Fora do limite

Luta interna mostra que Polícia Federal precisa de controle

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8 de novembro de 2008, 12h13

Editorial publicado no jornal Folha de S.Paulo deste sábado (8/11)

A luta entre facções da Polícia Federal já ultrapassou todos os limites. A batalha ganhou vida própria, o que ameaça a credibilidade do órgão, desafia a hierarquia institucional e dissemina, por onde passa, desrespeito a garantias básicas dos cidadãos.

Descobre-se agora, por meio de reportagem da Folha de S.Paulo, que a equipe da PF incumbida de investigar abusos policiais cometidos na chamada operação Satiagraha também recorreu a subterfúgios abusivos. Sem autorização judicial, a apuração, a cargo da Corregedoria do órgão, obteve dados sobre o sigilo telefônico de algumas pessoas, inclusive de jornalistas, a pretexto de investigar a hipótese de vazamento de informações no dia em que a operação foi deflagrada.

A Satiagraha lançou mão de estratagemas estapafúrdios, como o uso de agentes da Abin para auxiliar a investigação. Além disso, enveredou numa cruzada ideológica e intimidatória contra jornalistas e meios de comunicação -o pedido de detenção de uma repórter deste jornal chegou a ser solicitado pela PF, embora tenha sido devidamente negado pela Justiça.

A liberalidade na concessão e no controle, pelo Judiciário, de autorizações para grampos telefônicos também entrou em debate por conta da Satiagraha. Quando a “grampolândia” chegou ao gabinete da Presidência, o governo Lula resolveu patrocinar uma revisão na legislação das escutas telefônicas, o que de resto era mesmo necessário.

O que espanta, contudo, é que a PF não tenha aprendido nada com todo esse episódio. Chega a ser acintoso que uma equipe de policiais escalada para verificar a correção do trabalho de colegas incorra, ela própria, em arbitrariedades contra garantias constitucionais. A Polícia Federal precisa de mais controle.

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