LIVRO ABERTO

A biblioteca básica de Luiz Antonio Marrey

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12 de agosto de 2009, 9h17

Spacca
Luiz Marrey - SpaccaEra uma vez o maravilhoso mundo dos contos de fadas e seu poder de formar leitores, líderes e homens públicos. Foi dessa maneira que o atual secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania do estado de São Paulo, Luiz Antonio Marrey, foi apresentado ao universo dos livros. Seus primeiros passos pelo mundo fantástico da literatura foram dados com as fabulosas histórias árabes de As Mil e Uma Noites.

Marrey tem o direito e a política no sangue. É filho do desembargador Adriano Marrey, que foi vice-presidente e corregedor geral do Tribunal de Justiça paulista, presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo e presidente do Tribunal de Alçada, além de advogado e membro do Conselho Seccional da OAB/SP.

Seu avô paterno foi o advogado José Adriano Marrey Júnior, deputado federal e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, secretário da Justiça do Estado de São Paulo, por duas vezes, secretário dos Negócios Jurídicos da capital paulista, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, além de advogado criminal. Pelo lado materno, o avô, Aureliano Guimarães, também exerceu a advocacia, além de ter sido professor de Direito Civil.

O secretário é um devorador de livros. Diz que para manter o hábito é obrigado a fazer grande esforço em meio a uma agenda repleta de compromissos. Marrey foi seduzido pelo Direito quando fazia o último ano do colegial na Glenwood Community High School, em Glenwood, Iowa, Estados Unidos. “Ali tive contato com disciplinas que tratavam das instituições americanas”, diz o secretário reconhecendo a influência dos estudos em sua decisão.

Ao voltar ao Brasil se deparou com um problema: estava inscrito para fazer o vestibular de engenharia, numa faculdade paulista, carreira que pretendia seguir antes de viajar para os EUA. “Entrei na faculdade aos 17 anos e fiquei uma semana, tempo suficiente para saber que não tinha essa vocação”, lembra Marrey. Em 1974, tomou o caminho que escolheu. Ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, seguindo a origem do pai e dos avôs.

Formou-se em 1978, trabalhou como assessor no gabinete do deputado estadual Flávio Bierrrembach, ao lado do hoje ministro do STF Celso de Mello. Foi o colega de gabinete que convenceu Marrey a fazer concurso para o Ministério Público. Antes disso ainda foi assessor jurídico da Febem, na gestão de Maria Inês Bierrembach.

Em 1980 ingressou no Ministério Público paulista. Na instituição foi procurador-geral de Justiça por três mandatos (1996-2000) e (2002-2004). Voltou a atuar como procurador de justiça e em seguida nomeado secretário de Negócios Jurídicos da Prefeitura de São Paulo. De lá saiu para ocupar a pasta da Justiça, em janeiro de 2007.

“Justiça é artigo de primeira necessidade. É fundamental a sua importância na manutenção da paz, na garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana e na segurança jurídica indispensável ao desenvolvimento econômico e social”, resumiu sua visão na solenidade de posse.

Nascido no bairro paulistano de Perdizes, Marrey foi seduzido pela militância política contra o regime militar. Quando da redemocratização do país atuou como chefe de gabinete e diretor-geral do Departamento de Assuntos Legislativos do ministério da Justiça na gestão do ministro Paulo Brossard (1986-1988), quando se discutiu o formulou a atual Constituição do país. Um ano depois ocupou uma cadeira no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (1989) e também representou o Brasil no seminário da ONU sobre legislação penal de combate ao racismo, em Nova York.


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Sítio do Pica-Pau Amarelo - Monteiro Lobato - DivulgaçãoPrimeiro livro
As mil e Uma Noites marcou a infância do hoje secretário da Justiça de São Paulo. O livro é uma coletânea de contos árabes. “Era uma edição que meu pai ganhou, de 1921 e que ele lia comigo à noite”, lembra Marrey. O secretário destaca também os livros do dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), que escreveu mais de 160 contos e seis romances, além de poesias. A genialidade de Andersen está na leveza, na poesia e na melancolia com que trata o sofrimento infantil.

No entanto, o secretário acredita que o autor mais importante de sua infância no bairro paulistano de Perdizes foi Monteiro Lobato. “Eu recordo com grande satisfação, especialmente, das caçadas de Pedrinho”, diz Marrey. “No livro há um episódio que me tirou muitas risadas que foi o ataque das onças ao Sítio do Pica-Pau-Amarelo”, relembra o secretário. “O último recurso das crianças foram as granadas de vespas lançadas pela Emília”. Segundo ele, dos três autores, Monteiro Lobato guarda o lugar principal na sua memória.


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Em Busca da Liberdade do escritor católico Alceu Amoroso Lima - DivulgaçãoLivros didáticos
Os livros de História do Brasil e do Mundo fizeram parte da vida do adolescente Marrey. O maior deles foi História da Riqueza do Homem escrito em 1936 por Leo Huberman. “Esse foi um livro fundamental para quem quisesse entender o desenvolvimento do mundo”. Estudante do Colégio Rio Branco, no bairro de Higienópolis, Marrey continuou querendo entender o mundo em que vivia.

Na Faculdade de Direito foi influenciado pelo livro Em Busca da Liberdade do escritor católico Alceu Amoroso Lima. O livro é um apanhado de artigos publicados no Jornal do Brasil. “É uma obra que fazia comentários de assuntos cotidianos e a gente vivia um período de exceção, durante o regime militar”, diz Marrey. “Foi muito importante para a formação de minhas convicções”.


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Direito Penal, do Aníbal Bruno - DivulgaçãoLivros jurídicos
No Largo de São Francisco em meio às primeiras manifestações estudantis contra o regime militar já enfraquecido o livro Direito Penal e Direitos Humanos, de Heleno Fragoso encantava o estudante de Direito. Em especial ele lembra o capítulo que tratava da igualdade e desigualdade na distribuição da justiça.

“Dos livros jurídicos gostaria de ressaltar que a melhor obra que li e que foi fundamental para a minha carreira foi Direito Penal, do Aníbal Bruno. Era, no meu entendimento, a obra mais clara, mais didática, e que foi a base de meu conhecimento em direito penal”, ressalta.


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Churchill, escrita pelo lorde Roy Jenkins - DivulgaçãoLiteratura
A literatura já foi mais presente na vida de Luiz Antonio Marrey. Jorge Amado foi muito cultuado. Além do escritor baiano, Marrey gostava dos livros de Márcio de Souza, entre eles “Ordem do Dia” e Galvez, Imperador do Acre. Marrey era também um devorador da ficção criminal da americana Patricia Highsmith, conhecida como a arquiteta de atos criminosos gratuitos e impunes, entre eles O Talentoso Ripley e O Amigo Americano. O secretário também destaca o estilo seco e árido de Graciliano Ramos e a obra de Érico Veríssimo.

Marrey também adora ler biografias. A mais recente foi Churchill: A Biography, escrita por lorde Roy Jenkins. As 897 páginas do livro, em inglês, foram devoradas em poucos dias. “É um dos melhores livros que já li”, diz Marrey. Para ele, este seria um livro recomendado para quem está na vida pública. “O autor mostra não só a história do estadista como muitos de seus fracassos antes dos sucessos”. “É um livro precioso”.


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Os Sermões do Padre Vieira - DivulgaçãoLi e recomendo
O secretário da Justiça está entusiasmado com Sermões do Padre Vieira, do padre Antônio Vieira (1608-1697). Ele considera imprescindível a leitura da obra, pela força e inegável atualidade. Para Marrey a leitura do sermão do bom ladrão deveria ser obrigatória para se entender a vida política e social. Escrito em Lisboa, em 1655, o sermão trata da corrupção e dos que a toleram, dizendo que a tolerância pode levar um rei ao inferno.

Conta Vieira que, navegando em poderosa armada, estava Alexandre Magno a conquistar a Índia quando trouxeram à sua presença um pirata dado a roubar os pescadores. Alexandre repreendeu-o. Destemido, o pirata replicou: “Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?”.

Completa o santo e sábio padre, que passou boa parte de sua vida no Brasil, que são companheiros dos ladrões os que os dissimulam e os que consentem. Completa, ainda, que são seus parceiros os que lhes dão postos e poderes e aqueles que os defendem e que por isso vão acompanhá-los ao inferno. “É uma obra de vigor e atual e minha recomendação”, completa Marrey

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