Grampo supremo

Folha: Servidores da Abin dizem que Lacerda é vítima de complô

Autor

6 de setembro de 2008, 13h51

Para o presidente da Associação de Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Asbin), Nery Kluwe de Aguiar Filho, a revelação do grampo contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, é resultado de um complô contra o delegado Paulo Lacerda — afastado da direção do órgão de inteligência.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o representante dos agentes secretos diz que o grampo da conversa entre Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), publicado pela revista Veja na semana passada, é privado. Ou seja, não foi feito por agentes da Abin. Segundo ele, “os interessados” em espionar Mendes “são os mesmos que desafiaram a autoridade jurisdicional no âmbito da Satiagraha”.

Leia a entrevista do servidor à Folha

Folha — A Abin é a principal suspeita do grampo. Qual é sua opinião?

Nery Kluwe de Aguiar Filho — Estamos vivendo um complô contra um alvo determinado, o dr. Paulo Lacerda, que quando dirigiu a polícia prendeu mais de 6 mil pessoas, principalmente criminosos de colarinho branco. Com ele, a Abin iniciou um processo de estruturação.

Folha — Quem está por trás disso?

Kluwe — Os interessados são os mesmos que desafiaram a autoridade jurisdicional no âmbito da Operação Satiagraha. A minha convicção hoje é de que esse grampo é privado ou clandestino. O grampo legal da Satiagraha encerrou-se e foi relatado muito antes da data desse grampo. Não há a mínima condição de ter sido oficial.

Folha — E a origem do grampo?

Kluwe — Esses sistemas são auditáveis. Se foi por empresas telefônicas, é fácil saber. Se foi pelo sistema da PF, o Guardião, também. Mas se for maleta fica difícil. O Lacerda sempre disse para fazermos o que a lei nos permite. Essa questão das interceptações virou um descontrole total. Na PF virou moda valer-se do grampo para constituir prova, está perdendo sua capacidade investigativa. É preciso ressaltar que, no caso da Abin, qualquer ação deve ser autorizada e registrada. Quando saímos para conversar com uma fonte, temos que fazer relatório disso. Hoje, 80% da produção de informação da Abin provém de fontes humanas.

Folha — Como vocês receberam as críticas do ministro Nelson Jobim?

Kluwe — Ficamos estupefatos. Nós temos convicção de que essa prática não pode ser atribuída a nós. Há uma resistência no meio militar em relação à Abin. Eles têm hegemonia na área de informação interna. Para nós, de que valeria ouvir o ministro do Supremo? Nada. O clima aqui dentro é de indignação, mas de tranqüilidade porque essa arapongagem é própria de órgãos de regimes de exceção, não é da nossa alçada.

Folha — A Abin é mal utilizada?

Kluwe — A Abin tem que aprender a lição e sair da atividade de inteligência interna, que é a demanda principal do GSI. Quando reúnem-se três sindicalistas, dois líderes do MST para iniciar uma marcha, o GSI aciona a Abin para acompanhar isso. O GSI tem essa demanda de segurança interna, de segurança pública, de defesa, ambiental e militar. Os serviços modernos atuam na inteligência externa, na contra-inteligência, na proteção das autoridades e no contra-terrorismo. A solução é nos libertar dessas demandinhas internas. Só com a inteligência externa, ninguém poderá nos culpar. Não há mudança porque o pessoal do SNI ainda está na direção. Por isso 70% de nossas atividades são internas. Somos obrigados até a procurar boi no pasto e a vigiar invasão de estudante em reitoria.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!