Caso das teles

Grupo é denunciado na Itália por espionar Daniel Dantas e banco

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22 de julho de 2008, 18h00

A Procuradoria de Milão, na Itália, denunciou na segunda-feira (21/7) um grupo de 34 pessoas acusado de participar de um esquema de espionagem em diversos países. Oito deles atuariam no Brasil. Segundo os procuradores italianos, a ação do esquema começou com a disputa entre sócios da Brasil Telecom pelo controle da empresa, informa o jornal O Estado de S.Paulo.

A briga teve origem em 2000. Segundo os procuradores italianos, a Telecom Italia induziu a Brasil Telecom a comprar a empresa CRT por um “preço considerado exorbitante em relação aos valores acertados”. A pedido do Banco Opportunity, de Daniel Dantas, a Kroll investigou as razões de a TI ter tentado induzir a BrT a comprar por um preço US$ 100 milhões a mais do que o acertado. A Telefônica, dona da empresa, teve de se desfazer da CRT depois de adquirir em leilão, em 1998, a Telesp e a Telerj celular.

O primeiro preço combinado, em janeiro de 2000, pelos acionistas da BrT era de US$ 750 milhões. Meses depois, a TI teria fechado acordo com a Telefônica por US$ 850 milhões. No final, o negócio saiu por US$ 800 milhões.

Na denúncia, a Procuradoria de Milão lista centenas de pessoas espionadas pelo esquema, que seria comandado por Giuliano Tavaroli, ex-chefe da segurança de Telecom Itália.

No Brasil, os espiões teriam invadido e-mails de agentes da Kroll e da executiva Carla Cico, ex-presidente da BrT indicada por Dantas. Também foram espionados os e-mails do Grupo Opportunity, da BrT, de advogados e jornalistas italianos.

O advogado de Dantas, Nélio Machado, já falou da importância do inquérito italiano para a defesa do banqueiro no processo que responde na Operação Satiagraha. Machado questionou a imparcialidade do Ministério Público Federal do Brasil ao ignorar os depoimentos dados na Itália, incriminando desafetos do banqueiro.

No processo de Milão, não foi apurada a suposta espionagem feita pela Kroll, a mando de Dantas, contra seus desafetos e autoridades brasileiras, alvo em 2004 da Operação Chacal, da Polícia Federal.

Segundo a apuração de Milão, o grupo de Tavaroli teria interceptado e-mails e pago propina para ter acesso a informações confidenciais. Eles teriam fraudado relatório produzido pela Kroll, a pedido de Dantas. O objetivo seria plantar provas contra o banqueiro e a Kroll, que negam a espionagem. Por esses crimes, além da Tavaroli, foi denunciado o ex-chefe de segurança da TI na América Latina, Angelo Jannone.

Além dos 34 acusados, a Telecom Itália e a Pirelli foram denunciadas, com base na lei italiana sobre responsabilidade administrativa de empresas por crimes cometidos por funcionários. Eles pagariam propina a policiais e agentes do serviço secreto italiano para obter acesso a bancos de dados. Marco Tronchetti Povera, ex-presidente da TI, não foi denunciado.

Em novembro do ano passado, a revista Consultor Jurídico publicou entrevista com a brasileira Luciane Araújo, que confirmou para a Justiça italiana o esquema de espionagem ilegal montado pela Telecom Italia no Brasil. Segundo ela, levou o caso à Polícia e, depois de prestar depoimento, foi seguida e ameaçada por um desconhecido (Clique para ler).

Em depoimento à Polícia italiana, nos dias 4 e 24 de outubro, Luciane disse que foi contratada por Mario Bernardini, ex-chefe de segurança da Telecom Italia, para fazer traduções das conversas telefônicas interceptadas ilegalmente no esquema de espionagem montado pela empresa contra o Opportunity e Daniel Dantas.

“A minha missão era unicamente a de traduzir CDs de áudio contendo interceptações telefônicas em português entre altos dirigentes da Brasil Telecom e Telecom Italia a respeito de operações de balanço falsificadas, informações pessoais de caráter privado, movimentações financeiras sobre eventuais empreitadas, identificação de testas-de-ferro”, declarou Luciane à Polícia.

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