Fonte grampeada

Agente da Abin diz que analisou áudio de jornalistas e investigados

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16 de dezembro de 2008, 17h22

O agente secreto da Agência Brasileira de Investigação Márcio Seltz confirmou nesta terça-feira (16/12/) que analisou conversas entre jornalistas e investigados na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. A afirmação foi feita em documento que o agente enviou à CPI das Interceptações Telefônicas da Câmara dos Deputados para retificar depoimento que prestou há duas semanas na CPI. A informação é da Folha Online.

No ofício, o agente afirma que os áudios foram entregues pessoalmente ao diretor-geral afastado da Abin, Paulo Lacerda. Seltz disse ter recebido as gravações em um pen-drive das mãos do delegado Protógenes Queiroz. A Abin na está autorizada por Le a trabalhar com interceptações. Lacerda nega ter recebido as gravações.

De acordo com a reportagem, o funcionário da Abin não explica se os jornalistas foram grampeados ilegalmente (a Justiça não autorizou escutas de jornalistas) ou se as conversas foram captadas em interceptações legais dos investigados.

No relatório da Operação Satiagraha, Protógenes acusou jornalistas de se associarem ao banqueiro Daniel Dantas. Protógenes foi afastado da operação, acusado de cometer irregularidades n ocurso das investigações. Mais tarde descobriu-se que ele usou os serviços de 80 agentes da Abin de dorma ilegal e sem o conhecimento da cúpula da PF.

Para o presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), as novas revelações de Seltz mostram que os jornalistas foram vigiados com o conhecimento de Lacerda. “No fundo eles estavam espionando os jornalistas e suas fontes. É absolutamente ilegal o diretor da Abin receber esses grampo”.

No depoimento prestado à CPI, Seltz já revelara ter analisado grampos e repassado os áudios a Lacerda, mas negou a existência de gravações com jornalistas. No documento em que corrige seu depoimento, ele diz que na hora não se recordou dessas conversas e diz que “não houve má-fé”.

A Folha informa, ainda, que por meio de sua assessoria, Lacerda afirmou que não recebeu nenhum áudio de seu subordinado. Confirmou que se reuniu com Seltz em junho apenas para uma conversa sobre o andamento da Satiagraha.

A pedido de Protógenes, Seltz foi recrutado para auxiliar as investigações e passou a trabalhar dentro da sede da PF, em Brasília. Lá, fazia a triagem de e-mails dos investigados e a análise de reportagens publicadas sobre Daniel Dantas. Descoberto, foi retirado do prédio, mas não das investigações.

Seu trabalho serviu de base para um dos capítulos mais controversos do relatório da Satiagraha, que trata da suposta cumplicidade entre Dantas e a imprensa. Sem provas concretas, Protógenes acusa repórteres de vazarem detalhes das investigações para Dantas.

O delegado chegou a pedir a prisão da jornalista da Folha Andréa Michael, que antecipou detalhes da investigação em reportagem. A prisão foi negada pelo juiz Fausto Martin de Sanctis.

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