ministro, então, dirigiu-se ao ex-diretor da Abin Paulo Lacerda, que também negou que agentes da agência estariam a serviço de Protógenes. Dias depois, a informação foi desmentida pelo próprio Lacerda, na CPI dos Grampos.

[Texto modificado em 12/3/2009 para retificação de informação]

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