Operação Avalanche

Marcos Valério começou a ser investigado após notícia de suborno

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10 de outubro de 2008, 22h14

As investigações da Operação Avalanche, deflagrada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (10/10) e que prendeu o publicitário Marcos Valério, foram iniciadas com a notícia de que policiais federais pediram suborno durante uma busca e apreensão no Bingo Matarazzo — Clique aqui para ler a decisão.

De acordo com a decisão da juíza substituta, Paulo Mantovani Avelino, da 1ª Vara Federal Criminal de São Paulo, a evolução da investigação revelou a existência de um grupo comandado por Marcos Valério para extorquir empresas em dificuldades com a Receita Federal.

A PF diz que o grupo usava contatos nas polícias e receitas tanto da União quanto dos estados para obter informações sobre empresários com problemas no fisco. A partir desses dados exigiam dinheiro em troca de possível solução do problema, segundo a PF.

O grupo foi divido em três núcleos: extorsão, fraude fiscal e espionagem. O último era capitaneado por Marcos Valério, conforme as investigações. Treze pessoas foram presas em São Paulo e quatro em Minas. A PF também cumpriu 33 mandados de busca e apreensão, sendo 24 em São Paulo e oito em Minas. Figuram entre os acusados, empresários do ramo de exportação e agentes da Polícia Civil e Federal.

Marcos Valério é suspeito de ter intermediado com dois advogados uma negociação para corromper policiais federais e favorecer a Praiamar Indústria, Comércio e Distribuição, que pertence à Cervejaria Petrópolis, da região de Sorocaba (SP). A prisão não tem relação com o caso do mensalão, pelo qual Marcos Valério responde processo criminal no Supremo Tribunal Federal. Ele é um dos 40 denunciados por participação em esquema de desvio de verba e compra de apoio político no Congresso Nacional.

Segundo o relatório da juíza, a intenção do grupo era cooptar delegados da PF de Santos (SP) para que abrissem inquérito contra Antonio Carlos de Moura Campos, diretor adjunto de Administração Tributária, e Eduardo Fridman, supervisor de Fiscalização da Diretoria de Administração Tributária. Eles foram os responsáveis pelo auto de infração que acusava a cervejaria de sonegar R$ 104,5 milhões em impostos estaduais.

Para difamar os fiscais, o grupo tentou plantar na imprensa a notícia sobre o inquérito, segundo a PF. Primeiramente, tentaram a publicação na revista Veja, que se recusou a noticiar o fato. Então procuraram o jornalista Claudio Humberto. De acordo com a PF, ele recebeu R$ 10 mil para publicar a notícia. O pagamento não foi confirmado pela PF, diz a juíza. (Leia abaixo a nota publicada na coluna do jornalista no dia 31 de julho).

Em nota, o jornalista Cláudio Humberto refutou as suspeitas da PF. “Eu repudio esta mentira, com toda a minha indignação. Esta é mais uma tentativa de constranger o trabalho de jornalistas e veículos de imprensa independentes”, disse.

Modo de atuação

Segundo a PF, o Núcleo Extorsão — capitaneado pelo agente da PF Francisco Pellicel Júnior e integrado por Edisom Alves da Cruz, Eduardo Roberto Peixoto e Afonso José Penteado Aguiar — tinha como objetivo obter informações sigilosas sobre os empresários que eram extorquidos.

Já o Núcleo Fraude Fiscal — comandado pelo despachante José Roberto do Nascimento, dono da empresa Ocean Line — se destinava à prática de delitos fiscais e de corrupção, de modo a propiciar a importação de mercadorias de maneira ilícita. Fazia parte dele Youssef Nakamori do Nascimento, o engenheiro Giorgio Kouri Zarif, os agentes da PF Paulo Endo e Daniel Ruiz Balde e o investigador da Polícia Civil de SP, Fábio Gatto.

O Núcleo Espionagem era chefiado por Marcos Valério e Rogério Tolentino. Segundo o relatório da juíza, os dois intermediaram encontros entre advogados e policiais federais para que fosse aberto um inquérito contra fiscais.

Foram decretadas as prisões temporárias de Giorgio Kouri Zarif, Yussef Nakamori do Nascimento, José Roberto Nascimento, Leandro Marinny Lage Balducci, Eloá Leonor da Cunha Velloso, José Ricardo Tremura, Eduardo Roberto Peixoto e Afonso José Penteado Aguiar. Foram decretadas a prisão preventiva de Francisco Pellicel Junior, Paulo Endo, Daniel Ruiz Balde, Silvio Oliveira Salazar, Antonio Vieira da Silva Hadano, Edison Alves Cruz, Fábio Tadeu dos Santos Gatto, Marcos Valério Fernandes de Souza, Rogério Lanza Tolentino e Ildeu da Cunha Pereira.

Apesar de o grupo ter como beneficiária a Cervejaria Petrópolis, de Walter Faria, o pedido de prisão temporária contra ele foi negado pela juíza. “É de se reconhecer que seu nome não é mencionado em nenhum diálogo e nem foi interceptada conversa mantida por ele próprio […]. Pelas evidências colhidas até o momento, percebe-se que a prática das atividades criminosas competia a outras pessoas (que efetivamente controlavam tais ações) e não a Walter, de modo que, com a prisão destas, pode-se concluir que o investigado terá muito mais dificuldade em cometer ilíticos”, anotou a juíza.

Em nota, a Cervejaria Petrópolis informou que não tem “qualquer tipo de contrato de trabalho com o Sr. Marcos Valério Fernandes de Souza” e que não teve acesso ao inquérito.

*Notícia alterada às 10h15 deste sábado (11/10) para acréscimo de informações.

Processo 2007.61.81.008500-4

Notícia de Claudio Humberto do dia 31 de julho

PF INVESTIGA EXTORSÃO NO GOVERNO SERRA

Embaraço para o governo tucano de José Serra: a Polícia Federal investiga em Santos dois importantes servidores, Antonio Carlos de Moura Campos, diretor adjunto de Administração Tributária, e Eduardo Fridman, supervisor de Fiscalização da Diretoria de Administração Tributária, por evasão de divisas, lavagem de dinheiro e cobrança de propina, mediante extorsão, de empresas autuadas pelo Fisco.

PISTOLAGEM

Segundo a PF, empresários que se recusavam a pagar propina eram “visitados” por fiscais da Fazenda que aplicavam multas pesadíssimas.

FARRA DA MADEIRA

O inquérito 747/2008-DPF/STS/SP acusa os servidores paulistas de serem sócios de empresa do ramo de madeira com sede na Argentina.

“INTOCÁVEL?”

A investigação da PF contra os servidores constrange José Serra porque ele se jacta de chefiar um governo “intocável” no quesito corrupção.

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