Custo das prisões

Defensor mostra gastos com presos que deveriam estar soltos

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8 de dezembro de 2008, 10h58

O defensor público Marcos Rondon Silva, de Mato Grosso, criou uma fórmula para mostrar quanto custa ao erário manter presos que já deveriam ter sido liberados. Em levantamento feito em quatro presídios de Cuiabá e Várzea Grande com mil presos, Rondon Silva revelou que eles ficaram 65.738 dias a mais na prisão em regime fechado. O custo do Estado com essas prisões foi de R$ 2,6 milhões de agosto de 2007 a outubro 2008. “As cifras são espantosas”, diz o defensor.

O dado foi calculado a partir do custo mensal de cada preso. Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública, esse valor é de R$ 1,2 mil. Nas duas cidades, a população carcerária gira em torno de 2,5 mil pessoas. A projeção é que 187.822 dias a mais foram cumpridos. O valor seria de R$ 7,5 milhões segundo as projeções do defensor. “O Estado está jogando dinheiro fora”, afirma Rondon Silva. Ele lembra que essa demora na liberação dos presos pode custar ainda indenizações por danos morais.

O seu ponto de vista não é aquele do senso comum de que os presos são um gasto desnecessário para sociedade. O argumento de Rondon Silva serve, na verdade, para chamar atenção para a necessidade de conceder liberdade aos presos que estão aptos a recebê-la. “A superlotação também é causado porque tem preso que não deveria mais estar lá”, explica.

Apesar de o estudo ser feito por quem cuida da defesa dos presos, Rondon Silva diz que somente são computados os casos em que claramente os direitos não estão sendo respeitados. Além do notório passivo social, essas prisões geram um passivo financeiro, argumenta o defensor. “Quanto ao passivo financeiro, causa verdadeiro espanto observar o quanto a permanência indevida do apenado no regime fechado impacta negativamente os cofres públicos”, diz.

O custo no regime semi-aberto não é levado em conta por duas razões. Em Cuiabá e Várzea Grande, o semi-aberto é cumprido com as condições do aberto, A Secretaria de Justiça e Segurança Pública de MT não tem dados sobre esse tipo de regime.

A estatística faz parte do Programa de Assistência ao Segregado, operado pelo Núcleo de Execução Penal da Defensoria Pública de Mato Grosso.

Criado em janeiro de 2007, o núcleo, que tem cinco defensores, recebeu naquele ano o IV Prêmio Innovare, como uma das Práticas Vencedoras, na categoria Defensoria Publica. O grupo venceu o prêmio por causa na sua metodologia de gerenciamento na Execução Penal. “Os presos são tratados como os advogados particulares cuidam de seus clientes”, explicar o defensor.

O programa dispõe nos quatro presídios de um escritório, onde atendem os presos. No primeiro contato, o defensor já entrega uma cópia de petições em favor do preso. “Ele fica seguro de que seus direitos serão resguardados pela Defensoria”, diz Rondon Silva.

As informações processuais são colocadas em um banco de dados informatizado que permite ao preso receber os dados atualizados. As rotinas e relatórios são gerenciados pelo software chamado de PAS Digital. Foi esse sistema que permitiu Rondon Silva a levantar o número. “Um dos pontos do programa é o cadastramento de todas as anomalias processuais prejudiciais ao preso. Elas invariavelmente resultarão na sua permanência indevida no regime fechado”, afirma o defensor.

Os pedidos administrativos, como atentados carcerários e de trabalho, é feito na automaticamente na hora do atendimento. Ao fim da visita, é feito um relatório que é anexado ao prontuário do preso na Defensoria. As condições carcerárias, por meio de entrevista, também são averiguadas nesse programa.

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