Segunda Leitura

Segunda Leitura: dicas de sobrevivência para o estudante de Direito

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  • Vladimir Passos de Freitas

    é professor de Direito no PPGD (mestrado/doutorado) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná pós-doutor pela FSP/USP mestre e doutor em Direito pela UFPR desembargador federal aposentado ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Foi secretário Nacional de Justiça promotor de Justiça em SP e PR e presidente da International Association for Courts Administration (Iaca) da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e do Instituto Brasileiro de Administração do Sistema Judiciário (Ibrajus).

5 de outubro de 2008, 0h00

Vladimir Passos de Freitas 2 - por SpaccaSpacca" data-GUID="vladimir_passos_freitas1.jpeg">O perfil do ou da estudante de Direito sofreu grande modificação nos últimos 20 anos. A adolescência é a regra e se estende até os 30 anos. O fenômeno não é brasileiro, mas sim internacional. Poucos lêem livros e jornais e, por isso, muitos têm dificuldades nas provas dissertativas. Habituados a um mundo com linguagem visual e corporal, sentem dificuldade em entender longas e enfadonhas exposições teóricas. Isto diminui o interesse pelas aulas.

Os jovens estudantes de Direito não são melhores nem piores do que os do passado. São apenas diferentes. Cresceram em outro mundo. Influenciados pelos computadores, filhos de pais e mães que trabalham muito e não dispõem de tempo, com atividades programadas (inglês, judô, etc.) e pouca liberdade, bombardeados com notícias de violência e maus exemplos. Assim, assustados com um mundo insólito e com previsões pouco otimistas, optam pelos relacionamentos sem compromisso. Não raramente, nem querem ter filhos.

Assim passam os 5 anos do curso. Entre aulas que lhes parecem pouco atraentes e festas quase que diárias. A reprovação a ninguém assusta ou interessa e fica reservada àqueles que simplesmente não comparecem às aulas.

Um dia chega a festa de formatura. Com a presença dos pais, que ingenuamente pensam ter encaminhado o filho, vizinhos, tios vindos do interior e vestidos com um rigor que contrasta com a realidade (terno, vestido longo). Entre ruídos de cornetas e gritos, transcorre a solenidade. No dia seguinte, o bacharel-adolescente começa a pensar se deve preparar-se para o exame da OAB, prestar um concurso ou “fazer uma pós”. Esta é a opção menos traumática e que lhe dá uma moratória de um ano na doce vida de estudante.

Mas esta rotina de 5 anos não é o melhor caminho. O bacharelado é a fase de formar a base dos conhecimentos. Ali devem ser estudados o Direito Constitucional, os mais de dois mil artigos do Código Civil, o Penal com as suas inevitáveis polêmicas e os ramos novos do Direito, como o Ambiental ou do Consumidor.

Nesta fase se miram os professores. Os mais entusiasmados, que sabem ensinar e relacionar-se bem, devem ser os exemplos a serem seguidos. Aproximar-se deles e absorver seus conhecimentos do Direito e da vida é essencial. Sem bajulação ou servilismo, mas com admiração leal e amizade sincera.

A imagem deve ser cuidada desde os bancos da Academia. Aquele tipo informal, que chega às aulas com a camisa de um time de futebol, e aquela animada dançarina, que vai do rock ao forró, mostrando o quanto sabe remexer os quadris, dificilmente serão lembrados para participar de um renomado escritório de advocacia.

Os estágios são essenciais nesta fase. Tudo é bom, tudo é aprendizado. Até reconhecer a firma da procuração ou enfrentar uma fila de 15 pessoas para ser atendido em um cartório. Estas experiências é que formarão o profissional do futuro. E lhe darão base para tentar mudar as coisas para melhor. Quem não passou por isso não valoriza o serviço do próximo. E paga caro o preço de seu desconhecimento.

A curiosidade sobre as múltiplas atividades profissionais é essencial para o sucesso. Ouvir, perguntar, visitar, querer saber como as coisas funcionam, tudo ajuda a consolidar conhecimentos e opiniões. Aí não entra a bisbilhotagem, que acaba com carreiras promissoras. Ao contrário, o estagiário deve ser discreto, não envolver-se em brigas internas do escritório ou repartição. Deve zelar para que, ao findar o estágio, deixe um extenso rol de amigos, um nome lembrado com saudades.

No curso de Direito, praticar um serviço voluntário poderá ser uma boa forma de conhecer as dificuldades dos mais pobres e de valorizar o currículo. Um curso de oratória poderá ser decisivo para auxiliar a expressar-se com clareza e sem inibição. Vestir-se adequadamente sempre é importante. É evidente que de um estudante não se espera um terno preto, uma imagem seráfica e formal. Não, as cores e a alegria fazem parte da juventude e é bom que assim seja. Mas não precisa ir ao ponto de fazer um estágio na Justiça e apresentar-se com um boné e um jeans rasgado no joelho. Ou, no caso de estagiária, com um palmo do corpo aparecendo e uma tatuagem de uma borboleta bem ali no fim das costas.

Em síntese, o jovem estudante de Direito precisa ter em mente que deve aproveitar bem os 5 anos do curso de Direito. E aproveitar não significa viver de festa em festa, de segunda a domingo. Significa, isto sim, saber conciliar o prazer e o dever. Preparar-se para a vida adulta, para ser um profissional competente e respeitado.

Na graduação e depois, é fundamental manter um extenso rol de amizades (networking), ir além de ser criativo para tornar realidade seus projetos, reagir aos insucessos com ânimo redobrado, valorizar a família e, sobretudo, manter a coerência na vida. Estes fatores serão decisivos para uma carreira de sucesso.

Em suma, planejar bem os passos, percorrer o caminho certo, é decisão sábia e que deve ser tomada bem cedo. Se demorar muito pode ficar tarde demais. E ninguém acha muita graça em um quarentão que está a cursar a quarta Faculdade e a contar suas experiências zen de viagem feita ao Nepal.

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