Gol contra

Juiz federal de Umuarama já se encontra em Curitiba

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28 de setembro de 2008, 23h15

Estão suspensas as vigorosas manifestações de solidariedade em favor do juiz federal criminal de Umuarama (PR) Jail Benites Azambuja, cujo carro foi baleado por um atirador na garupa de uma moto, em fevereiro. O juiz foi preso neste final de semana.

A Polícia Federal concluiu que foi o próprio Azambuja quem forjou o atentado contra seu carro. Pior: ao saber que seria removido da cidade, ele teria comandado um segundo atentado. Dessa vez contra um colega, o diretor do Fórum local, Luiz Carlos Canalli, no último dia 19. Como no primeiro caso, os executores foram dois motoqueiros e os projetis usados foram de pistolas 9 mm. Azambuja foi transferido na noite de sábado para Curitiba, onde se encontra preso na sede da Superintendência da Polícia Federal.

Mas ainda é cedo para qualquer tipo de certeza. Há interesses conflitantes e motivações diversas a favor ou contra o juiz preso. Logo depois do suposto atentado contra seu carro, Azambuja decretou a prisão de 47 policiais civis, militares e políticos, todos acusados de contrabando, segundo publicou o jornal Gazeta do Povo do Paraná. Uma semana depois, todos foram soltos por falta de provas. A Polícia Federal investiga se os tiros disparados contra a casa do juiz, em fevereiro, não teria sido uma desculpa para justificar a expedição dos mandatos de prisão contra o grupo de policiais suspeitos de envolvimento com o crime organizado.

As primeiras informações começaram a circular entre os juízes no meio da tarde de sábado. Segundo a Gazeta, os mandados de prisão e de busca e apreensão na casa de Azambuja foram cumpridos de forma cautelosa. “Policiais federais à paisana passaram toda a tarde de sábado na casa de Azambuja e não confirmaram se realmente era uma operação. Parentes e amigos chegavam o tempo todo, alguns até com presentes, e transmitiam a impressão de que haveria uma festa no local”, informou o jornal, completando que, por volta das 18 horas o juiz foi levado para o aeroporto de Umuarama, onde a entrada estava restrita aos policiais.

Segundo o relato do repórter Osmar Nunes, correspondente da Gazeta em Umuarama, o estopim para a prisão de Azambuja foram os disparos contra a casa de Canalli. Ainda abalado pelo susto do atentado, na manhã do dia 19, Canalli prometeu que diria coisas que ninguém havia tido coragem de dizer, mas acabou não se pronunciando. Ele deu pistas de que os tiros disparados na casa de Azambuja teriam ligação com os tiros na sua casa, o que também não foi confirmado nem desmentido.

Os disparos de pistola efetuados na casa de Azambuja atingiram um carro da Justiça Federal que acabara de ser estacionado pelo próprio juiz. Ninguém ficou ferido. Ele participou das investigações e na semana seguinte, no começo de março passado, determinou a prisão de 47 policiais civis, militares e políticos, todos acusados de contrabando. Uma semana depois, todos eles foram soltos por falta de provas.

A PF tenta agora montar o quebra-cabeça para saber o motivo do atentado na casa de Canalli, já que ele, diferentemente de Azambuja, não atuava em processos contra integrantes do crime organizado. O próprio juiz disse não entender os tiros, pois o máximo que faz, quando não está em serviço na Justiça Federal, é cuidar de um sítio de 40 alqueires em Xambrê, distante 30 quilômetros de Umuarama. Canalli não sofria ameaças e nunca foi incomodado na casa de muro baixo, sem câmeras filmadoras ou seguranças armados.

Leia a Nota da Ajufe emitida em fevereiro

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação Paranaense dos Juízes Federais alertam para a gravidade do atentado ocorrido na noite de quinta-feira (28/2) na cidade de Umuarama (PR).

Dois homens em um motocicleta efetuaram seis disparos, de pistola 9 milímetros, contra o carro da Justiça Federal utilizado pelo juiz federal criminal Jail Benites de Azambuja. Os disparos poderiam ter sido feitos quando ele e o agente de segurança saiam do veículo, o que leva à hipótese de uma tentativa de intimidar não apenas o magistrado, mas a própria Justiça Federal.

A Polícia Federal investiga o atentado e reforça, desde ontem, a segurança do juiz Benites de Azambuja. A Ajufe solicitou que as apurações sejam acompanhadas pelo Conselho Nacional de Justiça e Conselho da Justiça Federal e requereu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região que sejam adotadas as providências necessárias à segurança do magistrado.

Esse atentado ganha contornos mais graves em razão dos recentes episódios em que novamente a situação de segurança de juízes federais com atuação em varas federais criminais é colocada em xeque. Em decorrência da atuação contra o crime organizados, esses juízes, com freqüência cada vez maior, vêm recebendo ameaças de morte e muitos deles vivem sob escolta policial permanente.

Por esta razão, a Ajufe e a Apajufe reforçam o apelo à Câmara dos Deputados para que o Projeto de Lei 2.057/07 tenha tramitação urgente naquela Casa. De iniciativa da Associação dos Juízes Federais do Brasil, o referido projeto prevê o estabelecimento de um plano com medidas processuais e administrativas para a segurança e assistência dos juízes que se encontram em situação de risco.

Atentados como o que ocorreu em Umuarama servem de alerta para que as instituições do Estado estejam preparadas não apenas para enfrentar as organizações criminosas, mas também para preservar a integridade física daqueles que estão na linha de frente do combate ao crime organizado.

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