Nova chance

Campanha de reinserção de presos vai para o gramado

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7 de dezembro de 2009, 14h34

O projeto Começar de Novo, do Conselho Nacional de Justiça, que visa criar oportunidades de emprego a egressos do sistema prisional como uma das formas de se reduzir a criminalidade no Brasil, foi divulgado na última rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol 2009. As faixas com as frases “Trabalho para ex-detentos. Mais segurança para todos” foram levadas pelos jogadores de 20 clubes, em 10 estádios espalhados pelo país, para um público de mais de 300 mil expectadores.

No Rio de Janeiro, a faixa foi aberta no gramado pouco antes de começar o jogo no estádio do Maracanã, que resultou na conquista do título pelo Flamengo. O presidente do clube, Márcio Braga, disse: “É o programa mais efetivo que vejo no momento para o combate à violência”. Ele lembrou que o futebol é a paixão nacional e, por isso, “é importante passar uma mensagem de recuperação para ex-detentos”.

O zagueiro do clube, Ronaldo Angelim, afirmou que a campanha “é importante por dar oportunidade de emprego a essas pessoas. Isso faz com que não voltem ao crime. Essa campanha vai ajudar a melhorar nosso país”.

“Todo mundo erra na vida e essas pessoas já cumpriram a pena diante da sociedade. Então é justo dar oportunidades de trabalho”, disse Túlio, um dos jogadores do Grêmio que levou a faixa ao gramado.

No estádio do Morumbi, a partida entre São Paulo e Sport Recife contou com a presença do presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. “Nós sabemos a paixão que os brasileiros dedicam ao futebol. Daí a importância dessa iniciativa, que conta com a colaboração do Clube dos 13 e da CBF”, disse o ministro.

Para o ministro, o programa, além de contribuir para a reinserção social de presos e egressos do sistema carcerário, por meio da capacitação e da abertura de oportunidades de trabalho, evita a reincidência. “Queremos com isso sensibilizar os órgãos públicos e as empresas privadas a dar uma chance aos egressos”, afirmou.

O técnico do time do São Paulo, Ricardo Gomes, afirmou que a campanha “recupera o cidadão ao dar oportunidade de emprego, reduzindo o risco de ele voltar à criminalidade”. Já o jogador Washington considera que a parceria do Clube do 13 com o CNJ para divulgar o projeto “Começar de Novo” é importante. “Espero que os empresários deem oportunidade de trabalho para que os ex-presos possam voltar à vida social. A gente apoia e torce muito para que haja novas oportunidades e com certeza a redução da criminalidade”.

Com bom humor, o jogador Wellington, do Botafogo, que jogou contra o Palmeiras, chegou a comparar o slogan da campanha ao momento atual do Botafogo. "Depois de se livrar do rebaixamento, a meta do time agora é disputar o próximo campeonato para ser campeão e não para atuar se segurando para não cair para a Série B".

“Eu não tenho acesso a números, mas sei que o número de reincidência é muito alto. Muitos daqueles que saem da penitenciária depois de terem cumprido a pena, retornam. Quando os clubes dão esse exemplo, quando trazem para si essa responsabilidade – como o Botafogo está fazendo não só em relação ao ‘Começar de Novo’, mas também com comunidades carentes. Acho que isso é importante. Os clubes de futebol são entidades sem fins lucrativos e que têm essa obrigação social”, afirmou o presidente do Botafogo, Maurício Assunção. Segundo o conselheiro do CNJ Nelson Braga, a reincidência hoje no Brasil é de 70%.

“Se for um detento realmente que se comporta bem, que quer voltar para a sociedade – porque ele tem que merecer também – alguém tem que estender a mão. O que a gente percebe no Brasil é que a penitenciária não recupera ninguém: o cara entra e sai, entra e sai. Com certeza o que estão fazendo é muito correto, é uma chance de alguém estender a mão para eles. Eu acho que a ajuda do futebol é muito importante porque a gente tem uma imagem muito boa, ou seja, todo mundo está vendo”, afirmou o técnico do clube, Murici Ramalho.

O jogador do Inter, que jogou contra o Santo André, Giuliano, chegou a comparar o ex-presidiário a um jogador de futebol que erra um pênalti. "Muitas vezes acontece de ter um pênalti, o jogador vai lá e erra. Mas sempre acaba tendo uma segunda oportunidade", exemplificou. "Então nós somos exemplos disso. Acho que eles são seres humanos como a gente, que erraram, que falharam, e pagaram a consequência por isso. Depois que voltam a ter uma vida normal, merecem ter uma oportunidade de trabalho, oportunidade de ser uma pessoa melhor e de conseguir reconstruir a vida e a família, assim como todos nós".

O governo do Estado de São Paulo e a prefeitura de São Paulo também vão aderir ao programa “Começar de Novo”, com a assinatura de acordo com o presidente do CNJ, ministro Gilmar Mendes, nesta segunda-feira (7/12). Com informações da Assessoria de Imprensa do STF.

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