O professor emérito

Goffredo vai-se ao som da oração de São Francisco

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28 de junho de 2009, 19h36

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Goffredo - ConJurO diretor da Escola de Direito do Largo São Francisco, João Grandino Rodas, conseguiu, na última quinta-feira, corrigir um equívoco histórico no itinerário da Academia. A congregação da escola aprovou, por unanimidade, a concessão do título de professor emérito da São Francisco a Goffredo da Silva Telles Jr. Infeliz coincidência, o professor chegou a ser informado. Mas morreu pouco tempo depois (Clique aqui para saber como ele morreu). Em 1985, a mesma proposta deixou de ser aprovada por uns poucos votos. Em desagravo, na ocasião, o reitor da Universidade de São Paulo, José Goldemberg fez aprovar o título incomum de professor emérito da USP. (Foto: conduzem o caixão com o corpo do professor, da  esquerda para a direita, o ministro do STM Flavio Bierrenbach, o ex-diretor da São Francisco Eduardo César Silveira Vita Marchi, o atual diretor João Grandino Rodas e o ministro do STF Ricardo Lewandowski).

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Esse foi um dos fatos lembrados no velório do professor, neste domingo, ao qual compareceram cerca de cento e cinquenta personalidades do mundo jurídico. (Clique aqui para saber o que pensam personalidades do mundo jurídico sobre ele). Ironia lisonjeira: as principais autoridades que foram reverenciá-lo foram seus alunos. O presidente da República foi representado pelo advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli (Clique aqui para ler a nota de Lula e Toffoli sobre a morte); o presidente do STF foi representado pelo ministro Ricardo Lewandowski; o governador de São Paulo pelo seu vice, Alberto Goldman; o Superior Tribunal de Justiça, pelo ministro Sidnei Beneti. Outras personagens fundamentais presentes que seguiram os passos do professor foram o secretário de justiça do Estado, Luiz Antônio Guimarães Marrey; o ministro do Superior Tribunal Militar, Flávio Bierrenbach; o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos; o ex-chanceler Celso Lafer, desembargadores e advogados notáveis como Celso Mori, Modesto Carvalhosa, Eduardo Carnelós, Carlos Belisário e João PizaCássio Schubsky, historiador, co-autor do Estado de Direito Já – Os trinta anos da Carta aos Brasileiros, também esteve no velório. A OAB paulista foi representada por seu presidente, Luiz Flávio Borges D’Urso. Compareceu ainda o senador Eduardo Suplicy e seu ex-colega, Almino Afonso.

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D’Urso anunciou ali mesmo que o edifício sede da OAB passará a ter o nome de Goffredo e decretou luto oficial de três dias. “Ficou um vácuo, mas fica também o legado, o exemplo de resistência a todas iniciativas que possam ameaçar a liberdade e a democracia”, afirmou o presidente da Seccional.

Flávio Bierrenbach, o articulador do movimento que levou Goffredo à tribuna para ler a incrível “Carta aos Brasileiros”, resumiu sua admiração em uma frase emocionada: “Ele foi o mais importante professor que a escola teve no século XX”.

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O ministro Ricardo Lewandowski, que foi aluno de pós-graduação de Goffredo em Teoria Geral do Direito, preferiu destacar os traços filosóficos e humanistas do professor. “Ele praticou o que pregava” — enfatizou o ministro do STF — “Era despojado, nunca foi tributário de ideologias ou doutrinas sectárias, viveu para o aperfeiçoamento intelectual e científico. Nunca se interessou por cargos públicos e sempre enfatizou sua visão de que o serviço público deve colocar, em primeiro lugar, o público”.

O advogado-geral da União Dias Toffoli também puxou pela humildade e pela simplicidade do homenageado. “Exemplar, ele sempre incentivou os maiores valores que o ser humano pode cultivar como a liberdade, a democracia e o direito.”

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Goffredo - ConJurAntes de o cortejo deixar o centro velho de São Paulo para dirigir-se ao Cemitério da Consolação, ainda no velório do Salão Nobre da São Francisco, os alunos, amigos e admiradores do professor puderam conviver um pouco mais com as idéias de Goffredo. A presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, Talita Nascimento, falou dos exemplos do professor e repetiu trecho da Celebração da Morte e Ressurreição lida ali pouco antes por um frei católico: “A morte não extingue, ela transforma, a morte não aniquila, renova; a morte não separa, aproxima”. 

O professor Sérgio Resende de Barros leu uma saudação feita aos calouros de 2007, escrita por Goffredo e lida por Resende na ocasião. Falou o professor Celso Lafer (turma de 1964) que destinou ao mestre frase dele próprio cunhada para outrem mas que a ele pareceu servir melhor: um homem que plantou rosas no piso de pedras da escola. “Um ser humano de rara elegância e perfeita educação”, disse Lafer, para arrematar chamando-o de “o mais emérito dos professores eméritos” — ao que um grupo numeroso passou a entoar as célebres trovas dos alunos da São Francisco.

Todos cercaram a viúva, Maria Eugênia e sua filha, Olívia, tentando confortá-las e compartilhando a densa tristeza da perda. Por fim, pela qualidade dos alunos que foram homenageá-lo, ficou a certeza de que Goffredo foi mesmo um grande professor.

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