Polícia na política

Mais de 4 mil policiais são candidatos nessas eleições

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2 de outubro de 2008, 10h48

A Polícia resolveu fazer política. Ou melhor, entrar para a política. A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) já elaborou um planejamento estratégico para incentivar a candidatura de agentes policiais nas eleições proporcionais de 2010. Dados da Justiça Eleitoral também mostram que policiais militares e civis dos estados estão mais interessados em política.

No congresso dos policiais federais, que aconteceu em agosto deste ano, a categoria criou inclusive um grupo de trabalho para incentivar a candidatura de agentes nas próximas eleições. O grupo já conta com cinco pessoas. “Está se criando uma consciência da necessidade da categoria se credenciar para dar visibilidade às demandas dos policiais, tanto nas questões internas, mas também para participar do debate que envolve a segurança pública”, afirma Edison Tessele, diretor parlamentar da Fenapef.

Os números do Tribunal Superior Eleitoral ratificam a tendência. Este ano, 4.144 policiais civis e militares estão disputando a eleição. Há quatro anos, esse número era de 3.886. Em 2008, 40 policiais civis e 45 militares serão candidatos a prefeito. Para as Câmaras de Vereadores, 2.937 policiais militares e 1.022 civis estarão na disputa. O número pode ser maior já que alguns policiais registraram-se na Justiça Eleitoral como servidor público.

Em termos de comparação, a advocacia encontra-se em tendência contrária a dos policiais. Nas eleições municipais de 2004, 7.067 advogados foram candidatos. Este ano, o número caiu para 6.851. Nessas eleições, há mais médicos candidatos a prefeito do que advogados, por exemplo — Clique aqui para ler texto sobre candidatos da comunidade jurídica.

Como a questão da criminalidade está no centro do debate, os agentes de segurança estão aproveitando a popularidade para angariar votos. A história está repleta de exemplos dessas linhas de poder. De 1970 até o final do século XX, com a instabilidade econômica, os economistas ganharam espaço na política, como os casos de Roberto Campos, Delfim Netto, Francisco Dornelles, José Serra e Aloísio Mercadante. No fim da ditadura, quando a sociedade buscava uma nova ordem legal, foi a vez dos advogados. Foi nesse período que a categoria conseguiu ampliar as prerrogativas.

Os membros do Ministério Público e juízes também tiveram seu momento de alta. Mas, o ímpeto foi freado depois que se esgotou em 1988 a licença para integrantes do MP concorrerem nas eleições. E, no começo deste século, quando o desemprego batia recorde, o país elegeu o ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República.

Candidatos da categoria

O presidente da Fenapef, Marcos Vinício Wink, ressalta a importância de os policiais participarem no debate sobre a segurança pública. “O debate é feito por pessoas que não sabem. Como no caso das algemas, por exemplo. Se algum dos ministros do STF tivesse sido policial, duvido que eles aprovariam a súmula daquela forma”, afirma.

Wink lembra que não há no Congresso nenhum representante da categoria dos policiais federais. “Os agentes, que chegaram lá, não são representantes da categoria”, afirma o presidente da Fenapef. Ele cita o caso do deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ). Apesar de ter sido policial federal, ele chegou à Câmara por causa de seu trabalho na Secretaria de Segurança Pública do Rio.

Mas não faltam exemplos de policiais que fizeram carreira na política usando suas credenciais da Polícia. Em São Paulo, Conte Lopes (PTB) trocou sua farda de capitão da PM pelo terno de deputado estadual. No Rio, Marina Magessi (PPS) deixou a Polícia Civil para ocupar uma cadeira de deputada federal.

Os dois casos servem para ilustrar também que policiais não escolhem sigla. Do PCdoB ao DEM, todo o espectro ideológico-partidário abre oportunidades para policiais se candidatarem. Mesmo assim, o presidente da Fenapef avalia que os policiais ainda não têm boa imagem na sociedade. Para ele, ainda existe um ranço da época da ditadura. “A PF vem tentando reverter isso daí. O policial é um cidadão”, afirma. Ele acredita que em oito ou dez anos essa imagem deve ser diferente na sociedade.

Pelo menos seis candidatos têm relações diretas com o movimento sindical dos agentes da PF. Em Manaus, o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Amazonas, o autodenominado Professor Júlio César, é candidato a vereador pelo PRB. Outro ex-presidente do sindicato estadual dos policiais federais é Odilon Benício Júnior, que já foi vereador em Macaíba (RN) e tenta voltar ao cargo pelo PMN.

Pelo PDT de São Paulo concorre Sabino, ex-presidente do sindicato dos policiais federais do estado e diretor de Relações do Trabalho da Fenapef. Em Itajaí (SC), o candidato da classe é o agente Carlos Ely (PDT), que já foi delegado sindical.

Os escrivães e peritos da PF também estão na disputa. Em São Luis, o escrivão Hans Joseph Nina Hohn, que é presidente do sindicato dos policiais federais, é candidato a vereador pelo PCdoB. O representante dos peritos é Geraldo Amorim (PDT), que tenta a reeleição à Câmara dos Vereadores de João Pessoa. Além de vereador, Amorim diz que faz consultoria na área de segurança e perícia de documentos.

Alguns candidatos usam o cargo de policial para promover a sua candidatura. Em Balneário Camboiú (SC), o candidato Jorge Castanha de Araújo usa nas urnas o nome Policial Castanha (PTB). Ele já foi presidente da associação de policiais e bombeiros de sua cidade e hoje preside a União de Agentes Policiais, que congrega os profissionais da segurança pública de Santa Catarina. O mesmo aconteceu com o Cabo Almi (PT), que tenta se eleger em Campo Grande (MS).

Já o Delegado Paulo Sérgio Martins (PV) concorre a uma vaga em Jundiaí (SP) com o discurso de que é umas das autoridades policiais mais conhecidas da cidade. Ele diz ter criado o Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil. Até o fato de ser guarda municipal pode ser usado como bandeira política. Em Curitiba, o PT tem um candidato cujo nome político é Guarda Municipal Peruchi. Seu slogan não poderia ser outro: “mais segurança é mais qualidade de vida”.

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