Banqueiro falante

Protógenes recomendou a Dantas que não falasse com a imprensa

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13 de agosto de 2008, 22h19

O banqueiro Daniel Dantas afirmou, nesta quarta-feira (13/8), que o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que conduziu a Operação Satiagraha, fez duas recomendações a ele: que não falasse com a imprensa e que não trouxesse para o Brasil o processo da Justiça italiana sobre o caso da Telecom Italia. Segundo ele, o delegado disse que o material da Itália já tinha sido apurado e não era verdadeiro.

Daniel Dantas afirmou que os documentos italianos trazem a suspeita de que a Telecom Italia instrumentalizou pessoas ligadas à PF e à Agência Brasileira de Investigação, a Abin. O banqueiro afirmou que essas pessoas teriam invadido correspondência do grupo Opportunity. O processo italiano mostra ainda, de acordo com Dantas, que teriam sido distribuídos € 25 milhões a pessoas no Brasil para impedir que seu grupo continuasse como sócio da BrT.

O delegado também disse ao banqueiro que iria investigar os filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele disse que ia até o fim”, contou em depoimento na CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas da Câmara dos Deputados. Em janeiro de 2004, a empresa Gamecorp, do Fábio Luís da Silva, recebeu investimentos de R$ 5 milhões da Telemar.

Na quarta-feira (14/8), o banqueiro conseguiu no Supremo Tribunal Federal um Habeas Corpus que garantia o seu direito de ficar calado. Mas não deixou sem resposta nenhuma pergunta dos deputados.

Interesse do governo

Para Dantas, mais de uma vez o governo acuou os interessados na fusão da Oi-Brasil Telecom, com o objetivo de manter a BrT sob controle de uma das facções do governamentais. O banqueiro afirmou que o ex-ministro Luiz Gushiken teve interesses políticos estratégicos na BrT, no momento em que ele vendeu parte do Opportunity.

Dantas informou que em 2002 foi avisado de que seria hostilizado pelo governo Lula, que assumiria no ano seguinte. Segundo ele, não era todo o governo, mas uma facção que tinha interesse específico nas teles, citando, entre vários nomes, o do ex-ministro Gushiken.

O banqueiro relatou reunião que teve com o ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, ainda no primeiro mandato do presidente Lula. Segundo Dantas, Dirceu teria pedido que ele conversasse com o então presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, que também era conselheiro da Brasil Telecom. Dirceu “disse que o governo tinha planos diferentes para o controle da Brasil Telecom. O ministro manifestou que era uma questão societária, não era uma questão corporativa”, disse Dantas.

Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), autor do requerimento que convocou o banqueiro, Daniel Dantas passou vários recados no depoimento. Um deles foi a referência aos € 25 milhões que teriam sido distribuídos no Brasil.

Articulação do Lacerda

A Operação Satiagraha só aconteceu, segundo Dantas, por causa de articulações que teriam sido feitas pelo atual diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda. As investigações começaram em 2004 quando Lacerda era diretor-geral da PF. De acordo com Dantas, Lacerda teria direcionado as investigações contra ele, em represália à divulgação na imprensa de que ele teria contas irregulares no exterior. Lacerda pensa que ele foi a fonte do dossiê, diz o banqueiro.

“Na época, fiz vários desmentidos à imprensa e enviei carta ao doutor Lacerda. As informações vieram nesta linha e, basicamente, me lembro do termo que dizia que ele ia me botar um par de algemas”, afirmou o banqueiro. Dantas disse que sabia da investigação contra ele desde o ano passado. “Fui informado de que existia uma operação encomendada na PF contra mim. Eu não dei muita credibilidade. São muitas informações que chegam todo dia. O que diziam é que isso tinha sido pedido pelo diretor da Abin, doutor Paulo Lacerda.”

O banqueiro informou que só ficou preocupado quando Humberto Braz, seu assessor, foi seguido pela Abin. Para ele, o vazamento de dados da Operação Satiagraha teria sido de responsabilidade “da própria Polícia” ou de outras fontes. “Se eu sou corruptor, quem foi o corrompido?”, perguntou o banqueiro.

Para Dantas, toda celeuma provocada pela investigação é muito estranha e indica que “há mais coisas aí”. Daniel Dantas diz que estranhou o interesse policial numa negociação comercial privada. O banqueiro negou que tenha tentado subornar um delegado da PF. Ele enfatizou que o dinheiro encontrado pelos investigados não era do Grupo Opportunity.

De acordo com o banqueiro, o escândalo que surgiu com a Operação Chacal foi para impedir uma investigação maior pelo pagamento de propinas na compra da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). A operação, feita pela PF em 2004, investigou um esquema de escutas telefônicas clandestinas feitas pela empresa americana Kroll Associates.

Segundo o banqueiro, a BrT foi obrigada a aumentar em R$ 50 milhões sua proposta para comprar a CRT devido à proposta em desconformidade com a lei de outorga apresentada pela Telecom Itália.

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