País devastado

ONU encontra dificuldade para ajudar vítimas de Mianmar

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13 de maio de 2008, 18h11

Mais 40 toneladas de suprimentos foram enviadas para a cidade de Yangon em Mianmar pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Um avião com 24 toneladas de ajuda, que partiu de Dubai, aterrissou no país nesta terça-feira (13/5). Dois caminhões atravessaram fronteira com a Tailândia na segunda. A estimativa é de que os suprimentos ajudem 10 mil pessoas. O Programa Mundial de Alimentação da ONU informou que consegue enviar somente 20% da ajuda alimentar necessária por causa de gargalos, problemas logísticos e das restrições impostas pelo governo de Mianmar.

No dia 3 de maio, um ciclone devastou Mianmar. Segundo a televisão estatal controlada pelo governo militar do país, mais de 34 mil pessoas morreram com a passagem do ciclone Nargis e 27 mil estão desaparecidos. A ONU estima em 100 mil o número de mortos.

Apesar de continuar o trabalho de envio, a ONU afirmou nesta terça que apenas uma pequena fração da ajuda internacional está chegando às vítimas. Outro avião da ONU, carregado com 40 toneladas de ajuda, deve chegar de Dubai ainda esta semana.

Fortes chuvas atingiram nesta terça os sobreviventes, complicando ainda mais a distribuição de ajuda a cerca de 1,5 milhão de vítimas no delta do rio Irrawaddy, no sul de Mianmar.

“Existe obviamente grande frustração com o fato de todo esse esforço de ajuda não ter sido acelerado”, declarou Richard Horsey, porta-voz das operações humanitárias da ONU em Bangcoc. É cada vez maior a pressão internacional para que a Junta Militar que controla Mianmar desde 1962 acelere a distribuição dos mantimentos. O recluso regime proíbe o acesso de estrangeiros ao interior do país.

Grande parte dos sobreviventes está abrigada em monastérios budistas ou acampa ao relento, bebendo água contaminada. Remédios e alimentos são escassos. A Junta Militar não tem emitido vistos de entrada para agentes humanitários e controla a distribuição da ajuda enviada. Quase 50 pessoas ligadas à ONU e ONGs esperam o visto.

A França propôs que o Conselho de Segurança da ONU imponha a oferta de ajuda internacional, se a Junta Militar continuar restringindo seu acesso. Um repórter da France Presse foi de Yangun para o delta no domingo (11/5). No caminho, viu “bons samaritanos, com comida, mas, ao abrirem os caminhões para distribuí-la, os soldados levavam uma parte e comiam eles mesmos”. Exilados na Tailândia dizem que soldados apreendem metade do carregamento das ONGs internacionais.

A Junta Militar manteve a determinação de rejeitar as pressões internacionais para autorizar com mais rapidez o desembarque de ajuda às vítimas do ciclone Nargis, e insistiu que pretende controlar a distribuição do auxílio.

Referendo

Os militares também festejaram no domingo o “sucesso” do referendo sobre a Constituição do país. Convocados para votar pela primeira vez desde 1990, os eleitores de Mianmar participaram “massivamente” do referendo no sábado, segundo o jornal New Light of Myanmar, controlado pelo regime.

“A realização do referendo foi coroada pelo sucesso em todo o país”, afirmou o jornal. A votação não foi feita em 47 cidades, onde ela acontecerá no dia 24 de maio. Segundo a Junta Militar, a nova Constituição abrirá a porta para “eleições plurais” em 2010 e a uma possível transferência de poder aos civis.

No entanto, a oposição, liderada pela prêmio Nobel da Paz de 1991, Aung San Suu Kyi, pediu à população que votasse “não” por temer que o resultado a favor potencializasse a supremacia do exército.

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