Direitos humanos

Sociedade passa por profunda crise ética e moral

Autor

  • Fabio Brych

    é membro do Centro de Estudos em Filosofia Americana (Cefa) acadêmico do 8° semestre de Direito na Universidade Regional de Blumenau.

30 de outubro de 2007, 23h01

Sem sombra de dúvida, os direitos humanos são um dos maiores eventos da civilização. O reconhecimento efetivo destas poderia ser equivalente ao desenvolvimento dos recursos tecnológicos que hoje presenciamos enquanto grande impacto que produz no curso da vida humana, dentro de uma sociedade. A importância dos direitos humanos é dada, na medida da ação de que constitui uma ferramenta necessária frente às mais diversas atrocidades.

Nossa constituição biológica e a necessidade do materialismo faz de nossas ações meios para a satisfação, mostrando nossa fragilidade como seres vivos. A prática do uso dos homens como objeto, mostra o lado do indivíduo de modo desastroso quando levada a cabo pelos mais fortes, que tem o pleno acesso aos meios necessários a fim de submeter seus semelhantes desavantajados.

Como medicamento inventado pelo homem a fim de coibir a fonte de desgraças é o ideal referente aos direitos humanos. Desde a revolução francesa, a qualidade de ser um homem constitui um status suficiente para gozar de certos bens que são indispensáveis para cada um, seu próprio destino como independência da vontade dos outros. Partindo dessa premissa o reconhecimento dos direitos humanos é expandido através das constituições de praticamente todos os Estados independentes e também por normas internacionais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O reconhecimento legal desses direitos não impediram grandes atos atentatórios contra os mesmos, podemos citar a título de exemplo os genocídios, massacres e perseguições cruéis, além de intervenções sangrentas de grandes potências na vida de outros povos.

Fica claro que estes fatos terríveis não devem desconcentrar os lentos e inseguros avanços do que será feito em relação a isto, não podemos deixar de dar prosseguimento. Temos a função honorífica de colaborar com o correto desfecho de todos os atos.

Os valores humanos

Estamos no novo milênio, onde a ciência e a tecnologia se desenvolvem muito mais do que a existência humana interior. Porém, essas importantes e inegáveis conquistas do homem não proporcionam igual evolução no campo da ética e da moral.

Assim, o ser humano tem necessidade de trabalhar para fazer frente aos seus anseios. A atividade material homem gera até uma sadia disputa para melhor se colocar na sociedade. Os meios de comunicação, por sofisticados processos têm o poder de conduzir o homem, lhe impondo valores de forma quase mecânica. Entre estes podemos identificar a discriminação.

A grande disputa de espaços e a perene luta pelo poder brutalizam o homem, que passa a ver o seu semelhante como um oponente e competidor, descartando sua identidade de parceiro que habita nesse maravilhoso mundo que a todos agrega.

Se a sociedade é dividida entre os que “pisam” e os que são “pisados” — colocando pessoas iguais em planos diferentes — os melhores providos de meios inexoravelmente irão conduzir o destino de seus semelhantes com menos recursos. Os detentores de forte influência, considerando o poder econômico, social e demagógico conduzem as preferências de toda a sociedade. Isto não significa que esta elite detenha também as melhores fatias de felicidade e de harmonia existencial. Demos constatar a veracidade dessa afirmação à nossa volta, onde esta mesma elite compartilha os mesmos problemas dos seres “mortais”.

Se a revolta e a desarmonia fosse o único fator determinante da felicidade, somente os menos privilegiados seriam vítimas das angústias de desencontros que dirige o homem no erro. É certo que isso não significa que as pessoas menos amparadas pela sorte se encontrem na sua condição, como pretexto para justificar seus vícios e sua infelicidade. Dentro da pluralidade de indivíduos, sempre teremos uma classe rica e uma classe pobre. O que serve como linha divisória para este posto?

A sociedade passa por uma profunda crise ética e moral, isso porque a prática dos valores humanos foi esquecida. Somos seres dotados de inteligência, isto que nos diferencia dos demais animais — não questionam o passado, e também não se preocupam com o futuro na medida em que são conduzidos mecanicamente por seu instinto de conservação — temos como atributo a capacidade de distinguir o certo do errado, através do livre-arbítrio. Mas como também estamos sujeitos a natureza, as apetites, paixões e inclinações também são fatores que contribuem para dirigir nossos atos. Usando mal nossa capacidade, o critério ao utilizar a razão deve encontrar a verdade sobre si mesmo. Esse formato será de grande valia no desenvolvimento das qualidades fundamentais na realização dos valores.

Temos a energia psíquica do amor que nasce no coração humano. Além do amor instintivo, caso o homem não desenvolva o afeccio societatis, não irá sair do estágio inicial do homem apolítico. E também será muito mais grave se o mesmo não for capaz de amar os seus rebentos, sua prole.

A forma humana distingue o homem do animal não só pelos atributos inerentes, mas por aquilo que oferece e canaliza seus esforços para a consecução dos fins comuns.

Tão e somente o ser humano pode cumprir por inteiro o percurso da trajetória terrena por via do amor, da ação correta, da instigação da paz pela não-violência, porque seu destino é alcançar a meta suprema, que é o conhecimento da verdade.

A necessidade de instruir o homem e prepara-lo para desenvolver uma atividade e ocupar o seu espaço no mundo, a sociedade tem como dever também capacita-lo para o relacionamento com seu o irmão e com o mundo que o cerceia.

Hoje em dia, a distinção entre homens bons daqueles que não cultivam valores está na capacidade que têm a mostrar e desenvolver complexas conexões lógicas e racionais, e também, o convívio saudável com seu semelhante, respeitando as diferenças individuais.

Dignidade

O direito à integridade moral sintetiza a honra da pessoa, a boa fama, o bom nome e também a reputação que faz parte da vida humana e a integra como dimensão imaterial. Dentro da moral individual e seus componentes estão os atributos sem os quais o indivíduo ficaria reduzido à condição natural de pequena significação. É justamente neste ponto que o respeito assume a feição de direito fundamental.

Também ao lado do direito à dignidade, que é a espécie do gênero direito à vida, existe o direito à existência e uma série de regalias impostas pelo direito positivo. Faremos uma breve exposição acerca dos institutos citados.

Temos o direito natural de lutar pelo viver, estar vivo e defender a própria vida, e assim permanecer. Este direito espontâneo nos mostra que o respeito a vida humana é uma das maiores idéias de nossa civilização no que tange a dignidade do indivíduo.

Diante dos caracteres expostos, é inadmissível que alguém por ser soropositivo venha a ser tratado de desigual maneira em relação ao não portador, uma vez que todos são considerados seres humanos, em pé de igualdade, fato este que impede o tratamento desarmônico.

Educação

É necessária a educação, para proporcionar o crescimento do ser “como luzes para si mesmos”, e que gerem a luz para os demais como mensageiros para um mundo mais digno.

Temos esta como sendo finalidade de moldar o caráter do homem, enquanto cidadão, membro da sociedade. O fim último da educação consiste em plantar nele as potencialidades infinitas necessárias para cada momento – os valores reais da vida humana.

Uma pedra fundamental em que se deve ser construída esta educação, são todos, portadores ou não da honestidade, disciplina e respeito. A atitude de cada membro da coletividade é essencial para a efetividade, decisões objetivas e especiais. Não somos mais do que perspectivas do que supomos nossos pensamentos, palavras e ações devem ser consistentes e verdadeiros. Objetivamente, nossa conduta deve ser ilibada, mais que um exemplo, um modo de vida.

Revolução

Somos um grupo de pessoas, espalhados por todo o mundo, vinculados politicamente ou por religiões — seitas ou qualquer outra ligação, afetiva ou compulsória —, cada qual com sua parcela de contribuição nessa grande transformação que vem sofrendo o nosso planeta. Somos pessoas dentre os mais diversos fins, mas todos com o dever de contribuir para um mundo cada vez melhor, responsável pelos rumos que o ser humano e a sociedade vêm tomando.

Todos percebem que o ser humano é muito mais que a razão a ser exercitada, uma máquina que produz lucros, sobretudo também depende para o seu funcionamento pleno e harmônico, aspectos até por vezes muito mais importantes, como as energias do espírito, emoções, sentimentos humanos, demasiadamente humanos. Eles precisam ser domesticados, conhecidos e acima de tudo respeitados.

Podemos claramente reconhecer nossa união em organizações, grupos ou mesmo isoladamente na busca do auto-conhecimento, nossas forças conjuntas ou independentes entre todos e tudo no planeta, sobre os padrões de qualidade ideais para tudo isso. Produzimos nossas crenças, paradigmas, novos objetivos de vida, uma nova leitura do mundo. Sendo portador desse nível de consciência mais elevado, possuímos uma visão mais ampla do ser humano e do mundo. Estaremos vislumbrando uma grande luz que se aproxima, tem uma grande mudança ocorrendo.

Diante desta evolução, a transformação pessoal trás diretamente para o grupo — ou indiretamente para outro — isso é uma grande revolução, tem seu próprio meio, vivendo e proporcionando uma forma de vivência para todas as pessoas interessadas.

As ferramentas para o sucesso são o querer e o acreditar, pois a mudança provocada pela energia só pode vir de dentro de cada um e quando manifestada fará uma avalanche de mudanças. Dentro dessa produção utiliza-se da inclusão de forma paulatina. Não é uma sobreposição repentina, posto de imediato contra os valores do momento, mas assim, ir aos poucos dentro de uma dinâmica que ofereça uma nova abordagem e maior qualidade nos vários aspectos da questão.

Aqui estamos diante de novos paradigmas, uma necessidade para a evolução do pensamento posto. É a partir dos novos conceitos que podemos ampliar a nossa consciência, construir valores realmente humanos, que possam efetivamente utilizar o potencial do ser, trazendo ao mesmo tempo a abertura, a harmonia e interdependência em suas inúmeras ramificações e desdobramentos.

Individualismo

No mundo em que vivemos atualmente, temos dificuldade de acreditar e não entendemos como as pessoas podem agir de certas maneiras. Os acontecimentos envolvendo a atitude dos seres humanos, as aflições e as crises que dela resultam, mostram no lado do indivíduo que tende somente para si, o individual. Falamos exatamente no binômio “ter” e “ser”, termos que fazem parte do cotidiano do homem em seu ambiente político.

Você é o que você tem, o exterior domina o interior. Nossa incessante busca pelo consumo, para poder competir com os outros, cada vez mais nos torna escravos da desigualdade. Valores antes descritos por palavras como honra, dignidade, paixão, respeito são substituídos indiscriminadamente por lucro, roupa da moda, beleza física, e inúmeros outros que o dinheiro pode comprar.

A incessante corrida pelo capital trás a satisfação por fora, mas essa sensação mecânica ainda nos deixa vazios por dentro. Ficamos cada vez mais infelizes, deprimidos, recorrendo a medicamentos e tratamentos para tentar sentir-nos melhor. Tornamos-nos insensíveis e por isso não percebemos, nem respeitamos as necessidades, os sentimentos, direitos e sofrimentos alheios.

Nossa vida, nossa sociedade, quando percebermos que faltam certas atitudes, que gostaríamos de ver vivenciadas por todos, sabemos que os resultados serão positivos e beneficiarão a todos. Esqueçamos um minuto a esfera individual para um pensamento cosmopolita. A partir de então estaremos falando em valores humanos no seu mais amplo sentido.

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    é membro do Centro de Estudos em Filosofia Americana (Cefa), acadêmico do 8° semestre de Direito na Universidade Regional de Blumenau.

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