Operação Satiagraha

Segundo gravação, Protógenes quis deixar comando da Satiagraha

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17 de julho de 2008, 21h30

A Polícia Federal divulgou nesta quinta-feira (17/7) três trechos da gravação da reunião que discutiu a saída dos delegados Protógenes Queiroz, Karina Murakami Souza e Carlos Eduardo Pelegrini Magro do comando da investigação da Operação Satiagraha.

Na reunião que aconteceu segunda-feira (14/7), o delegado reconhece ter criado um problema e manifesta interesse em colaborar na continuidade das investigações, mas diz não querer mais presidir o inquérito. A divulgação foi feita a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião com o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o diretor-interino da Polícia Federal, Romero Menezes.

A gravação reproduz um diálogo entre Protógenes e o diretor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Ciciliati Troncon Filho. A PF afirma que optou por fazer uma edição da gravação para evitar a publicidade de dados sigilosos sobre o futuro das investigações. Inicialmente, a PF havia informado que não divulgaria as gravações, mas voltou atrás.

A PF informou que a manutenção de Protógenes no comando do inquérito, como defendeu na quarta-feira (16/7) o presidente Lula, depende apenas de um gesto pessoal do delegado. O delegado teria de abrir mão de um curso presencial de formação em que está matriculado, com início previsto para a próxima segunda-feira (21/7).

De acordo com a gravação divulgada, o delegado Protógenes quis continuar no inquérito, mas não mais presidi-lo. Pediu para deixar o comando: “Minha proposta é: eu fico até o final da operação, eu criei um problema para os meus colegas delegados, um grande problema, e para você [Troncon] também. Então minha proposta é essa, permanecer minha vinculação ao seu gabinete, à sua disposição até o final do trabalho, para não ficar aquela pecha de que Brasília vem fazer operação nos estados e deixa no meio do caminho. As minhas nunca ficaram e a exemplo dessa, não vai ficar, mas com um diferencial: eu não vou ficar presidindo, não pretendo presidir nenhuma investigação, mas ficar coletando dados, analisando”.

Em resposta, Troncon condiciona a permanência do delegado à conclusão do inquérito antes de ele iniciar o curso.

Troncon: “Se eventualmente, dentro do desdobramento natural desse inquérito que você instalou, se você conseguir concluir antes do período de você ir para a academia, sem nenhum problema. Agora, se não conseguir dentro da melhor técnica, e isso requerer maior tempo e maior análise, aí a gente passa para um dos colegas”.

Em outro trecho da reunião, Protógenes agradece o apoio recebido dos seus superiores e faz uma autocrítica em que admite falhas na condução da operação, especialmente sobre a presença da imprensa no momento das prisões.

Protógenes: “Não preciso nem falar com relação ao doutor Troncon, que é um chefe ímpar, que me deu toda essa… Eu devo praticamente 100% da execução dessa operação a dois homens de bem dessa Polícia Federal. Primeiramente eu destaco o doutor Troncon. Em seguida, o doutor Leandro [Daiello, superintendente da Polícia Federal em São Paulo] e em terceiro, como coadjuvante dos dois, eu não poderia esquecer aqui o dr. Luiz Fernando Côrrea, a quem prezo e tenho um carinho muito grande. Então ele era sabedor dessa operação e correu tudo bem. Aqui hoje é uma avaliação de erros para nos corrigirmos e nos policiarmos. Então houve a presença da imprensa aqui em São Paulo? Houve. Quem falhou? O Queiroz [delegado se refere a ele mesmo]. Falhou porque o Troncon me depositou [confiança] e eu firmei compromisso com ele, mas falhou o meu controle”.

Em outro trecho da gravação, perguntam ao delegado se ele conseguirá concluir o relatório até sexta-feira. O delegado responde que só faltava ouvir Humberto Braz, suspeito de ter tentado subornar a Polícia Federal a mando do banqueiro Daniel Dantas. Ex-presidente da Brasil Telecom, Braz entregou-se à PF no fim de semana. “Se o Humberto se apresentou, acredito que não tenha óbice”, respondeu.

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