Maestro da USP

Goffredo da Silva Telles Jr. é homenageado

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28 de junho de 2009, 12h30

Goffredo da Silva Telles Jr. era um homem além de seu tempo. Independente, lutou pela democratização do país. Esta é a descrição mais recorrente de personalidades do mundo jurídico sobre o professor da Escola de Direito do Largo São Francisco. Goffredo morreu nesse sábado (27/6), aos 94 anos.

"O professor Goffredo incorporou o papel de consciência jurídica nacional acima das ideologias. Foi uma voz importante — a mais eloqüente — no processo de restauração do Estado Democrático de Direito", afirmou o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Pela sua história e pela sua respeitabilidade, disse o ministro, Goffredo despertou os brios da comunidade jurídica nacional e dos setores organizados da sociedade que passaram a trabalhar mais decididamente pela transição democrática. "Fazem falta no Brasil figuras de referência como ele. Pessoas com o papel que teve Norberto Bobbio na Itália, por exemplo, a quem todos ouviam quando surgiam impasses sobre temas fundamentais", completou. O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo, foi designado parar representantar o STF na despedida a Goffredo.


Fonte da imagem: www.goffredotellesjr.adv.br

“Goffredo se colocava como um precursor nos planos das ideias e dos valores. Relacionava teoria quântica à ciência jurídica há 35 anos, o que lhe permitia emitir conceitos definitivos como este: ‘a norma jurídica é um imperativo autorizante’”, afirma o ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal.

“Nunca se deixou influenciar pelo canto de sereia do autoritarismo e golpes de estado. Ao contrário, sempre foi uma luz muito acesa contra qualquer forma de atentado à democracia e à ética na política”, completou o ministro.

Ayres Britto também declarou que Goffredo sempre foi referência no plano da decência, da liberdade e do espírito aberto à discussão sobre qualquer tema. Nunca foi homem fechado em torno de si mesmo ou de qualquer dogma. “Ele tinha disposição permanente para problematizar dogmas, característica central dos seres humanos independentes política, religiosa e filosoficamente. Ninguém lhe dava ordens ou para ele estalava os dedos. A subserviência nunca teve chance com ele.” Com certeza, disse Ayres, Goffredo passou por esta vida e não perdeu a viagem.

O presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Cesar Asfor Rocha, afirmou que o professor Goffredo "é um ícone do mundo jurídico, que se vai sem nos deixar, pois fica o exemplo de sua vida limpa, suas posições éticas e corajosas e a referência de suas sábias lições".

A cientista política Maria Teresa Sadek lembrou que Goffredo lutou muito pela volta do Estado Democrático de Direito. “Ele teve papel muito importante nos mundos jurídico e político.” Professor emérito da USP, Goffredo teve papel fundamental no período em que o Brasil viveu a ditadura militar, ao encorpar o movimento pelo restabelecimento do estado de Direito com a “Carta aos Brasileiros”, lida sob as Arcadas em 1977.

“Ele tinha coração de estudante”, afirma o historiador Cássio Schubsky, que descreve o professor como um sábio da era contemporânea. “Foi um jurista responsável pela formação de um sem número de profissionais que deixa um legado a servir de norte àqueles que se dedicam ao avanço cultural”, ressalta o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal.

O presidente da OAB, Cezar Britto, também ressaltou a dedicação de Goffredo ao ensino. "Como poucos, soube colocar a serviço do bem comum os seus conhecimentos, formando gerações de profissionais do direito. Trabalhador exemplar, exerceu seu ofício mesmo quando já fazia jus ao ócio com dignidade da aposentadoria", disse.

"Foram mais de 60 anos de dedicação ao ensino, pontuados por vigilante atuação na vida pública, quando as circunstâncias o exigiram", completou Cezar Britto. A OAB lamentou a morte de Goffredo. "Foi um cidadão no sentido pleno da palavra", disse Britto.

O Direito, declara o educador Luiz Flávio Gomes, perde bastante com a morte do "nosso maestro da USP". “Ele foi um jurista que soube expressar os anseios da sua geração. Era liberal, autônomo, independente e corajoso.”

Jurista eminente, afirma o presidente da OAB do Rio, Wadih Damous, Goffredo deixou sua marca para além do mundo jurídico. “É uma daquelas pessoas que extrapolam os limites corporativos e profissionais”, disse. Uma perda para o Direito e para a sociedade.

"O professor Goffredo amou o Direito, a Justiça, a Advocacia e o Brasil. Deixou imenso legado aos seus alunos e, sobretudo, aos brasileiros", afirmou, em nota, a Associação dos Advogados de São Paulo. A AASP, completa, prestou em 2002 "justa homenagem" a Goffredo ao publicar uma edição da Revista do Advogado para a qual diversos juristas contribuíram com artigos que expressavam o "carinho e a admiração pelo grande Mestre". 

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