Nuances do tempo

Juízes chegam mais velhos a desembargadores em SP

Autor

26 de abril de 2009, 9h20

Os juízes estão chegando cada vez mais velhos ao topo do Judiciário paulista. Há 30 anos, magistrados se tornavam desembargadores na faixa dos 40 anos. Agora, a média de idade dos juízes de carreira empossados no TJ paulista subiu para 55. A experiência é o lado positivo do novo fenômeno. No entanto, o tempo de permanência na Justiça hoje é pelo menos uma década e meia mais curto.

O juiz Francisco Galvão Bruno entrou para o tribunal em julho, aos 58 anos. Osvaldo Capraro se tornou desembargador na mesma data, aos 63, e sabe que só terá mais sete anos de magistratura. Antonio Dimas Carneiro tomou posse em novembro aos 56 anos. Seus colegas, Ribeiro de Paula e Salles Rossi, em março, com 53. Os juízes Neves Amorim, Marco Antonio, Torres Garcia, Fermino Magnani, Nogueira Júnior, Ricardo Anafe e Jacob Valente não seguiram essa regra. Chegaram a desembargadores aos 49 anos.

Na trilha oposta, entre membros da Advocacia e do Ministério Público, que ingressam pelo atalho do quinto constitucional, a média de idade caiu de 55 para 50 anos. O advogado Erickson Gavazza se tornou desembargador em 2008, um mês antes de completar 46. O procurador de justiça Geraldo Wohlers completa 49 em agosto, mas julga desde março e seu colega, Oswaldo Palu, chegou este mês aos 51 anos. Outros dois advogados Tasso Duarte e Spencer Almeida tomaram posse na última quinta-feira (23/4). O primeiro aos 49 e o segundo aos 53 anos.

Juízes próximos da aposentadoria compulsória de um lado e advogados e procuradores cada vez mais jovens criaram um cenário problemático. O fenômeno, além de dar combustível aos críticos do quinto constitucional, gerou o estigma da idade. A reação tem se manifestado na forma de rejeição de listas sêxtuplas com candidatos que tenham menos de 45 anos.

Recentemente, um advogado teve seu nome rejeitado por ter idade inferior a 40 anos. A rejeição se espalhou sobre a lista sêxtupla que, por motivos diferentes, foi devolvida para a seccional paulista da OAB. “A carreira está parada e permitir a entrada de alguém tão jovem seria punir os colegas de carreira que não conseguem chegar ao tribunal antes de 55 anos”, justifica um desembargador.

O Tribunal de Justiça paulista tem 360 cargos de desembargador, dos quais 72 estão reservados para o quinto constitucional. Hoje, estão empossados 35 ex-procuradores e 33 advogados que ganharam uma cadeira na maior corte do mundo, sem que para isso tivessem que se submeter a concurso público. Outras quatro vagas estão desocupadas, sendo uma do Ministério Público e as outras três reservadas para a Advocacia.

Este ano estão previstas mais oito aposentadorias, sendo duas para vagas reservadas ao quinto constitucional da Advocacia: as dos desembargadores Aloísio de Toledo César, que acontece em setembro, e Carlos Biasotti, prevista para dezembro. As demais são de membros de carreira da magistratura. Entre elas, as de Ruy Camilo, Canguçu de Almeida e Jacobina Rabello.

Dias heróicos

A geração hoje no topo da carreira da Justiça paulista, representada na figura do decano Luiz Tâmbara, entrou no TJ no início da década de 80, com idade entre 42 e 46 anos. Hoje, à beira da compulsória, a maioria ocupou algum cargo de cúpula ou direção do Judiciário paulista.

Os desembargadores mais antigos do quinto constitucional chegaram à magistratura 15 anos depois de seus colegas de carreira. Alcançaram o cargo no final dos anos 90, com idade entre 48 e 58 anos. No grupo estão Aloísio de Toledo César, Walter Guilherme, Paulo Travain e Xavier de Aquino. O primeiro tem origem na Advocacia e os outros no Ministério Público. Nenhum ocupou cargo de direção. Apenas Walter Guilherme, hoje corregedor do TRE, tem chance de se tornar o próximo presidente daquela corte, no lugar do atual, Marco César Muller Valente.

Na história do Judiciário paulista o desembargador Theodomiro Dias, pai do advogado José Carlos Dias, foi o único desembargador vindo do quinto constitucional da Advocacia a ocupar a presidência do Tribunal de Justiça. Já o Ministério Público conseguiu, só nos últimos 20 anos, colocar na mesma cadeira três desembargadores: Marcio Martins Ferreira, Nereu César de Morais e Dirceu de Mello.

Tempos modernos

No grupo que tomou posse nos últimos oito meses, a idade está no intervalo de 50 a 63 anos. No primeiro caso estão os desembargadores Ricardo Anafe e Jacob Valente. No outro extremo, Osvaldo Capraro, que completa 64 em junho.

Uma militância profissional de pelo menos 30 anos na segunda instância da Justiça paulista é capaz de consolidar influência e liderança, que prosseguem até depois da aposentadoria. Em período tão longo é possível sair da posição de neófito aos cargos de direção do tribunal e exercer influência, ainda que moderada, sobre sucessões futuras.

A Lei Orgânica da Magistratura (Loman) é o instrumento jurídico que garante essa sucessão. No entanto, a emenda da Reforma do Judiciário virou de cabeça o equilíbrio do jogo de poder, sinalizando incertezas sobre o futuro político da instituição.

Em primeiro lugar unificou quatro tribunais num só. A medida “inchou” o Tribunal de Justiça, que antes tinha 152 desembargadores e passou para 360. Agora, no lugar de quatro direções, com todos os cargos a que se tem direito, resta apenas uma que poderia passar a ser disputada com unhas e dentes.

O caminho para se evitar um conflito dessas proporções foi sacar a velha Loman. O quesito idade passou a ser uma variável fundamental no jogo de poder do TJ paulista, onde a carreira não pode ultrapassar os 70 anos. A importância da variável saltou de valor depois das mudanças aplicadas pela Reforma do Judiciário e da permanência do limite para a aposentadoria compulsória.

A EC permite que metade dos órgãos colegiados de cúpula e direção possa ser escolhida por meio de eleição direta. A Loman foi usada na última eleição, que escolheu Vallim Bellocchi presidente. Espera-se a repetição do recurso no pleito deste ano, que deve acontecer em dezembro, mas que já está em marcha nos bastidores do maior tribunal do mundo.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!