Parecer da ONU

Relator diz que Israel cometeu crimes de guerra

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22 de janeiro de 2009, 19h08

O relator especial da ONU sobre a situação de Direitos Humanos em Gaza, Richard Falk, afirmou que Israel cometeu crimes de guerra na ofensiva contra o território palestino. “A evidência da violação da lei humanitária é tão clara que não tenho nenhuma dúvida da necessidade de uma investigação independente que demonstre que Israel cometeu crimes de guerra”, afirmou Falk em entrevista coletiva em Genebra e repercutida pelas agências de notícias.

Falk afirmou que Israel cometeu crimes de guerra e contra a humanidade, antes mesmo da ofensiva que começou em dezembro. Os crimes foram cometidos quando o país aplicou “um bloqueio de 18 meses contra a Faixa, um bloqueio ilegal de alimentos, remédios e combustível que pode ter afetado a população de Gaza por toda uma vida".

Para o relator da ONU, que é um judeu dos Estados Unidos, os crimes de guerra se agravam pelo fato de Israel não ter permitido à população civil deixar o território antes de bombardeá-lo. “Não há relatos de uma população inteira ficar bloqueada em uma zona de guerra e sem a possibilidade de fugir e se transformar em refugiados", explicou.

Falk acrescentou que o crime é ainda mais grave porque 70% da população de Gaza têm menos de 18 anos. “Essas pessoas podem ficar afetadas para sempre, porque não somente sofreram por um ano e meio com o bloqueio, mas sofreram com os danos e o medo de uma guerra", indicou. O relator da ONU descartou totalmente o argumento de Israel de que a ação iniciada no dia 27 de dezembro estava baseada na autodefesa. “Este argumento não tem base legal e, além disso, o uso absolutamente desproporcional da força descarta totalmente o argumento da autodefesa”, disse.

Israel está preparando sua defesa contra as acusações. O país prometeu fazer uma investigação sobre os bombardeios em massa contra zonas habitadas em Gaza, está reunindo provas para demonstrar que seus objetivos eram unicamente militares. "Israel quer estar em condições de apresentar provas demonstrando que a maioria dos imóveis demolidos era usada pelos combatentes. Muitos serviam de base para atirar foguetes e de depósito de armas", explicou o ministro dos Assuntos Sociais, encarregado das relações com as ONGs, Yitzhak Herzog, à agência France Presse.

Fotos aéreas e documentos filmados por soldados em campo equipados com câmaras de vídeo, durante os combates, estão sendo reunidos para reforçar a tese israelense segundo a qual os bombardeios eram legalmente justificados. A Anistia Internacional e médicos estrangeiros presentes em Gaza acusaram o exército israelense de utilizar bombas de fósforo nas zonas habitadas, o que viola as convenções internacionais.

Israel já foi acionado no Tribunal Penal Internacional, competente em casos de crimes de guerra e contra a humanidade. O país, no entanto, não assinou o Estatuto de Roma. Os 22 dias da ofensiva israelense contra Gaza deixaram 1.300 palestinos mortos e mais de 5 mil feridos.

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