Venda de cavalo

Mantido leilão do haras dos filhos dos fundadores da Igreja Renascer

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8 de junho de 2008, 11h44

A Justiça paulista manteve o seqüestro de bens e a venda em leilão público de cavalos da raça manga-larga machador do Haras Reobot. O haras tem como sócio Felipe Daniel Hernandes, conhecido como bispo Tid. Ele é filho dos fundadores da Igreja Renascer, Estevam e Sônia Hernandes. Felipe é acusado pelo Ministério Público de São Paulo de lavagem de dinheiro.

A defesa do bispo Tid pediu à Justiça paulista para levantar o seqüestro ou pelo menos suspender a venda antecipada dos animais. A 9ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, por maioria, entendeu que o leilão está amparado em lei e que a venda seria necessária diante dos custos de criação e tratamento dos cavalos. A decisão não foi apoiada pelo revisor, René Nunes. Ele queria ouvir o administrador judicial do haras antes de determinar o leilão. Cabe recurso.

O haras, que de acordo com a decisão do Tribunal de Justiça, está registrado com o nome de Agropastoril Reobot Ltda, fica em Atibaia, no interior de São Paulo e estaria avaliado em R$ 5 milhões. A empresa foi criada em 2002. De acordo com o Ministério Público, no haras são criados 250 cavalos da raça manga-larga marchador.

Para o Ministério Público, os réus colaboraram para a prática de lavagem de dinheiro ao comprar empresas e cavalos de raça. Ainda de acordo com o MP, o dinheiro usado para a aquisição do haras e dos animais viria de atividades ilícitas de empresas ligadas a Igreja Renascer.

Estevam Hernandes Filho e Sonia Hernandes foram denunciados por lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público paulista, o casal chefia uma rede de empresas ligadas à Igreja Renascer por meio de um esquema controlado pelo clã. Ainda segundo a Promotoria, o grupo fez “verdadeira fortuna” explorando a fé religiosa alheia e fazendo negócios contestados na justiça.

Os fundadores da Igreja Renascer, Sônia e Estevam, cumprem pena nos EUA – onde foram presos por tentar entrar com dólares não declarados. Sônia deixou a prisão americana nesta sexta (7/6) onde cumpriu 140 dias de pena em regime fechado.

No Brasil, o casal responde a processo por lavagem de dinheiro, estelionato, falsidade ideológica e evasão de divisas. Esta semana, o STJ, suspendeu o decreto de prisão preventiva expedido contra os dois pelo segundo crime.

“Constituiu-se, assim, a formação de uma organização criminosa voltada para a prática de crimes de estelionatos e outras fraudes como formas de arrecadação para a prática de delitos de lavagem de dinheiro decorrente das atividades daquela formação de forma e em caráter permanente”, afirma a denúncia.

A denúncia contra o casal e seus sócios foi recebida pelo juiz Paulo Afonso Rossi, da 1ª Vara Criminal da Capital. Além de Sônia e Estevam são apontados como envolvidos em delitos o bispo Antônio Carlos Ayres Abbud e seu irmão, Ricardo Abbud. No mesmo despacho que recebeu a denúncia, o juiz determinou o bloqueio de cerca de R$ 46 milhões e outros bens dos réus.

O juiz proibiu a movimentação de oito contas bancárias das empresas Colégio Gamaliel e Publicações Gamaliel — abertas em nome do casal Hernandes e cuja movimentação registrada entre 2000 e 2003 apontou um montante de R$ 46,4 milhões.

Ele determinou, ainda, o bloqueio da mansão de Estevam Hernandes em Boca Ratón, no litoral da Flórida avaliada em US$ 465 mil, uma fazenda de 45 hectares em Mairinque, a 70 km de São Paulo, comprada pela Igreja em 2001 por R$ 1,8 milhão e outra área rural, localizada em São Roque.

Um levantamento na Justiça de São Paulo e Brasília aponta que a Fundação Renascer e suas empresas respondem a cerca de 110 processos. Nesses casos, elas são cobradas a devolver aproximadamente R$ 12 milhões.

A denúncia

A denúncia aponta que Fundação Renascer atuava como organização criminosa. A entidade formou uma rede de empresas que se dedicam a movimentar o dinheiro angariado por meio de estelionato, ou doações de fiéis feitas diante de todo tipo de promessa, de acordo com o Ministério Público.

À Fundação estavam ligadas as empresas Ahawa Turismo Ltda, Ahawa Programadora e Comunicação Ltda, Editora e Livraria Renascer em Cristo Ltda, F.H. Comunicação e Participações Ltda, Gospel Records Industrial Ltda, Instituto Gospel de Ensino S/C Ltda, Waves Retransmissão e Comunicação Ltda, FRGC Produções Ltda.

Os acusados atuavam com estrutura hierárquica do tipo piramidal. Na posição de chefes estavam os apóstolos Estevam e Sônia. Como sub-chefes apareceriam Leonardo Abbud, Antônio Carlos Ayres Abbud e Ricardo Abbud. Abaixo deles apareceriam os gerentes, que seriam bispos da Igreja. Estes recebiam as ordens da cúpula e as repassavam aos “aviões”, de acordo o MP.

Eventualmente, os gerentes serviam com “testas de ferro” ou “laranjas”. Já os “aviões” são pessoas com alguma qualificação responsável pela execução de tarefas.

A fortuna

De acordo com a denúncia, num período de apenas cinco anos (1997-2002), Estevam acumulou um rendimento total de R$ 3,7 milhões. Seu patrimônio evoluiu de R$ 232.512,96, em 1997, para R$ 1.025.990,39, em 2002. Dados do Banco Central (Bacen) aponta que o líder da Renascer gastou no período de abril de 1998 a abril de 2003, apenas com compras e serviços de cartões de crédito internacional, o montante de US$ 480.662,62.

Sônia e Estevam Hernandes foram presos no aeroporto de Miami, Estados Unidos, em janeiro de 2007. Ao entrar no país, o casal declarou que não levava dinheiro além do limite de US$ 10 mil dólares, permitido pela lei. Submetidos a revista, a polícia do aeroporto encontrou US$ 56 mil escondidos entre os pertences do casal. Com base nessa descoberta, o Ministério Público Federal apresentou denúncia contra o casal por evasão de divisas.

Nos Estados Unidos, o casal foi condenado pelo crime de “contrabando de dinheiro” e cumpre pena de reclusão. A defesa alega que os valores citados na denúncia oferecida à Justiça brasileira “foram devidamente declarados, tendo sido recolhidos todos os impostos a eles referentes”.

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