Perícia privada

Dantas diz que provas do suborno foram fraudadas

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16 de abril de 2009, 19h13

O banqueiro Daniel Dantas entregou um laudo à CPI das Escutas Clandestinas com o qual pretende provar que a tentativa de suborno que o levou a ser condenado em primeira instância a dez anos de prisão foi uma farsa. Dantas depôs por seis horas, nesta quinta-feira (16/4).

De acordo com o laudo, assinado pelo perito Ricardo Molina, a voz que aparece no vídeo apresentado pelo Polícia Federal como prova do suborno não é de Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom, acusado de agir em nome de Dantas. “A atribuição das falas no trecho comentado ao interlocutor Humberto Braz é ato arbitrário, sem qualquer fundamento técnico”, afirmou Molina.

Dantas foi condenado pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo. O juiz acolheu denúncia do Ministério Público segundo a qual o banqueiro ofereceu suborno ao delegado da Polícia Federal Victor Hugo Ferreira para que retirasse de um inquérito policial o próprio Daniel Dantas e sua irmã Verônica. A tentativa de suborno, segundo a denúncia, ocorreu no restaurante Tranvia, em São Paulo durante um encontro reunindo o delegado, Humberto Braz e Hugo Chicaronni, apontados como emissários de Dantas. A cena foi gravada. 

De acordo com Dantas, apesar de Braz aparecer nas imagens que flagraram a cena do suposto crime, a voz não é dele. “A conversa sobre dinheiro aconteceu quando Humberto Braz estava no banheiro”, disse o banqueiro à CPI. “A voz não é dele.”

No laudo, cuja cópia foi entregue aos jornalistas, o perito Ricardo Molina atesta que a transcrição feita pela Polícia Federal não é fiel ao conteúdo da gravação: “Houve uma seleção arbitrária de trechos, procedimento não recomendado em transcrições de cunho forense. Se computados apenas os trechos transcritos, verificamos que apenas cerca de 20% do total das conversações foi efetivamente transcrito — e ainda assim com muitos erros”.

Ainda segundo Daniel Dantas, o laudo foi encomendado por Humberto Braz porque a Justiça se recusou a determinar a perícia. O laudo não convenceu os deputados. O deputado Raul Jungmann, por exemplo, disse: “Entre o laudo e os autos, fico com os autos”.

O banqueiro disse também que a Operação Chacal — deflagrada pela PF em 2004 e que investigava suposta espionagem ilegal feita pela Kroll a mando da Brasil Telecom — foi encomendada pela Telecom Itália. A empresa italiana disputava o controle da empresa telefônica brasileira com o grupo Opportunity, controlado por Daniel Dantas. “A Telecom Itália teria pago agentes da Polícia Federal que trabalharam na Operação Chacal”, disse.

Também foi repassado à CPI por Dantas cópia de denúncia do Ministério Público italiano. De acordo com a Procuradoria de Milão, pessoas da Telecom Itália monitoraram empresários no Brasil, de forma ilegal. O banqueiro ainda afirmou que vários documentos colhidos nas investigações da Polícia Federal foram parar nas mãos de seus inimigos.

O banqueiro falou largamente sobre a as negociações que resultaram na aquisição da Brasil Telecom pela Oi. Segundo ele, a operação de formação da supetele era de alto interesse do governo. Afirmou também que pretendia fazer parte da nova empresa, mas que não teve lucro com sua retirada do negócio de telecomunicações: “Senti que o governo não queria que eu fizesse parte da nova empresa”.

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