Nuance da realidade

Livro usa história de preso para retratar sistema penitenciário

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14 de outubro de 2008, 19h06

Com prefácio de Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro (Bope), será lançado em novembro Enjaulados, quarto livro do advogado criminalista Pedro Paulo Negrini, em co-autoria com os jornalistas Marcelo Auler e Renato Lombardi.

Enjaulados é um retrato do sistema penitenciário brasileiro. Seu foco está na história de Rogério Aparecido, 28 anos, casado, dois filhos, que vivia para sua família e para o seu trabalho e que, de um dia para o outro, estava trancado numa cela, para cumprir seis anos de prisão por homicídio. O personagem real deste livro vai contra todos os “pré-conceitos” estabelecidos pela sociedade do perfil dos presos do país. Rogério, apesar de pertencer a uma classe social humilde, é branco, descendente de italianos, réu primário e sem passagem por unidades de menores infratores. Não tinha condenações por tráfico ou roubo.

O livro, ainda, conta a evolução de grupos criminosos. Entre eles, o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, que passaram a dominar os sistemas penitenciários dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Os textos são escritos pelo jornalista carioca Marcelo Auler e o paulista Renato Lombardi. “Há um código de honra entre os ex-presidiários. Ter ficado preso confere uma espécie de status. ‘Mano, eu estive lá’. Encontram-se. Entendem-se. Na verdade, escrevi esse livro sem o objetivo de advogar uma causa, mas para defender a sociedade. O Estado gasta uma estupidez com o sistema penitenciário. Como a prisão não é perpétua, um dia o preso sai. Gasta-se muito dinheiro para piorar esse homem. Faz sentido?, questiona Pedro Paulo Negrini.

Enjaulados não questiona os motivos pelos quais Rogério foi condenado, nem a justiça ou a injustiça de sua prisão. “Apresentar Rogério como vítima de uma falha processual não seria ficção. No entanto, mostrar Rogério apenas como vítima determinaria pena e compaixão. A opção mais corajosa — adotada pelo autor — foi apresentar Rogério como um preso, e ponto final. Rogério, que poderia ser nosso irmão, nosso filho, nosso amigo, estava na cadeia e esta realidade, vergonhosamente ignorada por todos nós, agora bate à nossa porta. Apenas torceríamos para que ele cumprisse sua pena e voltasse para sua família são e salvo, e que a cadeia não o tragasse de uma vez por todas para o mundo do crime”, comenta Rodrigo Pimentel em seu prefácio.

A obra põe em xeque o papel reeducador do sistema e as possibilidades ou probabilidades de um presidiário chegar vivo, inclusive psicologicamente, ao final do cumprimento da pena. E mostra tudo que ele precisa fazer para chegar até lá. “A leitura nos leva a um mundo inimaginável, com seus códigos e valores próprios, as relações de poder, o cotidiano dos presos, os rituais de passagem. As construções dos grupos sociais dentro da cadeia são tão bem explicadas que a obra adquire incontestável valor etnográfico.

Enjaulados é uma obra completa, essencial para pesquisadores, agentes da lei, jornalistas “e o mais importante: para o cidadão brasileiro que queira sair do senso comum e mergulhar no nosso coração das trevas, uma selva feita de concreto armado, sangue e dor, que ainda nos assusta pela sua imprevisibilidade e pela capacidade de expor o lado mais inerte das autoridades públicas. Enjaulados é uma dessas obras definitivas sobre o Brasil”, escreve Pimentel.

O livro será lançado em 18 de novembro no Rio de Janeiro, na Livraria Argumento, do Leblon, e em 24 de novembro, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo.

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